Fatos mostram como os setores xenófobos, racistas, machistas e homofóbicos estão avançando no país

No dia 22 de março, a Polícia Federal prendeu dois homens em um hotel na capital do Paraná. Emerson Eduardo Rodrigues e Marcelo Valle Silveira Mello editavam, há anos, um blog com conteúdo declaradamente de direita, racista, homofóbico e misógino, com direito a uma série de ameaças explícitas e incitação à violência contra esses setores.

Nos dias anteriores à prisão, ameaçavam na Internet um atentado contra os alunos de Ciências Sociais da Universidade de Brasília. Emerson morava em Brasília e já havia se envolvido em outros casos de agressão, incluindo aí ameaças contra uma então militante do PSTU. Mapas da universidade encontrados com os homens detidos, além de R$ 500 mil na conta de Emerson, um técnico de informática, levam a crer que a ameaça aos estudantes não se limitava ao plano das ideias.

Em uma das últimas postagens do blog antes das prisões era possível ler a seguinte mensagem: “A cada dia que se passa fico mais ansioso, conto as balas, sonho com os gritos de vagabundas e esquerdistas chorando, implorando para viver. Vejo o sangue para tudo quanto é lado, manchando uma camiseta com o logotipo do PSOL/PSTU”. Uma ameaça clara e endereçada.

Mensagens de apoio dos dois ativistas da ultradireita à chacina de Realengo em 2011 no Rio provocam suspeitas, inclusive, de uma possível articulação com o Wellington de Menezes, o autor do crime que comoveu o país e deixou 12 crianças mortas. Dez meninas e dois garotos.

O PSTU na mira
A Polícia Federal acredita que os planos da dupla incluíam o massacre contra os estudantes da UnB e uma posterior fuga, de volta a Curitiba. Uma tragédia que por pouco não aconteceu, apesar de há muito ter sido anunciada. E o pior é que isso está longe de ser um fato isolado.

Alguns dias depois da ameaça dos neonazistas ao PSTU, o colunista da “Veja” , Reinaldo Azevedo, publicou em seu blog um texto que ataca o partido, chegando a pedir a extinção da sigla e a prisão de seus dirigentes. No post, o articulista resgata um texto publicado no Portal do PSTU, em 2009, sobre a resistência palestina aos sucessivos ataques de Israel, a fim de acusar o partido de ‘racismo’ contra os judeus.

O jornalista destaca a seguinte parte do texto, a fim de provar sua tese de ‘racismo’: “Assim, para a pergunta ‘o que fazer com o Estado colonial sionista’, só há uma resposta: a sua destruição. Os atalhos apenas nos levam a um ponto mais longínquo de uma sociedade definitivamente pós-sionista, portanto, laica, democrática e não-racista”. Azevedo acusa o PSTU de estar com “Ahmadineja, Hamas e Hezbollah”.

O colunista da Veja omite, conscientemente, outra parte do artigo que defende “a convivência de diversos povos, independente das suas crenças e origens étnicas”. Reinaldo Azevedo chega então a relacionar o artigo com o recente ataque terrorista na França, afirmando que o partido e Mohammed Merah, autor do atentado, “queriam a mesma coisa”. A manobra é evidente: igualar o PSTU ao terrorismo e justificar as ameaças dos nazistas brasileiros ao partido.

A última frase do post do colunista deixa explícita sua intenção, ao incentivar a prisão dos dirigentes do partido: “o autor e a direção do partido ainda estão soltos. Por quê?”. Momentos depois, começaram a chegar mensagens de ameaça ao Portal do PSTU.

Calúnias
A acusação de ‘racismo’ e de ‘judeufobia’ é um ataque recorrente de setores sionistas contra os que se colocam contra a política genocida de Israel e seu apartheid em relação aos palestinos. É um artifício utilizado pelo Estado israelense como uma espécie de salvo-conduto para legitimar suas atrocidades. Para isso, igualam sionismo com judaísmo. A primeira, porém, é uma ideologia nacionalista e de direita sobre a qual se baseou a formação do Estado de Israel, e nada tem a ver com religião.

Reinaldo Azevedo, porém, não é bobo. Sabe muito bem a diferença entre os dois e é consciente disso quando resgata um texto publicado há mais de três anos para atacar o partido. Justifica a ação desse grupo e o utiliza para atacar o partido. Os dois neonazistas querem ver sangue em cima da camiseta do PSTU. O jornalista da “Veja”, por sua vez, quer ver o partido na clandestinidade e a sua direção na cadeia,

A ultradireita se alvoroça
Os ataques e demonstrações mais recentes da ultradireita não são um raio em céu azul. A atuação dos grupos organizados neonazistas ocorre em meio a um ambiente político formado por ações de Estado com o claro caráter de higienização social, tal como o avanço de setores reacionários. A burguesia no país, hoje, não está empenhada em ações terroristas por fora da legalidade. Mas abre brecha para a ação de grupos que estão.

Assim, políticas como a do estado de São Paulo e da prefeitura da capital, que culminaram no bárbaro despejo do Pinheirinho e na repressão à região conhecida como ‘Cracolândia’, ou a atuação da bancada evangélica e sua cruzada contra o aborto e os direitos dos homossexuais, mulheres e negros, acabam servindo como combustível a esses grupos.

A ultradireita acaba se tornando a expressão extrema e por fora da legalidade desse tipo de pensamento conservador. Ela, então, mostra a sua cara e planeja ações cada vez mais ousadas. O que fazer frente a isso? A eleição para o DCE da USP e as mobilizações contra a Ditadura Militar ajudam a indicar o caminho. Na maior universidade pública do país, as principais correntes de esquerda se uniram para derrotar uma chapa da direita, que concorreu com o sugestivo nome de ‘Reação’. A chapa se formou após a violenta desocupação da reitoria da USP pela PM e defendia a permanência da polícia no campus, contando inclusive com apoio aberto de Reinaldo Azevedo. Sofreram uma derrota acachapante em uma eleição com quórum recorde de 13 mil votos.

Já no aniversário de 48 anos do Golpe Militar ativistas realizaram uma série de manifestações sem precedentes exigindo apuração dos crimes cometidos pelo Estado nesse período e a punição aos assassinos e torturadores. No mais significativo deles, a mobilização ocorreu em frente ao Clube Militar, cujos sócios haviam marcado um ato de comemoração da ditadura.

Nas ruas e no movimento, os ativistas deram um recado claro e mostraram como combater o avanço da ultradireita: ‘Não passarão’.