O primeiro semestre do segundo mandato de Lula vai terminando. Muitas lutas ainda estão em curso com uma importância enorme, como a do funcionalismo federal. Outras, quando escrevíamos este editorial, estão prestes a serem concluídas, como a ocupação e greve na USP.

Mas já dá para tirar algumas lições destes primeiros meses e dessas primeiras batalhas. Os ativistas devem tirar suas próprias conclusões dessas lutas. É importante refletir sobre elas, porque são ensaios das novas batalhas que virão.

Uma nova leva de lutas
A primeira conclusão que podemos tirar é que existe uma maior disposição de luta por parte dos trabalhadores e estudantes.

Não se trata de um fenômeno isolado, porque estamos vendo novas mobilizações na América Latina. Se, no ano passado, o que se destacava era a eleição de governos de “centro-esquerda”, agora começam a haver lutas contra esses mesmos governos.

Tivemos mobilizações entre os professores da Argentina, que colocaram o governo Kirchner na parede. Ocorreu uma greve geral de um dia na em Arágua, na Venezuela, em solidariedade aos trabalhadores da Sanitários Maracay (ocupada e sob controle operário), que foram reprimidos pela polícia do governo chavista. Não estamos dizendo que esses trabalhadores já identificaram seus governos como inimigos. Ainda falta bastante para isso. Estamos dizendo que começam a haver mobilizações de setores importantes que se chocam diretamente com esses governos.

Aqui no Brasil, tivemos greves salariais de distintos setores do funcionalismo estadual, e segue em curso uma paralisação no funcionalismo federal. A CSN de Volta Redonda entrou em greve depois de muitos anos. A LG Phillips e outras metalúrgicas de São José dos Campos também foram à luta. Ocorreram mobilizações de categorias regionais, públicas e privadas, lutas populares com ocupações nas cidades e no campo. A juventude tomou o exemplo da USP e ocupou várias das mais importantes universidades.

O dia nacional de lutas em 23 de maio, como já dissemos, foi a mais importante mobilização nacional em muitos anos, juntando 1,5 milhão em todo o país.

Essa leva de lutas, combinada com a nova crise política, mudou a conjuntura que existia no início do ano, em que o governo ainda colhia frutos de sua vitória eleitoral.

A reação não tardou. Os governos do PT e da oposição de direita recorreram à criminalização dos movimentos sociais. Lula está impondo o corte do ponto aos grevistas do Ibama e do Incra, e quer aprovar um decreto que na prática proíbe as greves. Rogerinho e mais dois diretores da oposição metalúrgica de São Bernardo do Campo (SP) foram demitidos, assim como seis ativistas do Metrô de São Paulo depois de uma greve, uma professora da Conlutas de Recife (PE), 28 diretores do sindicato do funcionalismo de Maringá (PR), etc.

Esta é a primeira lição do semestre: quando o movimento de massas começa a dar seus primeiros passos, a burguesia se apressa em reprimir, junto com o governo Lula e a oposição de direita.

Outra conclusão importante é a de que é possível lutar e vencer a repressão. Rogerinho foi readmitido, assim como os 28 diretores de Maringá.

Uma nova crise política
Ninguém mais estranha o novo festival de escândalos de corrupção. A Polícia Federal, em crise com o governo, inicia uma operação por semana, revelando mais e mais falcatruas no Congresso, nos governos estaduais, no Senado, na Justiça e na família de Lula.

Governo e oposição de direita se revezam no papel de bombeiros, sem nenhum interesse em investigar qualquer uma das denúncias. Sabem que suas próprias falcatruas estão a ponto de vir a público.
É sabido como uma crise dessas começa, mas ainda não se sabe como termina.

Esta é a segunda lição do semestre: os ativistas devem refletir sobre como PT e oposição de direita se movem, buscando uns e outros para abafar os escândalos, enquanto fazem declarações hipócritas contra a corrupção.

Cresce a luta por uma nova direção
Um dos motivos fundamentais para o controle de Lula sobre o movimento em seu primeiro mandato foi o apoio das direções, como CUT e UNE. A principal novidade agora é que as direções governistas perdem espaço e começa a se fortalecer uma alternativa.

Assim foi com o dia 23, construído por uma ampla unidade definida no encontro do dia 25 de março. Todo o plano de lutas teve participação de múltiplas organizações, mas é fato que a Conlutas foi quem mais o impulsionou. E a direção da CUT foi a principal derrotada, por não conseguir evitar as mobilizações nem manobrá-las para que fossem de apoio ao governo.

Assim está ocorrendo com as mudanças em curso no MST. Esse movimento esteve na base de apoio de Lula no primeiro mandato. Agora, sem romper com o governo, está assumindo uma postura mais crítica e participando nas mobilizações de oposição a Lula, como o dia 23 de maio.

O mesmo ocorre no movimento estudantil. A ocupação da USP se desenrolou todo o tempo por fora e contra a direção do DCE e da UNE governistas. A universidade se transformou em uma referência nacional e ali se realizaram um encontro estadual e uma plenária nacional, pontos de apoio para a reorganização do movimento estudantil no país. A Conlute foi parte fundamental nisso. Um novo encontro nacional está marcado para o segundo semestre.

Na última reunião da Assembléia Popular, em Brasília, a Conlutas, o MST e a Intersindical definiram uma proposta de continuidade do plano de lutas unificado em todo o país para enfrentar as reformas de Lula que estão por vir. Isso passa por um ato nacional no Rio de Janeiro na abertura do Pan, um plebiscito nacional na semana da independência e uma grande marcha a Brasília em outubro.

Os ativistas devem tirar suas conclusões. É hora de garantir a vitória nas lutas atuais e preparar os próximos passos. E também de avançar na construção de uma alternativa de direção para o movimento de massas. A Conlutas é parte fundamental dessa nova direção que está surgindo, e deve ser fortalecida. Além disso, a coordenação nacional da Conlutas acaba de propor a unificação com a Intersindical para dar um passo importante nesse sentido.
Post author Editorial do Opinião Socialista nº 302
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