Um dos fatos que marcaram 2007 foi o reaquecimento do movimento estudantil, que sacudiu a poeira e retomou o seu lugar na luta. A tempestade de mobilizações que varreu o ano já começava a se formar no final do ano passado. Ainda em dezembro de 2006, era formada a Frente de Luta Contra a Reforma Universitária. Reunindo os lutadores da Conlute, da FOE (Frente de Oposição de Esquerda) e independentes, a Frente prometia ampliar a mobilização a partir da construção de uma ampla unidade contra a reforma. E cumpriu sua promessa.

Em 26 de março, a Frente de Luta Contra a Reforma realizou junto ao ANDES-SN a “Plenária Nacional Contra a Reforma Universitária e em defesa da Educação”, que contou com mais de mil estudantes e preparou um calendário de luta junto aos trabalhadores.

A partir daí, várias lutas foram se desenvolvendo. Do lado de cá, atos nos bandejões da UFMG e UFU, ocupação da reitoria da Unicamp, passeata pelo passe-livre no Rio etc. Já do lado de lá, os governos estaduais e federal trabalhavam duro para acabar com a universidade pública.

Primeiro foi o governador de São Paulo, José Serra (PSDB) que, já no começo do ano, decretou o fim da autonomia das universidades estaduais paulistas. Lula gostou e copiou. Também por decreto, estabeleceu o Reuni, visando transformar as Universidades Federais em “escolões“ de terceiro grau, sem qualidade de ensino nem pesquisa e extensão.

Quem disse que sumiu?
Mas antes mesmo que a moda de Lula e Serra pegasse, o movimento entrou em ação como há anos não se via. A ocupação da reitoria da USP durou mais de 50 dias, realizou atos e assembléias com milhares de estudantes, desencadeou uma das maiores greves estudantis já vistas e derrotou a maior parte dos decretos do Serra. Como se isso não bastasse, ao abrir a porta da reitoria, os estudantes da USP abriram caminho para a juventude de todo o país.

A partir daquele momento, alguma coisa mudou. Pouco tempo depois, as ocupações se expandiram por todo o Brasil como rastilho de pólvora. Desta vez o alvo era Lula e seu decreto do Reuni.

Na USP derrotamos a maior parte dos decretos além de conseguir uma série de pautas específicas. Já nas federais, adiamos a aprovação do Reuni para o segundo semestre. Já tinha até dia certo para a batalha, mas governo e reitorias marcaram e desmarcaram a data para aprovar o decreto, e na hora H sobrou cacetete e faltou democracia.

Foi impressionante o aparato de guerra para aprovar o Reuni. Teve polícia federal e militar, reitoria fazendo Conselho escondido, fora da universidade, cortando fala de Conselheiro Estudantil. E é claro, muita porrada. Dizem que no Rio, ameaçaram chamar o Capitão Nascimento. Mas boatos à parte, a verdade é que desde a ditadura militar não víamos o movimento estudantil ser reprimido assim.

Mas a luta continuou com o movimento das pagas entrando em ação. Uma greve histórica na Fundação Santo André (SP) e a ocupação da reitoria da PUC-SP mostraram que a turma que paga mensalidade não vai ficar pra trás. Barramos o Redesenho Institucional na PUC e o aumento de mensalidades na Fundação, mas a briga continua até a queda do Reitor. Nas públicas tivemos vitórias importantes, como a não aprovação do Reuni na Universidade Federal Fluminense e o cancelamento do Consuni na Federal do Maranhão e do Ceará. E para o governo não dormir tranqüilo, fizemos uma grande marcha em Brasília e hasteamos a bandeira da Conlute no MEC. Precisa dizer mais?

Amanhã vai ser maior!
Se 2007 foi grande, nós vamos fazer de 2008 muito maior. Primeiro porque iremos partir de um grau maior de organização e de acúmulo de debates com os estudantes. Não podemos esquecer que 2007 começou com a esmagadora maioria dos DCE’s do país nas mãos dos governistas, e que agora esses DCE’s voltaram para a luta. A retomada dos DCE’s começou na UFG, depois UFU, UFRPE, UFMG, UFSC, UFPR, UnB, USP, UFRJ e muitos outros.

Em segundo lugar porque, apesar do Reuni ter sido aprovado, o movimento não está derrotado e segue disposto na luta, com a diferença que agora a maioria dos estudantes das federais está contra o Reuni, ao contrário do início do ano, quando nem sabiam do que se tratava. Mas, para que possamos sair vitoriosos, será preciso encarar esses ataques como um plano operado desde o governo federal com o apoio dos governos estaduais, os tubarões de ensino e as reitorias.

Para tanto, precisamos avançar na construção de um calendário que unifique nossas lutas. Nesse sentido, será fundamental que organizemos em todas as universidades do país a Calourada Nacional Unificada aprovada pela Frente. Em seguida, a semana do histórico dia 28 de Março será palco de mobilizações organizadas em todo o país pela Frente de Luta, e logo depois precisamos preparar um grande Plebiscito Nacional contra o Reuni e a reforma universitária.

Através dessas iniciativas poderemos abrir diálogo com milhares de estudantes, atrair vários deles para o movimento e criar as condições para realizarmos uma grande greve nacional da educação, unificando estudantes, professores e funcionários.

Um novo movimento estudantil!
Em cada ocupação, assembléia, greve, ou eleição de DCE, os estudantes começaram a forjar um novo movimento estudantil. Mobilizações que ousaram reinventar a forma dos estudantes se colocarem em movimento, e que resgataram aquilo que de melhor o movimento estudantil já produziu até hoje. Combatividade, democracia e defesa dos interesses da juventude e dos trabalhadores são as marcas de um novo movimento.
Enquanto os estudantes lutavam em defesa da universidade pública, a União Nacional dos Estudantes cumpria um papelão. Sua presidente, Lúcia Stumpf, dava declarações à imprensa condenando a mobilização dos estudantes, acusando as ocupações de reacionárias e autoritárias. Não contente em declarar apoio ao Reuni de Lula e repúdio ao movimento estudantil, a UNE resolveu colocar o time em campo. Em dezenas de universidades do país a UNE tentou voltar os estudantes contra as ocupações. Na UFRJ chegaram ao absurdo de agredir os estudantes para impedí-los de barrar a aprovação do decreto. Mas não conseguiram muitos efeitos. A verdade é que o novo movimento está surgindo, e a velha burocracia não pode contê-lo.

Foi possível lutar sem uma entidade nacional, mas, sem sombra de dúvida, a luta avançará muito mais e melhor com uma entidade nacional. Por isso, está colocada uma tarefa para o novo movimento estudantil em 2008: construir um grande Congresso Nacional de Estudantes que possa forjar uma nova entidade. Uma entidade que deve ter a cara do movimento que estamos construindo, amplamente democrática, construída pela base e de luta.

Post author Emiliano Soto, da Secretaria Nacional de Juventude do PSTU
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