O anúncio da realização da Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro foi comemorado por milhões de brasileiros como uma vitória. Mas foi ainda mais celebrado pelo governo Lula, por ser um trunfo para as eleições de 2010. Vai se somar a outro evento – a realização da Copa do Mundo de 2014 -, à recuperação parcial da crise econômica e à exploração do pré-sal. Todos serão somados como armas para a eleição de Dilma Rousseff à Presidência no ano que vem.

Assim, se reforça a ilusão dos trabalhadores em um governo que é um dos mais antioperários de toda a história brasileira. Mas que é visto pelos trabalhadores como um aliado. Lula é apoiado pela maioria dos brasileiros, que veem nele um caminho para melhorar de vida. Afinal, no governo está aquele que foi a maior liderança operária da história do país.

Os banqueiros e as multinacionais viram em Lula “o cara” certo para fazer os trabalhadores aceitarem o mesmo plano neoliberal de FHC, mas com a impressão de algo diferente. O período de crescimento econômico internacional favoreceu esse plano. Os lucros das multinacionais e banqueiros foram recordes. Mas os trabalhadores entenderam os frutos do crescimento – a exemplo da diminuição do desemprego – e pequenas concessões populistas-eleitorais (Bolsa Família) como uma expressão da “preocupação social” de Lula.

O presidente solidificou a aliança com o imperialismo, cometendo uma das maiores indignidades da história brasileira, chefiando a ocupação militar do Haiti com tropas nacionais. Por outro lado, a recuperação econômica internacional travou o desenvolvimento da crise no país, que poderia causar um sério dano à imagem do governo. Lula faz parte do G-20, dando a ideia ao povo brasileiro de que começa a fazer parte das decisões, quando na verdade se incorpora às responsabilidades de aplicação das decisões dos países imperialistas. Isso o habilitou a ganhar as concessões da Copa do Mundo e da Olimpíada no Brasil.

Tudo isso poderia ser uma via de mão única para o fortalecimento do governo. A aparência é toda favorável a Lula. Mas vai tudo bem mesmo? Ao contrário, está crescendo na base uma insatisfação em relação à situação concreta social, que está piorando. Mesmo havendo uma grande ilusão no governo, a base de tudo isso é a vida material dos trabalhadores. E a recuperação econômica está se fazendo à custa da continuidade do desemprego gerado pela fase aguda da crise, do arrocho salarial, da intensificação do ritmo de trabalho e da precarização das relações trabalhistas da maioria dos trabalhadores no país.

A situação social não está melhorando, está piorando cada vez mais. A recuperação atual significa retomar a farra da grande burguesia e fazer os trabalhadores pagarem os custos da crise, com um trabalho mais pesado e mais arrocho salarial. Isso levou à radicalização das campanhas salariais em curso, assim como às rebeliões de base que ocorreram, a exemplo dos metalúrgicos de Taubaté.

Esse também é o significado da Copa e da Olimpíada: muita festa, muitos lucros para as empreiteiras, corrupção em escala industrial. Junto com isso, uma piora na vida do povo pobre do Rio, que vai ter de enfrentar uma violenta repressão nas comunidades mais carentes para “embelezar” a cidade.

E pode piorar muito mais, quando explodir uma nova crise, quase inevitável.
Nesse período, o papel dos que batalham por um campo de luta dos trabalhadores é duplo. Em primeiro lugar, dar uma resposta às lutas sindicais dos trabalhadores nas condições em que se derem. A Conlutas está dando um exemplo nesse sentido, ao apresentar uma alternativa de direção para as greves de metalúrgicos, Correios, bancários e, agora, petroleiros e funcionários públicos. Uma alternativa de combate, contra o freio burocrático da CUT e da Força Sindical. Foi assim que se produziram rebeliões de base entre os metalúrgicos de Taubaté e também em São Caetano do Sul. Foi assim que se respondeu à traição da greve dos Correios. É assim que se prepara para enfrentar um novo golpe da CUT em bancários e petroleiros.

A Conlutas também faz uma proposta de construção de uma nova central com a Intersindical e setores independentes, que se contraponha à CUT e à Força.
Em segundo lugar, é preciso discutir com clareza uma alternativa política. Isso começa por debater com os trabalhadores que Lula é um governo dos patrões e não um aliado do proletariado. Dizer isso em cada momento, em cada ocasião concreta, a partir das experiências dos próprios trabalhadores.

É preciso também começar a construir uma alternativa eleitoral própria dos trabalhadores para 2010, contrária às candidaturas de Dilma Rousseff e de José Serra. O PSTU já apresentou uma proposta de frente eleitoral com o PSOL e o PCB em base a um programa anticapitalista para sair da crise, sem alianças com nenhum setor da burguesia, e com as candidaturas de Heloísa Helena e Zé Maria.

Até agora, o silêncio foi a resposta à nossa proposta de frente eleitoral. Tampouco existe uma posição categórica quanto à proposta de uma nova central sindical, com alguns setores priorizando as diferenças para justificar a continuidade da separação.
Heloísa Helena já está deixando a candidatura à Presidência e ameaçando apoiar a candidatura de Marina Silva. O abandono da candidatura da ex-senadora é um sinal de que o PSOL está abrindo mão da luta real por uma alternativa conjunta dos trabalhadores em 2010, priorizando a luta por cargos parlamentares, a começar por um mandato no Senado por Alagoas.

Nós queremos fazer um último chamado à luta conjunta em todos os terrenos. Seja nas campanhas salariais, seja na construção de uma central única que una sindicatos e movimentos popular, estudantil e contra as opressões. Seja também em termos eleitorais para 2010. Lembremos que a força dos adversários é enorme, mas que podemos apresentar uma alternativa dos trabalhadores apoiada na insatisfação social, que só deve aumentar até lá.

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