No primeiro debate do Seminário sobre os 90 anos da Revolução Russa, organizado pelo Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pelo Instituto José Luís e Rosa Sundermann, compareceram cerca de 70 pessoas. O debate “A Revolução Russa e o Século XXI” contou com uma mesa composta por João Ricardo Soares, representante do Instituto José Luís e Rosa Sundermann e membro da Direção Nacional do PSTU, e Maurício Vieira, professor de Sociologia do ICHF.

O debate girou em torno da discussão sobre a necessidade da revolução diante da miséria, do aquecimento global e de todas as mazelas do mundo em que vivemos como pontuou o professor Maurício.

Maurício afirmou em sua fala que “a esquerda não deve tomar lições dos liberais sobre democratização” e que esta preocupação (com a democracia operária) já estava presente nos fundadores do marxismo, citando Guerra Civil na França, obra em que Marx faz uma análise da experiência da Comuna de Paris, resgatando a importância do “sufrágio universal, da autogestão” e que esta não era uma tarefa para um futuro distante, mas para ser aplicada na nossa prática política cotidiana e condenou a degeneração estalinista desses princípios.

João Ricardo questionou o discurso ideológico vigente que afirma que “o mundo é composto por 200 nações soberanas atualmente”, resgatando a tese de Lênin em sua obra O Imperialismo, em que ele afirmava que “o mundo é governado por um punhado de potências capitalistas”. Para João Ricardo, ampliou-se o nível de centralização do capitalismo vigente hoje no século XXI, “havendo 15 ou 20 empresas que chegam a ter um lucro superior ao de vários países e mesmo de continentes inteiros”. “A revolução”, disse ele, “vem no sentido de romper com a atual divisão internacional do trabalho”. Por fim, encerrou: “se o capitalismo é mundial, nenhum sistema que se proponha a ser superior a ele pode ser-lhe inferior nesse sentido. A transição ao socialismo não é possível nos marcos nacionais. A revolução precisa, necessariamente, se estender à escala internacional”.

Segundo dia: a revolução na América Latina
Na manhã seguinte, no debate A Revolução Russa e a América Latina, os palestrantes analisaram o impacto da Revolução Russa sobre os movimentos sociais da América Latina e o significado daquela experiência histórica em que os trabalhadores se organizaram e se mobilizaram numa luta revolucionária e construíram uma sociedade de novo tipo, uma sociedade socialista.

“A Revolução Russa demonstrou que o proletariado, que é visto com enorme preconceito político pela alta classe média e pela burguesia, é capaz de fazer revolução”, afirmou Eduardo Almeida, membro da Direção Nacional do PSTU, em sua intervenção de fechamento.

Para o professor Norberto, do Departamento de História da UFF, “o caudilhismo e o populismo são intrínsecos à política latino-americana”. Ele afirmou não ter vergonha de ver a bandeira brasileira nos tanques no Haiti, porque isso é o que os Estados desse tipo (atual) fazem. E concluiu “que o plenário estava mais cheio na luta contra o ReUni, porque as pessoas se mobilizam pelas questões parciais”.

Miguel Malheiros, da Direção da CST, corrente interna do PSOL, rebateu a fala do professor Norberto, afirmando que “os operários russos não fizeram a revolução pelo socialismo. Eles fizeram pela coisa mais ‘chão´, para deixar de ser ‘bucha de canhão´, por pão, paz e terra. Quando tomaram o poder, os operários e camponeses perguntaram que governo era aquele, sem latifundiários e capitalistas, e Lênin falou ‘isso é o socialismo´. As pessoas lutam pelas questões parciais, mas elas são limitadas. O que distingue o reformista do revolucionário é que o reformista vê a vitória no acúmulo de reformas. Para o revolucionário, sem tomar o poder, todas as conquistas serão perdidas mais à frente. Não é possível resolver os problemas reais, objetivos, concretos pelo acúmulo de reformas”.

No debate, foi lembrado o significado do dia 20 de novembro e a importância para o povo negro, como celebração de sua luta e resgate de sua memória. A resistência à escravidão, a exploração mais vil, segue atual. O imperialismo e as correntes protofascistas que se desenvolvem no interior do Estado, seja através da ocupação militar do imperialismo e das tropas brasileiras no Haiti, seja através da política higienista de Sérgio Cabral, governador do estado do Rio, e do governo Lula, criminalizam a pobreza, e mantêm o “caveirão” e a Força de Segurança Nacional nos morros e favelas do Rio.

Somente a organização dos próprios trabalhadores poderá vencer os desafios que estão colocados, seguindo o exemplo da Revolução Russa, em que as massas não esperaram pela liderança de qualquer caudilho, como o fazem todos aqueles que depositam suas esperanças em Chávez, e com o recente exemplo do I Encontro Nacional de Negros e Negras da Conlutas, que serviu para organizar os trabalhadores negros e pobres do país contra os ataques do neoliberalismo, rumo a uma sociedade mais justa e igualitária, uma sociedade socialista.