Plenária de estudantes na ocupação da UFPA
Fabrício Gomes

Movimento exige a democratização dos espaços e o fim da reforma universitáriaNovos ares de luta voltam a fazer parte do movimento estudantil nacional. A Universidade Federal do Pará é apenas mais uma reação dos estudantes aos sintomas da reforma universitária de Lula.

A indignação, que já era grande devido aos problemas cotidianos e estruturais – como a falta de laboratórios e livros nas bibliotecas, a insuficiência do Restaurante Universitário (RU) e, principalmente, a falta de professores e de segurança -, culminou, no último dia 14, com a ação repressora por parte da prefeitura do campus, que tolheu uma comissão de formatura do curso de Serviço Social quando esta ia realizar o tradicional forró universitário para angariar fundos.

Na entrada dos equipamentos de som, aconteceu o enfrentamento. Seguranças da UFPA chamaram reforços da Rotam (Rondas Ostensivas Tático Móvel – Polícia Militar) que, sem muita conversa, chegou espirrando spray de pimenta nos estudantes e levando um deles preso.

A revolta que estava à flor-da-pele resultou na ocupação do hall da reitoria. Uma caixa de som de um dos Centros Acadêmicos foi levada para lá e assim aconteceu o Forró da Indignação.

Entretanto, este ato vai muito além da motivação de um grupo de estudantes “sedentos por festas”. O ocorrido simboliza uma resposta política a um projeto de universidade que ignora seu caráter público, tentando amortizar a atuação estudantil na construção de qualquer esfera.

Durante a noite cultural, uma plenária foi realizada e entre as medidas mais diretas foram apontadas as reivindicações da imediata destituição do prefeito do campus, Marcus Vinícius, e a exigência pela democratização dos espaços da Universidade. Cartazes foram pregados por toda a reitoria, tapumes foram postos na vidraça para evitar a visualização para dentro da ocupação, correntes e cadeados selavam o ato. Cerca de 300 estudantes construíram a ocupação.

No dia seguinte, uma equipe de mobilização passou nas turmas para explicar o ocorrido e convocar os estudantes para a ocupação, que foi visitada o dia inteiro por estes que são os únicos autorizados a adentrar na reitoria, além, obviamente, daquelas entidades que vieram manifestar apoio político, financeiro e de pessoal – como a Conlutas e os Sindicatos dos Trabalhadores da UFPA (SINTUFPA), Associação Docente da UFPA (ADUFPA) e Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes), os sindicatos dos trabalhadores da Construção Civil, Rodoviários de Ananindeua, Servidores Públicos Federais e dos Trabalhadores da Educação.

Uma nova plenária decidiu os rumos da ocupação. Com a forte veiculação na imprensa, o apoio da comunidade acadêmica e o envolvimento dos estudantes e servidores em greve, era fundamental fazer avançar a pauta de reivindicações, combatendo o caos aprofundado com a reforma universitária, que sucateia as públicas e sustenta as privadas. Dessa forma, passou a fazer parte das reivindicações a assistência estudantil e a construção de um RU no campus profissional, assim como moradia, creche universitária e a revogação da resolução do Conselho Universitário que autoriza a cobrança de taxas nas especializações.

A cada dia o número e a disposição dos estudantes só cresce. Uma programação da ocupação foi preparada, chegando a acontecer por lá a aula de uma turma de Ciências Sociais, na responsabilidade do professor João Simões, sobre o Estado e a Revolução, baseada no livro de Lênin. Mostra de vídeos, grupo de discussões sobre a educação superior e cultura também estão acontecendo. Enquanto o reitor se recusa a negociar e esbraveja sobre o movimento, a ocupação ganha mais peso e reconquista a tradição de luta dos estudantes da UFPA, após o refluxo nacional provocado pela crise de direção vinda com a eleição de Lula e a adaptação da UNE a seu governo.

A Conlute, o DCE e Centros Acadêmicos que compõem a Frente de Luta contra a Reforma Universitária são os principais responsáveis pelo sucesso do movimento, conseguindo trazer para a luta setores que nunca tiveram contato com o Movimento Estudantil.

Um mandado de reintegração de posse foi enviado à ocupação, que está sendo ameaçada de pagar R$ 5 mil por dia, só não se sabe de quem irão cobrar. A Polícia Federal já foi acionada, e a repressão pode acontecer a qualquer momento, mas o grande número de participantes está disposto a dar muita canseira em quem ousar a desocupação.

A orientação não é de se enfrentar, mas de resistir pacificamente. Um ato público foi organizado para a manhã do dia 18 de junho, em frente à reitoria, cujo objetivo é pressionar, junto ao máximo de estudantes, a negociação pela pauta estudantil.

Retirada de espaços estudantis e insegurança no campus
Os forrós acontecem no “Vadião”, espaço histórico de manifestações culturais do Movimento Estudantil da UFPA, mas que hoje está tomado pelos Bancos. A realização dos forrós, assim como de qualquer outra programação cultural neste espaço vem sendo dificultada por parte da Administração Superior, sob a alegação do sério problema de segurança pelo qual passa a universidade federal do Pará, localizada entre dois bairros extremamente carentes.

Contudo, a insegurança na universidade não acontece somente nos forrós. A qualquer hora do dia, acontecem assaltos dentro e fora da universidade, inclusive com casos de estupro que são banalizados pelo prefeito e pelo reitor.

A questão de segurança não é tão superficial. Ao mesmo tempo em que é preciso ser imediatista e garantir a proteção da comunidade acadêmica, não se pode deixar de lado o papel social que a Universidade deveria desenvolver através de projetos de extensão, o que diminuiria a criminalidade a partir da apresentação de outras oportunidades a juventude pobre.