Mesmo que as promessas fossem verdadeiras, é necessário que se diga que, a maioria delas se limita à criação de mais albergues, o que está longe de ser uma solução digna. Para começar, a maioria das entidades que trabalham com a população de rua vive denunciando que a superlotação, a falta de estrutura e atividades fazem com que os próprios moradores se distanciem dos abrigos.

Transformados em depósitos noturnos, os albergues ainda são cheios de problemas, a começar por absurdas regras: os banhos só podem durar 3 minutos, há horários rígidos para praticamente tudo (para entrar, sair, comer etc.) e o não-cumprimento implica em punições (ficar sem jantar, por exemplo). Assim que o morador consegue algum emprego é dado um prazo para sair do albergue. A prefeitura, diga-se de passagem, em qualquer situação, estipula o prazo máximo de 90 dias nos albergues municipais.

O que essas pessoas – que perderam tudo, do emprego aos laços familiares e auto-estima e, às vezes, a sanidade mental – precisam, de fato, é emprego, moradia digna e atendimento médico.

Enquanto não tiverem condições dignas de vida, milhares de pessoas continuarão expostas à violência e aos perigos das ruas e, eventualmente, serão chacinadas. Lamentavelmente, somente neste momento eles ganham destaque na mídia e nos debates políticos. Foi assim no massacre da Candelária, há 11 anos.

E mais: é preciso lembrar que esse tipo de assassinato acontece cotidianamente. Desprovidos de identidade e até de sua própria humanidade, essas pessoas são assassinadas sem que ninguém sequer tome conhecimento.

Para se ter uma idéia da dimensão destes crimes e da impunidade que os cerca, basta citar um artigo publicado em O Estado de S. Paulo, no dia 25 de agosto: dos quatro seguranças entrevistados, todos afirmaram já ter espancado moradores de rua e dois (um deles funcionário de uma empresa pertencente a um sargento da Rota) admitiram que já mataram um sem-teto.

E, se depender do PT e seus aliados, histórias como essa ainda vão se repetir por muitas vezes.
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