A madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 ficará marcada na história com uma tragédia que silenciou centenas de jovens em uma boate da cidade de Santa Maria, com 239 mortos e 134 feridos. O PSTU presta sua total solidariedade aos familiares e amigos das vítimas.

O fato que comoveu o país e mobilizou a opinião pública está longe de ser uma “fatalidade” e não restam dúvidas que poderia ser evitado. O incêndio da boate Kiss representou uma combinação explosiva de ações criminosas, erros e omissões de empresários e dos governantes que acabou gerando um grande desastre. A lógica do capital, de lucro a qualquer custo e a dos governos de favorecer os empresários teve um efeito mortal em Santa Maria. Uma realidade de risco que os jovens e trabalhadores estão submetidos em todas as cidades do país.

Crônica de uma morte anunciada?
Parece até um cenário de uma peça que se encontra pronta para sua estréia: o local ter somente uma saída e a porta ser de tamanho reduzido; o excesso de pessoas no local; artefatos incendiários em um ambiente inadequado para tal; uma espuma que revestia o teto e teria o seu custo reduzido; alvará vencido há seis meses. São estes os principais argumentos veiculados na mídia para justificar o incêndio e as mortes na boate Kiss, um quadro de irregularidade que nos traz à tona o questionamento: como um espaço nestas condições poderia funcionar?

Em meio ao luto de milhares de pessoas, não são plausíveis justificativas que vão no sentido de uma “fatalidade”. A irregularidade está comprovada ao termos mais de 235 mortos. Como um lugar pode se julgar capaz de abrigar mais de 1000 jovens sendo capaz de causar tal catástrofe?

Em nota de solidariedade aos familiares e amigos das vítimas de Santa Maria, a Associação dos Pais das Vítimas da tragédia de Cromañon (Argentina) afirma que “passam os anos e as histórias se repetem”. Em 2004, em um incêndio na boate Cromañon, de situações muito idênticas, 200 jovens perderam a vida, e após oito anos parece-nos um filme que se repete.

Empurra-empurra dos governantes
Achar culpados não deve ser encarado como forma de encerrar tal caso investigativo. O sentimento da população e principalmente dos familiares das vitimas é de que se faça justiça. Deve se questionar a fundo tais responsabilidades, pois o que vimos, logo após a tragédia, com prisões preventivas e depoimentos, foi um verdadeiro “empurra-empurra” diante da tragédia.

O prefeito Cesar Schirmer (PMDB) deve responder porque esta casa noturna possuía alvará para que continuasse a funcionar ou mesmo porque a mesma continuou funcionando com alvará vencido? Deve explicar porque fechou a boate do DCE da Federal de Santa Maria organizado pelos estudantes e não fechou a boate de empresários do ramo?
Em vez disso, o prefeito tem dito que nada sabe e que trata-se de uma fatalidade e tem jogado a culpa no Corpo de Bombeiros do RS.

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), também tem que explicar o porquê do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul demorar tanto tempo para fazer vistorias ou mesmo porque permitiu a liberação do espaço da boate Kiss mesmo tendo apenas uma saída de emergência. A falta de investimentos no corpo de Bombeiros que se reflete em falta de pessoal também foi uma das causas do acidente.

Punir os culpados
Não basta chorar com as vítimas, exigimos do governo Dilma que elabore uma lei nacional de fiscalização destes espaços e garanta que todas as boates sejam novamente inspecionadas a partir de regras muita mais rígidas. Não pode haver regras diferentes em diferentes estados.

A tecnologia da qual dispomos torna o acontecimento algo que desmascara um nível de negligência absurdo das autoridades responsáveis pela fiscalização. Mas  junto a isso, tal fato nos demonstra que a ganância dos empresários também parece não conhecer um limite, nem mesmo a própria vida foi respeitada. O que na lógica capitalista significa “redução de custos”, na materialidade da vida significa um risco constante.

Exigimos a punição dos culpados! Afastamento imediato do prefeito Cezar Schirmer e do Chefe dos Bombeiros e a garantia de uma investigação rigorosa das responsabilidades do governo municipal e estadual!

Exigimos a apuração dos fatos de maneira rigorosa. Incluindo também a responsabilidade do estado do Rio Grande do Sul.A apuração dos fatos deve ser feito em conjunto com uma comissão dos familiares das vítimas e sem segredo de justiça para garantir que de fato os responsáveis sejam punidos.
Devemos repetir o exemplo da tragédia de Cromañon na Argentina quando o movimento social organizado junto com os familiares das vítimas, através de uma grande mobilização social, conseguiram a punição dos culpados, inclusive do prefeito de Buenos Aires.
 

Post author Jeferson Cavalheiro, de Santa Maria (RS)
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