Mais uma denúncia de abuso sexual por parte dos soldados da ONU (Organização das Nações Unidas) no Haiti apareceu ontem, às vésperas da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país. Uma ONG divulgou um relatório com casos de violência sexual contra crianças a partir de seis anos em locais onde existem missões humanitárias.

Com o nome de “None to turn to – The under-reporting of child sexual exploitation and abuse by aid workers and peacekeepers” (Ninguém a quem recorrer – A pouco denunciada exploração sexual infantil por funcionários de ONGs e tropas de paz), o documento é um trabalho da ONG americana Save the Children. Foram entrevistadas 341 crianças no ano passado na Costa do Marfim, no Sudão e no Haiti.

Alguns dos abusos identificados foram estupro, prostituição infantil, escravidão sexual, pornografia, troca de sexo por comida, tráfico infantil para sexo e exposição a indecências.

Sem afirmar exatamente quem são os acusados dos abusos, o relatório dá pistas ao dizer que “os que cometem os abusos podem ser encontrados em todo tipo de organização de paz e segurança, entre funcionários de todos os níveis e entre trabalhadores recrutados local e internacionalmente”. Diz ainda que as tropas de paz da ONU “são uma fonte particular do abuso em várias localidades, especialmente no Haiti e na Costa do Marfim”.

Entre os casos relatados, uma adolescente haitiana de 15 anos disse que funcionários de agências humanitárias mostraram os órgãos genitais e ofereceram dois dólares para que fizesse sexo oral num parque. Uma menina de 13 anos disse ter sido estuprada na Costa do Marfim por dez capacetes-azuis da ONU. Ninguém foi punido.

Por serem estrangeiros que supostamente estariam “pacificando” esses países, as leis locais não servem para os soldados, que podem agir impunemente.

Essa situação não é nova. Em novembro do ano passado, 108 soldados do Sri Lanka pertencentes à força da ONU no Haiti foram mandados de volta a seu país por abuso sexual, inclusive de menores.

Apesar de o relatório não apresentar nenhum caso envolvendo soldados brasileiros, em 2006 uma garota de 14 anos disse ter sido estuprada numa base da ONU no Haiti em 2004 por um soldado brasileiro. A organização arquivou o caso “por falta de provas”.

Outra menina da mesma idade disse na época que um soldado havia oferecido doces e dinheiro em troca de sexo com ela. É bom lembrar que o Brasil lidera a missão no Haiti e tem boa parte dos soldados.