Após meses de discussões entre as direções do PSOL, PCB e PSTU, aproxima-se a definição sobre a concretização ou não de uma frente para as eleições de outubroAs eleições devem ocorrer em uma conjuntura marcada por uma falsa polarização entre os dois blocos majoritários, PT e PSDB-PFL. A formação de uma frente eleitoral, classista e socialista teria grande importância para apontar um terceiro campo, dos trabalhadores, contrário aos dois blocos burgueses.

Infelizmente, apesar de todos os esforços unitários do PSTU, a direção do PSOL está impondo obstáculos que ameaçam a construção da frente. A Conferência do PSOL será entre os dias 26 e 28 de maio. Esperamos que se faça uma correção destes problemas. Logo depois, o PSTU definirá sua posição.

Não podemos repetir o programa do PT
Dois temas de programa foram debatidos. Felizmente, em um deles chegamos a um acordo, mas em outro não.
O primeiro diz respeito ao imperialismo. Depois de uma discussão, chegamos a um acordo ao redor da ruptura com o imperialismo e por uma campanha contra o pagamento das dívidas externa e interna, a partir da iniciativa da campanha do Jubileu Sul sobre a dívida externa.

No segundo tema não houve acordo, ao menos até agora. O eixo do programa apresentado pelo Diretório Nacional do PSOL é o mesmo definido pelo PT em seu XII Encontro Nacional, em 2001, que preparou a campanha de Lula em 2002. Ambos defendem uma “revolução democrática”.

O PT dizia: “O modelo de desenvolvimento comandado pelo governo democrático e popular estará sustentado num novo contrato social, fundado num compromisso estratégico com os direitos humanos, na defesa de uma revolução democrática no país.” (resolução XII Encontro, p. 30).

A direção do PSOL defende: “É por isso que, nas condições atuais, em oposição ao poder vigente apodrecido, o P-SOL deve apresentar através da candidatura de Heloísa Helena, uma saída para a crise; ela deve ser apresentada com toda energia, como instrumento de uma verdadeira revolução democrática”.

Não estamos de acordo em ter como estratégia a democracia, precisamente a democracia burguesa. Isto já levou o PT ao desastre, e não concordamos em seguir o mesmo caminho. Seguimos defendendo a revolução socialista.

Hoje existe uma enorme desconfiança na democracia burguesa que governa o país. Trabalhadores e jovens repudiam os “políticos” em função da corrupção. Irão votar pela ausência de grandes mobilizações de massa, que pudessem apontar para uma nova alternativa. Mas votarão desconfiados de tudo e de todos.

No entanto, depois dos acontecimentos do leste europeu, o PT deixou de lado a defesa do socialismo para ter no seu horizonte essa mesma democracia burguesa. No Encontro de 2001, foi Zé Dirceu que defendeu a “revolução democrática”, a “democratização da democracia”, que se tornou a bandeira maior do reformismo, deixando de lado a revolução socialista.

Nós seguimos defendendo a revolução socialista. Não existe nenhuma maneira de humanizar o capitalismo, nem de “democratizar a democracia”, como defendia o PT e, agora, a direção do PSOL.

O Estado burguês e sua “democracia” funcionam a serviço das grandes empresas. Elas dirigem as TVs, rádios e jornais que têm enorme influência sobre as massas. Controlam os grandes partidos, financiando suas campanhas, como os bancos, que são os maiores financiadores do PT e do PSDB-PFL. Corrompem diretamente governos e parlamentares. Cobram seus serviços com os “favores” do Estado em relação aos seus negócios.

Não é por acaso que o programa econômico do próximo governo já está definido, vença PT ou PSDB. Não existe uma democracia real, mas uma ditadura disfarçada de democracia. Só as grandes empresas mandam de fato, apesar de haver eleições a cada dois anos.

O próprio PT é um exemplo disso. Ao chegar ao poder, não conseguiu fazer nenhuma “democratização”. Ao contrário, foi o PT que se transformou no partido completamente corrupto de hoje.

Estamos a favor de lutar por uma série de reformas democratizantes, como a redução dos salários dos parlamentares, a revogabilidade dos mandatos, etc. Também defendemos a elevação dos salários dos trabalhadores e a reforma agrária, dentro de uma estratégia de ruptura com capitalismo. Defendemos a ruptura com o Estado burguês e a construção de um outro poder dos trabalhadores, apoiado na democracia operária. Nossa estratégia não é a reforma da democracia burguesa, mas o socialismo.
É verdade que hoje não temos uma situação revolucionária no país. Mas isso não deve nos levar a embelezar a democracia burguesa. Se hoje não podemos ganhar de um inimigo, não podemos enganar os trabalhadores e a nós mesmos, dizendo que se trata de um amigo. Não podemos fazer a revolução socialista hoje, mas temos que trabalhar por ela desde já. Podemos denunciar este regime corrupto, essa democracia que só serve aos ricos, às grandes empresas.

Por isso, não concordamos com a direção do PSOL de colocar no centro do programa da frente a “revolução democrática”, repetição da estratégia petista.
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