Alegria, emoção e vontade de lutar. Assim pode ser definido o clima durante todo o Encontro Nacional de Mulheres da Conlutas, que aconteceu em São Paulo (SP) entre os dias 19 e 21 de abril. Mulheres vindas de todos os cantos do país, representando entidades, minorias e oposições dos movimentos sindical, popular e estudantil, passaram por diversos obstáculos para chegarem. Ainda assim, a quantidade de delegadas e observadoras superou todas as expectativas.

Os homens trabalhadores puderam participar como observadores, com direito à fala.
Foi um encontro politizado e nitidamente classista. Os temas em debate e a qualidade das discussões evidenciaram isso. A mesa de abertura teve a participação de representantes de entidades e movimentos que fazem parte da Conlutas: Rosângela Calzavara, do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), Dayse Oliveira, do GT de Negros e Negras da Conlutas, Myrela Leitão, do GT de GLBT, Camila Lisboa, da Conlute, Vera Nepomuceno, da Conlutas do Rio de Janeiro e diretora do Sepe, Maria Inês Marques, do Andes-SN, Valdirene Barbosa, do acampamento Pinheirinho de São José dos Campos, Maria da Conceição Martins, do Sindicato dos Gráficos de Minas Gerais, e Maria de Santana Costa, do Sindicato da Confecção Feminina de Fortaleza (CE).

Encontro histórico
Rosângela, bastante aplaudida, denunciou o machismo e a exploração vivida pelas mulheres metalúrgicas, contando sua própria experiência na dura realidade das fábricas. “Numa das fábricas em São José, é interessante que todas as operárias fumam, porque é o único momento em que podem descansar as mãos”, afirmou.

Atenágoras Lopes, falando em nome da Conlutas, denunciou o machismo, que atinge também os homens da classe trabalhadora. “O machismo é uma arma do capitalismo para dividir a classe. As mulheres, além do machismo do capitalismo, têm de enfrentar o machismo de seus próprios companheiros, gente como nós, que não estamos livres disso”, afirmou. Ele ressaltou a importância do encontro para a preparação do I Congresso da Conlutas em julho, assim como a luta contra o machismo na batalha pelo socialismo.

Cecília Toledo fez uma saudação em nome da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI), realçando o caráter internacionalista do encontro. Cecília também leu uma saudação das professoras da cidade argentina de La Matanza. Ela lembrou a luta das mulheres egípcias e haitianas na luta contra o aumento dos preços dos alimentos e a fome.

Conjuntura
A tarde do primeiro dia foi dedicada ao debate sobre conjuntura internacional e nacional. A mesa foi composta pelas diversas correntes políticas que atuam no GT de Mulheres da Conlutas, expressando a diversidade de opiniões no interior da Coordenação.

Vanessa Portugal, da Conlutas de Minas Gerais, e Zeza, da Oposição Alternativa da Apeoesp e da ALS (Avançar a Luta Socialista), coordenaram a mesa. Participaram do debate Luci, da FOS (Frente de Oposição Socialista) e da Oposição Unificada da Apeoesp, Jane, da corrente SR (Socialismo Revolucionário) do PSOL, Flávia, da corrente LER-QI (Liga Estratégia Revolucionária), Rosane, da ocupação Zumbi dos Palmares do Rio de Janeiro, e Mariúcha Fontana, da direção nacional do PSTU.

Um dos principais temas discutidos foi o impacto das reformas neoliberais na realidade das mulheres. “A reforma da Previdência ignora a dupla jornada das mulheres”, denunciou Jane, que ainda criticou a opressão vivida pelas mulheres nos locais de trabalho.

“Fomos para as fábricas, para o setor público, enfim, para o mercado de trabalho, mas em condições extremamente precarizadas e com dupla jornada”, afirmou, conclamando a unidade da esquerda. “Precisamos unir a esquerda tanto do ponto de vista sindical quanto eleitoral”, disse, citando a “tarefa histórica do GT de Mulheres”.

Ganhar as mulheres para o socialismo foi o centro da fala de Mariúcha Fontana. A dirigente do PSTU afirmou que o encontro tem não só uma grande importância nacional como também internacional, sendo parte da preparação para o I Congresso da Conlutas e do ELAC (Encontro Latino-Americano e Caribenho dos Trabalhadores).

Lembrando a crise econômica que já toma conta dos EUA e que deve atingir o país, trazendo cada vez mais ataques à classe trabalhadora, Mariúcha falou sobre a importância da construção de uma alternativa de luta: “é nossa tarefa levar adiante a construção de uma alternativa da classe para as lutas imediatas e históricas”.

Nessa perspectiva, “não é secundário a Conlutas ter uma política para os setores oprimidos, entre eles as mulheres”, uma vez que o imperialismo e o governo utilizam a opressão para explorar ainda mais a classe trabalhadora, dividindo-a. Fontana criticou ainda as correntes que se negam a ter uma política para o setor, assim como a tradição stalinista, que se nega a levar uma política contra a opressão “para não dividir a classe”.

“É impossível acabar com a opressão sem acabar com a exploração, e para isso tem que acabar com o capital”, disse, denunciando o machismo existente dentro da própria classe trabalhadora. Mariúcha terminou seu discurso chamando as ativistas a avançar num movimento classista de mulheres, a fim de oferecer uma alternativa da classe para as mulheres. “Queremos as mulheres nas trincheiras da luta pelo socialismo”, conclamou, sendo efusivamente aplaudida.

Exemplo de democracia
Parte significativa do encontro foi dedicada aos debates em grupos. Daí saíram as propostas de resoluções para serem votadas em plenário.

Houve 11 grupos de discussão de diferentes temas: Mulher no Trabalho; Mulher nos Movimentos Sociais/a Mulher no Campo; Descriminalização e Legalização do Aborto; Violência contra a Mulher; Mercantilização do Corpo da Mulher e Formação Cultural e Ideológica das Mulheres na Sociedade Capitalista; A Mulher no Movimento Sindical; A Mulher Lésbica; A Mulher Jovem; A Mulher Negra; Gênero e Classe.

Resgatando também o caráter classista na democracia operária, as polêmicas foram discutidas, defendidas e votadas na plenária final.

Como última proposta, tivemos a criação de um movimento classista de mulheres, como alternativa de organização às entidades governistas e de conciliação com a burguesia.

As mulheres presentes no encontro aprovaram a construção do movimento pela base, organizando reuniões nos locais de trabalho e discutindo suas pautas de reivindicações.

“Esse encontro reflete o trabalho que temos desde o Macapá até o sul do país. O movimento que propomos não vai vir de cima, cada uma que está aqui volte para as bases e discuta com suas companheiras”, salientou Ana Rosa Minutti, da Secretaria de Mulheres do PSTU.

Vitória para os trabalhadores
O clima ao final do encontro era de alegria e vitória. Cantando palavras de ordem feministas e socialistas, as participantes voltaram para suas regiões com a perspectiva de oferecer uma alternativa que realmente sirva às necessidades das mulheres trabalhadoras.

As mulheres subiram no palco e comemoraram cantando e dançando. Um momento emocionante foi quando cantaram “A Internacional”. “À opressão não mais sujeitos / somos iguais todos os seres / não mais deveres sem direitos / não mais direitos sem deveres”, diz um trecho do hino da classe trabalhadora mundial.

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