Há 64 anos, no dia 21 de agosto de 1940, o revolucionário russo Leon Trotsky foi assassinado por um agente de Stalin no MéxicoPor que um personagem tão poderoso como Stalin se dedicou a perseguir um homem exilado até assassiná-lo, e depois a falsificar sua história?

Stalin temia Trotsky porque ele representava a memória viva da Revolução de 1917, o fio de continuidade que ligava gerações de revolucionários.

Trotsky dirigente da Revolução Russa

Durante a Revolução Russa de 1905, Trotsky foi eleito presidente da organização operária de massa (Soviet) de Petrogrado, que liderou a luta contra o regime do Czar (imperador da Rússia). Com a derrota da revolução, Trotsky conheceu as prisões czaristas e passou anos no exílio em países da Europa e América do Norte. Seu regresso à Rússia se deu em fevereiro de 1917, depois que o Czar Nicolau II foi deposto por uma poderosa revolução popular. Com o ímpeto da Revolução de Fevereiro, ressurgem os Soviets por todo o país, inclusive o de Petrogrado, do qual Trotsky se tornou presidente. Com Lenin, Trotsky iniciou uma luta implacável contra o governo provisório – de conciliação de classes – formado por partidos operários (Mencheviques e Esseristas) e burgueses (Kadetes). Ao ingressar no Partido Bolchevique em agosto de 1917, Trotsky encabeçou o Comitê Militar Revolucionário que levou a cabo a tomada do poder.

Na guerra civil, Trotsky organizou praticamente do nada o poderoso Exército Vermelho, que reuniu cerca de seis milhões de pessoas e enfrentou a poderosa ofensiva militar desencadeada pela burguesia e pelo imperialismo. Entre 1918 e 1920, Trotsky comandou toda a resistência revolucionária, derrotando 14 exércitos armados pelas potências capitalistas para invadir a nascente República Soviética.

A III Internacional Comunista

A despeito de todos os problemas e dificuldades provocadas pela guerra civil, Trotsky e Lenin fundaram, em 1919, a Internacional Comunista. O objetivo de sua fundação era criar um partido que dirigisse a revolução mundial na época do capitalismo monopolista, em contraposição à traição da II Internacional e de seus partidos, que apoiaram seus respectivos imperialismos na Primeira Guerra Mundial. Trotsky e Lenin nunca defenderam que a revolução se detivesse nos limites das fronteiras nacionais, pelo contrário, seu objetivo sempre foi estender a revolução ao resto do mundo, principalmente aos países imperialistas.

A contra-revolução stalinista

Os tempos que se seguiram depois da revolução foram extremamente difíceis para a jovem República Soviética. O país estivera durante quatro anos na guerra mundial, depois, com a revolução, vieram mais quatro anos de guerra civil. O resultado de tudo isso foi catastrófico. As fábricas foram destruídas e o fraco desempenho industrial do país foi reduzido a praticamente nada. Além disso, os melhores quadros da vanguarda e do partido foram mortos na guerra civil.

Nesse momento, a burocracia estatal – formada por técnicos e funcionários do Estado – se fortaleceu e pouco a pouco foi se apoderando do Estado e do Partido Bolchevique. “Nossa burocracia é algo monstruoso” dizia Lenin em fins de 1923, quando se aliou a Trotsky e iniciaram juntos a batalha contra a burocracia e contra Stalin, seu maior representante.

Ainda em 1923, operou-se na Alemanha uma poderosa revolução, que poderia tirar a União Soviética do seu isolamento. No entanto, a revolução foi derrotada pala traição dos partidos social-democratas.

A derrota da revolução alemã trouxe desmoralização e ceticismo aos quadros bolcheviques e fortaleceu a burocracia.

Em 1924, Lenin morreu, mas Trotsky continuou sua luta. Nem bem Lenin havia sido enterrado, Stalin então iniciou uma poderosa ofensiva para estabelecer seu controle sobre o aparato partidário, começando então a contra-revolução burocrática. Trotsky, em outubro de 1924, lançou um chamado à luta contra a burocratização do Estado Operário soviético, formando a Oposição de Esquerda.

Stalin buscou a eliminação de seus opositores dos postos de comando e do Estado, perseguindo implacavelmente Trotsky e seus seguidores. Em 1928, Trotsky foi isolado em Alma-Ata, e, no ano seguinte, foi expulso da URSS.

Aproveitando-se disso, Stalin apresentou sua teoria do “socialismo em um só país”. A concepção de Stalin era, em resumo, o abandono da luta pela revolução mundial, reduzindo o socialismo a tarefas administrativas que visavam a sua construção nos limites das fronteiras da URSS.

Por trás desta teoria, escondia-se a estratégia de coexistência pacífica e de colaboração com a burguesia e com o imperialismo em escala mundial. Expressão disso é a estratégia de revolução por etapas para os países atrasados: primeiro a revolução nacional e democrática, em que a burguesia nacional tinha um papel a cumprir, promovendo reformas etc. e, depois, num prazo bem distante, a revolução socialista.

As frentes populares

Na década de 1930, o stalinismo criou outra política baseada na teoria do socialismo em um só país, conhecida como Frentes Populares, que orientava os partidos comunistas a formarem governos em aliança com a burguesia “democrática“ para impedir que ascensos dos trabalhadores varressem a burguesia do poder.

Trotsky denunciou mais essa traição do stalinismo, defendendo vigorosamente o princípio marxista da independência política da classe trabalhadora.

Aqui no Brasil o governo de aliança com a burguesia de Lula representa hoje a continuidade dessa política formulada pelo stalinismo.

Durante esse embate entre as concepções de Trotsky e da burocracia, estava em jogo o destino da URSS e da revolução mundial. Nos anos seguintes a teoria do socialismo em um só país seria responsável pela derrota de inúmeras revoluções, como na Espanha.

Neste país, em particular, a política de Frente Popular foi responsável pelo trágico desfecho da revolução, depois de os trabalhadores derrotarem uma tentativa de golpe facista. A burguesia, que apoiou os golpistas, fugiu das áreas controladas pelos republicanos e os trabalhadores então assumiram o controle de fábricas e das terras. No entanto, o governo de Frente Popular obrigou os trabalhadores a devolvê-las. Depois de uma forte ofensiva do governo contra os trabalhadores e suas organizações, veio a vitória facista.

Revolução Permanente

Contra a teoria stalinista do “socialismo em um só país”, Trotsky reafirmou o caráter mundial da revolução socialista, na sua teoria da revolução permanente, afirmando que qualquer revolução que se detivesse nos marcos nacionais sofreria inevitavelmente uma degeneração burocrática e seria ameaçada pela restauração capitalista, pois o capitalismo continuava vigorando em nível internacional. Para Trotsky, a revolução nos países atrasados não se limitaria a uma etapa democrático-burguesa, ao contrário, as tarefas democráticas só poderiam ser realizadas pela ditadura do proletariado. “Dessa maneira tornava-se permanente o desenvolvimento revolucionário, que ia da revolução democrática até a transformação socialista da sociedade”, afirmava Trotsky.

A revolução permanente não era uma elaboração nova de Trotsky; em 1905 o revolucionário russo já a tinha exposto para a situação russa, e a partir de 1917 a revolução permanente já estava incorporada ao conjunto do arsenal teórico do bolchevismo.

Os últimos anos de sua vida são dedicados à construção da IV Internacional, para dar continuidade à luta de Lenin pela revolução mundial.
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