Revolta contra sindicato
Diego Cruz

Assembléia em São Paulo derrota traição da Articulação (PT) e PCdoBMesmo com todo o operativo montado pela direção da Fentect para acabar com a greve dos Correios, a assembléia dos trabalhadores realizada na tarde do dia 20 na Praça da Sé, em São Paulo, rejeitou por esmagadora maioria a proposta rebaixada da empresa.

A proposta da empresaa previa apenas 3,75% de reajuste, R$ 500 de abono e R$ 60 de aumento linear a partir de janeiro de 2008. Os trabalhadores reivindicavam 47,77% de reposição, além de R$ 200 de reajuste linear para todos.

Manobra no dia 19
A manobra para pôr fim à greve teve início dia 19, quando 4 dos 7 integrantes do Comando Nacional de Negociação, ligados à Articulação e PCdoB, aprovaram o acordo com a direção da ECT (Empresa de Correios e Telégrafos) e deram por encerrada a greve nacional da categoria. Rapidamente, começaram a espalhar pela imprensa que a greve havia terminado, antes mesmo das assembléias de base.

No entanto, a assembléia de São Paulo, principal base da categoria, rejeitou o acordo, aprovando uma contra-proposta a ser levada para a empresa. A direção do sindicato e da Fentect, porém, ignorou a deliberação da assembléia.

Já na tarde do dia 20, houve a reunião de conciliação no TST (Tribunal Superior do Trabalho), envolvendo o Comando Nacional e a direção da ECT. A direção da empresa retirou a proposta realizada, que foi assumida pelo Tribunal. O TST, além de tentar impor o acordo rebaixado, determinou o prazo de retorno ao trabalho até o dia 21, sexta-feira, às 10 horas da manhã.

A maioria do Comando, ligado à Articulação (PT) e ao PCdoB, reafirmaram a intenção de aprovar a proposta rebaixada.

Indignação contra direção
Em São Paulo, o clima era de indignação contra a traição do movimento de greve. Antes do início da assembléia na Praça da Sé, os trabalhadores olhavam os jornais revoltados por terem decretado por eles o fim da greve. Aos poucos, a indignação foi se transformando em revolta e fúria contra a direção do sindicato, agravado pelo atraso do início da assembléia. Os diretores do sindicato estavam com medo de subir e defender a proposta da empresa para os cerca de mil funcionários que se aglomeravam na Sé.

Quando a assembléia começou, a revolta explodiu em gritos de “pelegos” e “traição” contra o sindicato. O membro do Comando Nacional, José Rivaldo, foi incumbido de defender a proposta, enquanto o diretor da Fentect pela oposição, Geraldo Rodrigues, o Geraldinho, membro da Conlutas, defendeu a rejeição do acordo e a continuidade da greve.

“Essa é a maior greve que essa categoria já fez em anos”, afirmou Geraldinho, que atacou o acordo rebaixado e a traição do Comando de Greve. “Temos que ter na cabeça uma coisa: essa direção não serve para a categoria”, disse, sendo ovacionado pelos funcionários. Geraldinho afirmou ainda que a greve foi desde o início sustentada pelos piquetes e pela base da categoria. “Ficou claro que essa direção, atrelada ao governo e à direção da empresa, não nos serve, sou contra essa proposta miserável e rebaixada”, finalizou.

Já o representante da direção da Fentect pouco conseguiu falar, em meio às vaias e as bolinhas de papel que caíam sob o caminhão de som. Limitou-se a dizer que tinha a “hombridade”, ou seja, a cara-de-pau, de defender a proposta que acordou com a empresa, lendo em seguida os pontos dão acordo protocolado no TST. Para cada ponto, uma chuva de vaias.

Greve continua
A maioria esmagadora dos funcionários aprovou a continuidade da greve, sob os olhares perplexos da direção pelega. “A greve continua, Correios a culpa é sua”, gritavam, enquanto se preparavam para organizar os piquetes para o dia seguinte.