O que é e como atua a ‘boliburguesia´Infelizmente dos defensores do socialismo chavista esqueceram muitas das lições do marxismo. Uma delas é a de que o socialismo significa o fim da classe dos proprietários dos meios de produção.

Na Venezuela, não só as multinacionais do petróleo seguem mandando na economia, como está surgindo uma nova e emergente classe dominante: “boliburguesia”. Esse setor surge a partir de ações parasitas e da corrupção do Estado, agindo como intermediários dos seus negócios com empresas privadas e multinacionais. Outros ainda enriquecem a partir da especulação da crise inflacionária vivida no país.
Victor Vargas é um integrante dessa burguesia emergente e hoje faz parte da associação de empresários “socialistas bolivarianos”.

Publicamos um artigo do “The Wall Street Journal”, um dos mais importantes periódicos imperialistas, que mostra como, sob o governo Chávez, esta burguesia vem enriquecendo e mantendo seu alto padrão de vida.

Um banqueiro que prospera com Chávez
Víctor Vargas é um banqueiro amante de pólo, tem seis casas e uma frota de jatos de luxo. Alguém esperaria vê-lo com problemas na Venezuela de Hugo Chávez, que jura construir uma sociedade sem classes.

Sem dúvida, Vargas, de 55 anos, continua prosperando. Seu Banco Occidental de Descuento está se expandindo em meio de um auge econômico impulsionado pelo petróleo. Igual a outros banqueiros, ele tem lucrado com a avalanche de dívidas emitida pelo governo. Os anos de Chávez fizeram muito pouco para frear o amor que Vargas tem pela riqueza.

“As pessoas escrevem histórias sobre mim dizendo que tenho uma Ferrari, um avião e um iate”, disse ele numa entrevista em uma de suas casas, que fica no milionário bairro Country Club em Caracas. “No entanto, não é verdade. Tenho três aviões, dois iates, seis casas. Fui rico por toda minha vida!”, disse.

Casamento de luxo
Vargas, um homem desportivo e meticuloso, está prosperando sem apreciar apenas das receitas socialistas de Chávez. Um exemplo foi a festa de matrimônio que organizou para sua filha, em sua mansão na República Dominicana, da qual participaram mais de mil convidados. O jantar foi preparado pelo exclusivo restaurante Le Cirque de Nova York e o entretenimento musical ficou por conta de Juan Luís Guerra. O noivo, Luís Alfonso de Borbón, é bisneto do ditador espanhol Francisco Franco.
A lista de convidados ao casamento ilustra a destreza de Vargas na hora de cultivar contatos em todo espectro da polarizada sociedade venezuelana. Assistiram a cerimônia altos funcionários de Chávez e figuras da oposição, como Manuel Rosales, que foi candidato presidencial em 2006.

O êxito de Vargas ressalta a durabilidade da elite do país, sem importar quem esta no poder. “A Venezuela tem desenvolvido uma cultura empresarial especial, onde o jogo tem lugar em meio a uma alta inflação e outras distorções”, disse Gilbert W. Merks, que dirige o Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Duke. “Alguém pode ficar muito rico ou perder muito dinheiro neste jogo, e sempre se complica mais na medida em que distorções se agravam”.

Nestes momentos, o jogo está em pleno desenvolvimento. Venezuela lidera o hemisfério ocidental com uma inflação anual de 22,5%. A moeda local perdeu a metade de seu valor nos últimos doze meses, apesar do mercado negro de dólares florescer. Para prevenir a fuga de capitais, Chávez impediu as transferências internacionais de dinheiro e proibiu a imprensa de mencionar o mercado negro. Por isso agora alguns falam do “o mercado que não pode ser mencionado”.

Jogar com o mercado
Os banqueiros estão acumulando muito dinheiro ao aproveitar a enorme brecha entre as taxas de câmbio oficiais e as do mercado negro. Uma maneira de fazer isso é comprar bônus do governo denominados em dólares, que têm a taxa oficial de 2,15 bolívares fortes por dólar, e revende-los aos investidores a preços que se aproximam da taxa do mercado negro, que é de 5,50 bolívares forte por dólar. Em meio ao auge econômico, os lucros do grupo de Vargas quase triplicaram desde 2002 para alcançar os US$ 150 milhões.

No entanto, fazer negócios sob o governo Chávez não é sempre fácil e acarreta em riscos. O presidente expropriou participações majoritárias em vários consórcios petroleiros – incluindo um que pertence a Vargas – e rotineiramente ameaça expropriar outras indústrias.

Vargas disse que sua estratégia de sobrevivência é ser um agnóstico em relação à política. Em 2002, ajudou a convencer outros banqueiros a não se unirem às greves encabeçadas pelas empresas que buscavam a saída de Chávez do poder. Como presidente da Associação Bancária da Venezuela, contribuiu para negociar as regulações do setor. “Um homem de negócios tem que lidar com seu governo, sem importar quando ele é de direita ou de esquerda”, disse Vargas.

Seus contatos nas altas esferas do governo levaram seus detratores a dizer que ele, de repente, se tornou rico como “o banqueiro de Chávez”. Vargas responde dizendo que só se encontrou duas vezes com o presidente e que, além disso, sempre foi rico. Há duas décadas, Vargas possui a mansão na República Dominicana.

Vargas é filho de um doutor e da primeira juíza da Corte Suprema da Venezuela. Sendo jovem, ele se casou com uma mulher pertencente a uma das famílias mais influentes do país – o clã Santaella.

Em que pese sua fortuna e amor pelos iates e aviões particulares, Vargas se diz um homem humilde que se preocupa profundamente com a Venezuela. Opera três fundações que ajudam os pobres. Disse que fala com seus guarda-costas e choferes da mesma forma como fala com seus sócios. Os empregados de seu banco recebem aumentos salariais todos os anos, exceto aqueles que deveriam ser despedidos: “Sou um socialista no sentido real da palavra”, disse.