Acabou o espetáculo do futebol, começou o pesadelo. A intervenção militar brasileira no Haiti, sob o comando de Bush, começa a mostrar sua verdadeira cara e vem sendo atacada nas ruasOs protestos se sucedem no Haiti. A população faz saques para sobreviver. Militares rebeldes lutam para depor o presidente Boniface Alexandre, o homem de Bush. E uma onda de violência já deixou 30 mortos nos últimos dias, entre eles, dez policiais.
No meio disso tudo, as tropas brasileiras de Lula já escolheram seu lado: o do imperialismo americano. Nesta semana, entraram em choque com os rebeldes e reprimiram manifestantes em uma favela.

Não satisfeito em reprimir as greves e as lutas no Brasil – como a dos bancários – Lula está exportando repressão. Em troca de um lugar no Conselho de Segurança da ONU, mandou tropas para o Haiti, violando a soberania do país.
Um dia após a visita do secretário de Estado norte-americano Colin Powell ao Brasil, as tropas entraram diretamente em choque contra os militares rebeldes e moradores da favela Bel Air, em Porto Príncipe, a capital, que lutam para depor Alexandre. As tropas brasileiras, comandadas pelo general Américo Salvador de Oliveira, invadiram a favela para tentar desarmar a população e prenderam 75 pessoas. Um soldado brasileiro foi ferido, mas nenhuma arma foi apreendida, porque as pessoas tinham sido avisadas. Logo depois, as manifestações continuaram e, segundo a agência de notícias Associated Press, as pessoas carregavam machados, garrafas e pedras e ameaçavam decapitar os estrangeiros da ONU, como ocorre no Iraque e como já foi feito com quatro policiais haitianos.

A situação ameaça ficar ainda pior para o governo, porque rebeldes ameaçam invadir o palácio presidencial.

Fim de festa

A partida de futebol não foi o bastante para impedir que os haitianos percebessem o papel das tropas brasileiras em seu país: reprimir qualquer tentativa de derrubar o governo fantoche de Boniface Alexandre. O soldado gaúcho Luciano Carvalho, atingido no pé, relatou ao jornal Folha de S.Paulo que as tropas brasileiras “sempre têm tomado tiro” na favela Bel Air. Ele também contou que os blindados da ONU têm sido atingidos por tiros nas ruas da capital.

Expulsar o ocupante

Ex-colônia francesa, o Haiti sempre foi um país ocupado. Desde 1914, os EUA passaram a governar direta ou indiretamente o país, financiando regimes ditatoriais e de terror, que submergiram o país na mais profunda miséria. O resultado disso é que hoje o Haiti é um dos países mais pobres do mundo. A expectativa de vida não passa dos 50 anos. Como em Burundi ou na Libéria, 55% da população é analfabeta e apenas 45% tem água tratada.

Mas os trabalhadores vêm procurando se organizar. Uma das organizações mais fortes é Batay Ouvriye, que agrupa sindicatos de fábricas, associações e militantes isolados.

Com um governo financiado pelos EUA e a recente visita do furacão Jeanne, o povo viu-se diante da única alternativa possível, a luta nas ruas. Com isso, as tropas brasileiras começam a desmentir o título de Missão Humanitária ou Missão de Estabilização. Como diz o jornalista uruguaio Eduardo Galeano, é preciso resgatar o verdadeiro sentido das palavras. A missão é desumana mesmo. Pretende evitar que os haitianos se apossem da comida e de seus direitos. E a única estabilização que busca é a que interessa aos Estados Unidos e seu governo: manter o país ocupado e as massas caladas.
Post author Cecília Toledo, da redação
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