Nas últimas semanas, a disputa entre José Serra e Geraldo Alckmin pela vaga de andidato à Presidência da República pelo PSDB se acirrouCom a crise do PT e a possibilidade real de derrotar Lula, os presidenciáveis do partido tucano travam o duelo interno. Entretanto, não há diferenças de conteúdo relevantes entre os dois bicudos. E a briga entre os dois traz a público os bastidores do PSDB, tão podres como os do PT.

O prefeito de São Paulo, José Serra, tem a vantagem de estar à frente de seu colega nas pesquisas. Numa delas, feita pelo Ibope, no melhor dos cenários em que Alckmin enfrenta Lula, o tucano tem 18% das intenções de voto, contra 41% de Lula. Serra, por sua vez, no cenário que lhe é mais favorável, obtém 32% das intenções de voto, contra 38% de Lula. Nas pesquisas sobre o segundo turno, Serra também aparece como único candidato capaz de derrotar Lula.

Serra sequer declarou publicamente se pretende ou não ser candidato, apesar de estar articulando isso nos bastidores. Alckmin, por sua vez, já está em campanha, dando entrevistas e declarações, anunciando que vai renunciar ao cargo até o fim de março.

O PSDB, por enquanto, não tomou nenhuma decisão e seus altos membros ainda estão divididos. Com a possibilidade de fragmentação decorrente da disputa entre os dois nomes, a direção do partido apressou-se em declarar que, independentemente do nome, a unidade do PSDB não será abalada. O presidente nacional da sigla, Tasso Jereissatti afirmou categoricamente: “Eu garanto, sou macho. Não vai ter briga no PSDB”.

Todavia, a escolha entre os dois nomes não será feita na convenção do partido, mas por sua direção, sob o critério de que “o mais competitivo vai ser o escolhido”, nas palavras de Tasso. Essas declarações, bem como a reafirmação da unidade do partido, apenas se deram após uma reunião entre Tasso Jereissatti, Fernando Henrique e Aécio Neves no dia 27. A cúpula resolveu reunir-se e botar ordem na casa, porque a disputa aberta já ameaçava a unidade do PSDB, justamente em um momento de crise petista e de conseqüentes grandes possibilidades eleitorais.

Picolé de chuchu
A pesquisa Exame/Vox Populi de outubro mostrou que Geraldo Alckmin é o candidato dos empresários, segundo 84% dos presidentes e administradores de 231 das maiores empresas do país. Na votação espontânea, Alckmin teve 40% das intenções, praticamente o dobro do percentual de Serra.

Visto pela maioria da população como um político sem carisma, Alckmin destaca-se nas elites, não só no meio empresarial. A Arko Advice realizou uma pesquisa em outubro com 90 pessoas, representando 35 bancos ou instituições do mercado financeiro nacional. Alckmin obteve 74% de intenções de voto contra 8% de Serra.
Tais dados mostram desde já qual setor da sociedade seria beneficiado com o governador paulista ocupando o cargo de presidente.

Além de ser amigo dos banqueiros e dos empresários, Alckmin também tem um histórico político contrário às lutas dos trabalhadores. Alckmin é um político reacionário, ligado ao ultraconservadorismo da Opus Dei (facção mais conservadora do catolicismo).

As reformas que Lula aplicou ou tentou aplicar em seu mandato têm origem na gestão de FHC. Por isso, não é de se espantar que, antes mesmo de ser candidato oficial, Geraldo afirme com veemência, em entrevista à revista Istoé, que “se for eleito, no primeiro dia todas as reformas estarão prontas no Congresso: tributária, trabalhista, política, previdenciária”.

Na agenda de projetos neoliberais não podem faltar as privatizações. E Alckmin já elegeu suas prioridades: “bancos estaduais. A maioria já foi privatizada, mas deveriam ser todos. Tem muita coisa que se pode avançar. Susep, Sistema de seguros, tem muita coisa que se pode privatizar”.

Tucano vampiresco
O prefeito da capital paulista, José Serra, não diverge de seu colega sobre a aplicação das reformas e da política neoliberal. Também governa para os patrões e banqueiros. Sua histórica atuação em cargos eletivos comprova isso.

Como ministro da Saúde, Serra ficou conhecido por deixar o cargo sem conseguir tomar medidas para impedir que a epidemia da dengue se alastrasse. Outras doenças, como leishmaniose e malária também mantiveram seus índices altos.

Como prefeito, Serra aumentou tarifas e impostos e privatizou serviços sem pestanejar. Perseguiu ambulantes e não gerou empregos na cidade. Não foi em vão: todo o dinheiro não gasto nas áreas sociais serviu para pagar juros da dívida pública. Um estudo realizado pelo economista José Roberto Afonso, com base em dados do Banco Central, mostra que o aperto orçamentário feito pelos prefeitos empossados em 2005 em todo o país foi muito maior que o do governo federal. A economia de recursos foi 162% maior do que em 2004. E Serra fez um grande esforço para engordar essa estatística: obteve um superávit de R$ 1,382 bilhão em apenas 11 meses.

Serra também não representa grandes alterações no cenário de corrupção que vive a política brasileira. Como já se sabe, o esquema do valerioduto não se restringiu aos governistas. Um dos sócios de Marcos Valério, Cristiano de Mello Paz, ligou pelo menos 37 vezes para o comitê financeiro de Serra durante a campanha presidencial de 2002. O que não significa que Alckmin também não tenha partilhado a verba… O vice de Serra na prefeitura, Gilberto Kassab, do PFL, também é suspeito de enriquecimento ilícito na gestão de Celso Pitta, quando ocupou a secretaria do Planejamento.

Não há grandes diferenças, seja na política ou nos métodos, entre os vários tucanos, a oposição burguesa no seu conjunto, os petistas e os partidos aliados do governo. A crise política no Congresso e no governo deixou isso bem claro para a maioria da população.

Briga de comadres
Como se pode observar, os candidatos tucanos disputam com o mesmo projeto político, em uma briga duríssima pelo controle do aparato de Estado. Em público não chegam a se agredir realmente. Mas, de longe dá para identificar que ambos são da mesma espécie.

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