Todo ativista do movimento sindical que se dispuser a lutar contra as demissões anunciadas pela crise econômica terá de enfrentar três problemas. Trata-se de três questões colocadas pelas diferenças entre as distintas direções do movimento.

O primeiro deles é o caráter da crise que se inicia. As direções da CUT e do PT dizem que é uma crise de agiotagem, uma crise financeira. Em essência, os banqueiros são uns malvados que especularam demais, causaram uma crise e, agora, ainda estão embolsando o dinheiro que o governo lhes deu, não repassando como crédito ao consumidor.

No início, o governo e as direções da CUT e do PT diziam que o Brasil não seria afetado. Agora, têm de admitir que isso ocorrerá, mas afirmam que o governo Lula preparou o país para reduzir seus efeitos.

Já para nós, do PSTU, trata-se de uma crise cíclica, uma crise de superprodução do capitalismo, que já está levando a uma recessão mundial. Essa recessão é agravada pelo crack financeiro e pode chegar a uma depressão semelhante à de 1929.

Sobre o Brasil, a avaliação é oposta à do governo e das direções da CUT e PT. O país já está sendo afetado pela crise, em plena desaceleração da economia, devendo entrar em recessão em 2009. E o governo Lula, com sua submissão às multinacionais, expôs mais ainda o Brasil às conseqüências da crise internacional. Como se pode ver, são duas avaliações opostas.

A segunda questão tem a ver com o programa geral para a crise. As direções da CUT e do PT, coerentes com sua avaliação, propõem que o governo dê dinheiro para as empresas para garantir o investimento e o emprego. O jornal do Sindicato dos metalúrgicos do ABC foi mais além e recomendou que os trabalhadores desliguem suas TVs (deve ser para não ver as notícias desfavoráveis) e comprem, para poder ajudar os empresários a vender seus produtos. Ou seja, para a direção da CUT e do PT tudo deve ser feito para ajudar os empresários, com o governo lhes dando dinheiro e os trabalhadores continuando a comprar.

Já para nós, é preciso exigir que o governo intervenha na crise, mas não para dar dinheiro para as empresas e sim para decretar a estabilidade no emprego. O dinheiro que o governo entrega às empresas não vai evitar a recessão: vai ser embolsado pos seus donos. Em todo o mundo, trilhões de dólares já foram dados pelos governos, e a recessão está se estendendo. É preciso um programa anticapitalista para a crise e não uma aliança com a burguesia. Isso só vai levar os trabalhadores a salvar os lucros da burguesia e perder seus empregos.

Além disso, é uma barbaridade recomendar aos trabalhadores, que estão com seus empregos ameaçados, a comprar mais coisas para ajudar as empresas. Depois, não terão como pagar suas dívidas.

O terceiro problema é o que fazer. Dirigentes da CUT e do PT têm uma receita pronta para o trabalhador: “não lute, compre. Não faça greves, vá ao shopping”.

Nós, ao contrário, apoiamos o chamado da Conlutas, por uma grande campanha contra as demissões, sob o lema “se demitir, vamos parar”. A proposta da Conlutas é que se realizem reuniões em todo o país, com os ativistas de cada categoria. E preparar um plano de lutas concreto, com chamados a assembléias em cada categoria ou região, para discutir a preparação da luta em caso de demissões. É preciso preparar as ações defensivas dos trabalhadores em cada região e categoria.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 363
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