A quinta-feira, 4 de agosto de 2011, já pode ser considerada um dia histórico para a Universidade Federal do Paraná. Neste dia, aconteceram assembléias das três categorias da comunidade universitária: Servidores técnico-administrativos, servidores docentes e estudantes, todas tendo como principal ponto de pauta a greve das categorias.

Durante a manhã, os servidores técnico-administrativos, que estão em greve há quase três meses, deliberaram pela não abertura dos setores que estão fechados e que continuarão fechando os que ainda permanecem abertos. Esta é a contrapartida oferecida pelos técnicos em relação à decisão da Reitoria e do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CEPE) de adiar o início das aulas para este dia 08, com a clara postura de não apresentar uma proposta de negociação, além de forçar pelo fim da greve. A base foi categórica em relação a esta proposta e defendeu que quem deve definir pelo fim da greve é a categoria, rechaçando a postura dos conselhos superiores e da reitoria.

À tarde, a Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR) encaminhou a assembléia dos docentes, com a proposta de discutir a construção da greve da categoria. As falas foram unânimes no sentido da necessidade de se construir a greve, com total apoio e respaldo dos servidores técnico-administrativos. Os encaminhamentos apresentados apontavam no sentido de se aprovar logo de início o “indicativo de greve” da categoria, que diferentemente de “construção da greve”, é um passo mais avançado para a deflagração da greve.

A mesa encaminhou a votação do indicativo e a plenária aprovou com ampla maioria dos cerca de 250 professores presentes. Para a deflagração da greve serão realizadas assembléias nacionais da categoria, a ser encaminhada pela ANDES (Associação Nacional dos Docentes de Ensino Superior). A greve dos docentes, que vem sendo construída nacionalmente, já surge fortalecida com ampla disposição pela base da categoria na UFPR.

Pela noite, logo após a assembléia dos professores, aconteceu no Restaurante Universitário Central da UFPR a assembléia dos estudantes. Nela estiveram presentes cerca de 500 estudantes que apresentaram suas pautas de reivindicações, solidarizando-se e somando forças aos técnicos e docentes, através da aprovação da greve da categoria. Esta assembléia comprovou o sentimento de unidade das três categorias em torno à reivindicação de uma pauta comum.

A luta dos servidores técnico-administrativos, docentes e estudantes é a mesma!O movimento de greve dos docentes e dos estudantes já nasce fortalecido pela greve dos servidores técnico-administrativos que, para além da campanha salarial, lutam pela manutenção dos serviços públicos, expressando-se na luta contra os projetos de lei do governo que vêm no sentido de atacar e precarizar cada vez mais as condições de trabalho e a estrutura da universidade.

Os mecanismos de ataque do governo se expressam nos seguintes projetos de lei:

  • PL 549/2009: que prevê o congelamento salarial dos servidores universitários por 10 anos;
  • PL 248/2009: que estabelece regras de demissão de servidores;
  • PL 1749/2011: que cria a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S.A. (EBSERH), numa clara tentativa de privatização dos hospitais universitários;
  • PL 1992/2007: que impõe prejuízos ainda maiores em relação às aposentadorias da geração de trabalhadores que ingressou nas universidades a partir de 2003;

    A unidade das três categorias em torno à luta contra estes projetos é mais do que necessária, dado que todos saem perdendo com a política do governo que, claramente, não está ao lado dos trabalhadores. A política econômica do governo Dilma Rousseff, como expressão da continuidade dos governos Lula e FHC, não se omite em mostrar seus reais interesses, ou seja, a privatização e a precarização dos poucos serviços públicos de relativa qualidade que ainda existem, como as universidades públicas e os hospitais universitários federais e estaduais.

    O lado escolhido pelo governo nesta batalha está bastante claro para a comunidade universitária, ou seja, Dilma optou pelos interesses dos mercadores do ensino e da saúde, que precisam de condições mais flexíveis para poder melhor explorá-los, aumentando seus lucros cada vez maiores.A eleição da presidente Dilma Rousseff, que se deu em base à promessa de “erradicação da miséria”, iniciou o mandato com um reajuste irrisório de 6,8% ao salário mínimo. Em compensação, teve seu salário reajustado em 132%, enquanto os parlamentares obtiveram reajuste de 62%.

    Outra medida tomada pelo governo e que ataca diretamente os trabalhadores foi o corte de R$ 50 bilhões do Orçamento da União, onerando profundamente a educação e a saúde, tidas como suas “prioridades” na campanha eleitoral. Através desta medida, somente a educação perdeu R$ 3 bilhões. Ou seja, os investimentos em educação que, sob o governo Lula em 2010, foram de apenas 2,59% do orçamento, sofreram uma redução gigantesca com o corte do início de 2011. Por outro lado, o governo usará, neste mesmo ano, quase metade do orçamento para pagar os juros da dívida pública.

    Além disso, no dia 2 de agosto o governo lançou o Plano Brasil Maior, que nas palavras de Dilma Rousseff será “uma cruzada em defesa da indústria brasileira diante do mercado internacional que muitas vezes tem ações desleais e predatórias”, provendo isenção fiscal às grandes empresas “nacionais” e ocasionando um corte de arrecadação de cerca de R$ 25 bilhões em dois anos. Por trás do discurso “nacionalista” do governo existe um fato oculto: a indústria brasileira já está desnacionalizada. Desta forma, o IPI que o governo vai deixar de arrecadar com a indústria automobilística vai beneficiar as grandes multinacionais instaladas no país, sem qualquer tipo de contrapartida em benefício dos trabalhadores.

    Jornada Nacional de Lutas: a necessidade de unificar os lutadores!
    Como forma de unificar os diversos setores em luta pelo Brasil está agendada a Jornada Nacional de Lutas, entre 17 e 26 de agosto. CSP-Conlutas, CNESF, COBAP, ANEL, Condsef, MTL, MTST, MST, UST, Intersindical e diversas outras entidades buscam mobilizar os trabalhadores de todo o país em torno a uma plataforma ampla de reivindicações. A jornada deve se apoiar nas campanhas salariais em curso, mas já coloca como necessidade o enfrentamento contra a política econômica do governo Dilma.Portanto, é necessário que se avance na organização de atividades na UFPR que se incorporem à Jornada Nacional de Lutas, como forma de dar maior visibilidade à greve e no intuito de avançar na negociação das pautas de reivindicações. Um dos encaminhamentos da Jornada é a “Marcha à Brasília”, para 24 de agosto, que já conta com o envolvimento do comando de greve dos servidores técnico-administrativos. Os estudantes e docentes estão convidados a se somarem à organização desta Marcha e das atividades da jornada na UFPR.

    FONTE: blog PSTU Curitiba