Enchentes expõem a miséria nas grandes cidadesDezenas de milhares de desabrigados com as chuvas de janeiro, 85 mortos em deslizamentos e desabamentos. A tragédia das enchentes no início de 2003 repete o que acontece ano após ano, demonstra o descaso dos governos burgueses com a população pobre nos centros urbanos e expõe limites das administrações petistas.

Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro: numa única madrugada morrem 14 pessoas no desabamento de quatro casas da Favela da Lavadeira.

Taboão da Serra, região metropolitana de São Paulo: sete pessoas de uma mesma família morrem no desabamento de uma casa no Jardim São Judas.

Morro das Pedras, região oeste de Belo Horizonte: seis filhos e três sobrinhos do lavador de carros Antônio Laurêncio morrem soterrados. Entre eles, o garoto Felipe dos Santos, que ficou nos escombros por 15 horas.

Em comum, nos três episódios, os rostos negros e pobres das tragédias, que se repetem ano a ano, cada vez que as chuvas aumentam de intensidade. O perfil dos desabrigados não deixa dúvidas sobre a composição social e étnica dos atingidos. As vítimas estão desempregadas ou sub-empregadas, e habitam áreas de risco pela total impossibilidade de morar num local seguro e decente.

O exemplo de Minas

Minas Gerais, ao lado do Rio de Janeiro, foi o Estado mais atingido pelas chuvas – foram 46 mortos e cerca de 30 mil desabrigados. Com um déficit habitacional estimado de 400 mil moradias, o Estado convive, praticamente todos os anos, com tragédias no período das chuvas. Apesar disso, o investimento governamental emhabitação é mínimo.
Como conseqüência desse descaso das administrações burguesas e do êxodo permanente da população do interior para a capital, proliferam em Belo Horizonte as áreas de risco. São 43 áreas ocupadas por cerca de 15 mil famílias, segundo dados da Prefeitura, dirigida há dez anos pelo PT e partidos aliados.
De 1992 para cá, apesar do custo muito baixo para o assentamento de uma família – cerca de R$ 10 mil – foram concedidas apenas 1.096 moradias definitivas para a população nas três gestões petistas.
Mesmo tendo que lutar contra as restrições do Orçamento Participativo (OP), que abrange 8% do orçamento real da prefeitura, a população das áreas de risco conseguiu indicar algumas obras de infraestrutura e drenagem necessárias aos morros e vilas de Belo Horizonte. Mas o repasse para essas obras segue a passos de tartaruga. Desde 1998, por exemplo, estão parados R$ 3,5 milhões de reais conseguidos pela população do Morro das Pedras, local onde morava a família do Sr. Laurêncio.
A administração petista mantém o discurso da inversão de prioridades. Mas, na prática, os recursos para a construção de moradias e melhoria da infraestrutura desaparecem pelo respeito à sacrossanta Lei de Responsabilidade Fiscal e pela geração do superávit necessário para o pagamento em dia da dívida da Prefeitura. Lamentavelmente, neste terreno, o governo petista de BH se iguala, em irresponsabilidade social, às administrações burguesas no Estado.
Post author Cacau,
de Belo Horizonte – MG
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