Mantega: com o aval de Palocci
José Cruz

As mudanças em cargos importantes do governo e no interior da equipe de assessores de Lula são uma resposta à crise no governo petista, aberta com a derrota nas eleições municipais. Para conseguir aprovar suas reformas neoliberais que atacam os trabalhadores, Lula foi ainda mais à direita, promovendo uma onda de demissões para dar assento privilegiado ao PMDB, ao PP e ao PTB dentro do governo.

As demissões começaram com a saída de José Viegas do Ministério da Defesa, depois de sucessivas crises entre o ministro e os generais do Exército, ampliadas com a divulgação das supostas fotos do jornalista Vladimir Herzog, assassinado em 1975. A divulgação das fotos reabriu a discussão sobre a abertura dos arquivos da ditadura, o que gerou uma forte oposição dos militares. Para conter uma crise maior nas Forças Armadas, assegurando que os arquivos não serão abertos, Lula nomeou o vice-presidente, José Alencar, para o posto de Viegas.

No entanto, o episódio culminou em mais uma demissão. João Luiz Pinaud, presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, renunciou, criticando a postura do governo em relação à abertura dos arquivos.
Depois veio a demissão do Secretário de Imprensa, Ricardo Kotscho, e foi anunciada para os próximos dias a saída de Frei Betto do cargo de assessor especial do presidente. Ambos faziam tímidas críticas à política econômica.

Palocci sai fortalecido

De todas as demissões, as mais importantes foram as da área econômica. No Banco do Brasil, Cássio Casseb foi afastado da Presidência, após se envolver em vários escândalos de corrupção. No entanto, o que pesou mesmo no afastamento de Casseb foi o desgaste sofrido por ele depois da heróica greve dos bancários, que exigiram sua saída. Parlamentares e sindicalistas bancários do PT estavam articulando uma nomeação petista para o cargo. Mas Lula pôs fim a essas pretensões quando anunciou a nomeação de alguém mais “confiável” aos banqueiros e à equipe econômica do ministro Palocci.

A demissão que mais repercutiu foi a do presidente do BNDES, Carlos Lessa. Considerado um “nacionalista” por muitos setores da esquerda, como o MST e as correntes da esquerda petista, Lessa foi demitido porque criticava a política econômica e exigia a diminuição dos juros cobrados pelos bancos. Isso o levou a ter atritos com os banqueiros, que não admitiam reduzir seus lucros. Durante sua gestão, Lessa defendia também que as matrizes das multinacionais dessem garantias de seus investimentos no país, o que provocou a fúria dessas empresas. Todas essas medidas foram tímidas, pois não enfrentavam o imperialismo de conjunto, não questionavam o pagamento da dívida e nem o superávit primário para fazer caixa ao FMI. Porém, nem isso é admissível para um governo completamente submisso ao capital financeiro. Em seu lugar foi nomeado Guido Mantega, nome de confiança de Palocci. Mantega já anunciou o BNDES como grande financiador das PPPs, para a festa das grandes empresas.

Governo mais à direita

A demissão de Lessa é um duro golpe para os setores da esquerda petista e a sua política de “disputar” os rumos do governo. Já não tinham como justificar o apoio ao governo, mesmo com Lessa no BNDES. Agora, com a demissão…

Estas mudanças abrem o caminho para a reforma ministerial. Após reuniões com lideranças do PMDB e do PP, Lula anunciou que pretende abrir espaço aos aliados dentro da equipe ministerial. O PMDB, provavelmente, vai ganhar mais peso no governo e terá no mínimo o controle sobre dois Ministérios de mais destaque. Já o PP, de Paulo Maluf, anunciou que o governo lhe dará o controle de pelo menos um Ministério. Discute-se também uma localização mais privilegiada para o PDT e o PTB.

Enfraquecido nas eleições, o governo do PT segue em marcha acelerada rumo à direita, para impedir que rupturas na sua base aliada promovam uma crise de governabilidade. O que era ruim ficou pior. Quem achava que Lula poderia modificar os rumos da política econômica, vê as ilusões se desmancharem. A realidade é que o governo Lula segue abrindo caminho para a farra entreguista do FMI e para a destruição dos direitos trabalhistas.
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