A prefeitura de Fortaleza está nas mãos da chamada esquerda petista. A candidatura de Luizianne Lins, da corrente Democracia Socialista (DS), foi a depositária dos milhares de votos de protesto contra as candidaturas tradicionais da burguesia local e contra o próprio governo federal.

Tudo como antes

Segundo dados da nova administração, a prefeitura possui uma dívida que supera os R$ 340 milhões. Além disso, é conhecido de toda a população o superfaturamento e o favorecimento desleal nas licitações públicas feitas pelo ex-prefeito. A própria Luizianne, em um primeiro momento de sua candidatura, quando mal aparecia nas pesquisas, chegou a afirmar que o prefeito era corrupto. Nada mais justo que uma de suas primeiras medidas fosse uma auditoria pública nas contas da prefeitura. Ao mesmo tempo em que declarasse suspeitos todos os que estiveram envolvidos com o grupo que governou Fortaleza nos últimos 16 anos.

Entretanto, a prefeita não só não decretou auditoria até o momento, como articulou, para garantir sua “governa-bilidade”, que o antigo chefe de gabinete do ex-prefeito, Tim Gomes, fosse o novo presidente da Câmara de Vereadores. Tim Gomes, por sua vez, com o apoio inclusive da bancada de esquerda, escalou pessoas ligadas à antiga administração municipal para cargos estratégicos da Câmara, conforme noticiou o jornal local O Povo, aonde se afirma que a “era Juraci (ex-prefeito de Fortaleza, do PMDB) promete se estender na Câmara Municipal de Fortaleza”.

A defesa de Lula
A relação da nova prefeitura com o governo federal é algo que merece ser destacado. Na medida em que Luizianne é tida como “radical” e insiste em afirmar que Lula olhará por Fortaleza, a petista camufla o inimigo de aliado e desarma os lutadores da cidade.

Que Lula é neoliberal e que precisa ser derrotado não há dúvidas, pelo menos para a grande maioria dos lutadores de nosso país, mas não são poucos os que acreditam que Luizianne não está no mesmo time do presidente. Entretanto o papel que a petista cumpre é dos mais nefastos.

Não importam as contra-reformas Universitária, Sindical e Trabalhista, a privati-zação do Banco Estadual do Ceará (BEC), a autonomia do Banco Central, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Alca e o FMI e tantas outras medidas impopulares do governo, pois, no fim das contas, “Lula irá olhar por Fortaleza”.

LUIZIANNE E O MST: UM PÉSSIMO EXEMPLO

A menina dos olhos da prefeita é a “operação Fortaleza Bela”, que pretende limpar a cidade em 60 dias. Para tanto, decretou estado de emergência para dispensar licitações, fechou acordo com as mesmas empresas responsáveis pela limpeza pública na administração passada e estabeleceu uma parceria com o governador Lúcio Alcântara (PSDB) para garantir o sucesso da dita “operação”.

Uma operação como essa não é nenhuma novidade nas administrações petistas. No início de sua gestão à frente da prefeitura paulista, Marta Suplicy convocou a população a realizar voluntariamente o serviço de limpeza no centro de São Paulo. O curioso nome da medida foi “operação belezura”.

Muito se pode falar sobre as razões de Luizianne de dar tanta importância à questão da limpeza pública e sobre a superficialidade de suas medidas nesse terreno, mas o que merece verdadeiro repúdio é o atual envolvimento do MST.

Cerca de 500 militantes do movimento foram destacados para auxiliar no trabalho voluntário de limpeza da cidade. Não que o lixo esteja maior esse ano do que em qualquer outro, nem muito menos que a quadra invernosa (época de chuvas) prometa enchentes e alagamentos como nos últimos anos, nada disso. O que é emergencial é fazer a administração Luizianne dar certo e não importa como. O que deveria ser remunerado, através da abertura de frentes de trabalho, passa a ser voluntário. A edição de 21 de janeiro de O Povo destaca que, segundo Luizianne, “essa parceria prefeitura e MST é um exemplo para o Brasil”.

Vergonhosamente a direção do MST no Ceará empurra o movimento de todo o país para o caminho do voluntariado. Mas o estrago não pára por aí. Aproveitando-se do prestígio do MST, a prefeita oferece a todos os trabalhadores de Fortaleza o mesmo caminho como alternativa para a cidade “dar certo”: “Temos de estimular esse trabalho voluntário porque é assim que vamos conseguir melhorias. E se o MST entrou, por que não os moradores de Fortaleza fazer esse grande movimento cívico?”. O jornal fala ainda que a prefeita “anunciou que em três momentos a população será convocada a ajudar na operação de limpeza, cuidando das praças, praias e escolas”. Igual a Marta Suplicy. Ao que tudo indica Luizianne logo poderá ser a grande garota-propaganda do famigerado “Amigos da Escola”, programa de trabalhos voluntários promovido pela TV Globo.

O prejuízo que causa a iniciativa do MST, além de tudo, é fonte de divisão entre os próprios trabalhadores. Enquanto os garis da Empresa de Limpeza Urbana do Município paralisavam seus trabalhos por conta do atraso nos pagamentos, os militantes sem-terra trabalham voluntariamente, recebendo alimentação e transporte da prefeitura. A experiência do MST seria de muita valia em Fortaleza, mas se fosse para auxiliar no trabalho de ocupação e resistência urbana. De fato, a parceria entre MST e prefeitura é um exemplo para o Brasil… um péssimo exemplo.

Post author Giambatista Brito, de Fortaleza (CE)
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