A marcha foi sem dúvida alguma uma grande vitória de todos que depositaram as suas forças para construí-la. Não foi, portanto, só uma vitória da Conlutas, mas também da Intersindical, das Pastorais e demais organizações presentes. Exatamente por isto, não podemos nos furtar de opinar sobre uma atitude de desrespeito ao conjunto dos ativistas que foram a Brasília.

Houve um acordo entre todas as entidades de que a marcha teria um ato principal em frente ao Ministério da Previdência e seguiria depois com atos no Congresso, nos Ministérios da Educação e Cidades.

Porém, o carro de som do PSOL, infelizmente, resolveu passar por cima destes acordos. Ainda no meio do ato em frente ao Ministério da Previdência, quando falaria Valdemar Rossi, da Pastoral Operária, o carro de som do PSOL resolveu romper a marcha unitária e ir para o Congresso. Diante da reação negativa dos presentes, inclusive de uma parte importante da base do PSOL, a ruptura foi momentaneamente bloqueada. No entanto, imediatamente depois da última fala, e antes mesmo que o carro de som principal encaminhasse a continuidade das atividades (quando todos seguiram para o Congresso), o carro de som do PSOL rompeu a unidade, partindo em bate boca com o carro de som principal. Tal fato gerou uma enorme indignação nos ativistas, inclusive em setores do PSOL que não acompanharam este movimento de sua direção.

Para evitar mais problemas para a marcha conjunta, a direção da Conlutas no carro de som principal registrou seu desacordo, mas pediu para que se abrissse caminho para o trio elétrico do PSOL, e encaminhou a continuidade da atividade. Em frente ao Congresso, houve discursos dos dois carros de som, uma parte dos ativistas ocupou por alguns minutos o espelho d’água, se fez a atividade contra a transposição do São Francisco e acabou a marcha. Como não se manifestaram grandes diferenças alí, ninguém entendeu a atitude de ruptura da direção do PSOL.
Em uma matéria no site do PSOL, Martiniano Cavalcante, o dirigente do PSOL que comandou o carro do som que rompeu a marcha, rompe também com a verdade ao dizer que não estava prevista uma atividade conjunta no Congresso após o ato no ministério. Acrescenta que “os companheiros que aprovaram e implementaram este roteiro pretendiam esvaziar a manifestação tão reivindicada pelo PSOL”.

Todos os que participaram das reuniões de preparação da marcha podem responder a esta inverdade. A atividade não só estava prevista como foi objeto de acordo entre todas as forças, incluindo o PSOL. Como a direção do PSOL não pode explicar a atitude rupturista, falta com a verdade para poder defender o indefensável.

Valdemar Rossi, escreveu indignado um artigo sobre isso, em que afirma: “Sem dúvidas, os representantes do PSOL prestaram um desserviço à luta de resistência da classe trabalhadora, praticando profundo desrespeito aos milhares de participantes”.
Existe uma explicação política para semelhante erro da direção do PSOL. Este partido se caracteriza por privilegiar a atividade parlamentar sobre as lutas diretas. Durante a marcha, o carro de som do PSOL puxava seguidamente a palavra de ordem: “saúde, educação, Heloísa Helena presidente da nação”. O eixo atual deste partido é a “ética na política”, reeditando, a nosso ver, uma prática petista de antes do governo Lula. Tinham como centro o “Fora Renan” no Congresso Nacional e não a luta contra a reforma da Previdência. Houve um acordo entre todos os setores que organizaram a marcha de ter como um dos temas da marcha a luta contra a corrupção, mas não de que este seria o eixo principal. O PSOL tentou mudar este eixo na marra, passando por cima de todos.

Independentemente das diferenças políticas, deve-se buscar a unidade na ação entre as distintas forças, o que pressupõe uma atitude leal e respeitosa. Essa postura dos companheiros em nada auxilia a criação desse clima de respeito.

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