Em assembléias realizadas em todo o país nesta quarta-feira, 12, os trabalhadores da ECT (Empresa de Correios e Telégrafos) resolveram entrar em greve por tempo indeterminado. Esta foi a única solução encontrada pelos ecetistas para se contrapor à intransigência da direção da empresa nas negociações da campanha salarial.

Apenas cinco locais não decretaram greve. Entretanto, em quatro deles – Bauru, ES, MG, SE – as assembléias estão marcadas para os dias 13 e 14. no Mato Grosso do Sul, foi decretado estado de greve.

A categoria deu uma demonstração de força e está disposta a resistir até que a empresa e o governo atendam às suas reivindicações. Os ecetistas só voltarão a se reunir e a avaliar a greve após uma nova proposta da empresa que satisfaça aos anseios dos trabalhadores.

Trabalho precarizado e privatização
A ECT tem hoje cerca de 110 mil funcionários. Metade recebe menos de R$ 800,00 por mês. O salário inicial de um carteiro é de R$ 524,00. não é só o salário que é baixo: os ecetistas também enfrentam péssimas condições de trabalho. Freqüentemente, os carteiros são obrigados a trabalhar com lesões decorrentes do trabalho. A empresa também não garante o fornecimento apropriado de filtro solar, uniformes adequados para as mulheres e segurança no trabalho.

O governo Lula já tem engatilhado um plano de “privatização branca” dos Correios. Segundo informou a agência Chasque, o ministro das Comunicações, Helio Costa, em declaração feita nesta quarta-feira – mesmo dia em que os trabalhadores deflagraram a greve – disse que o governo estuda vender ações da ECT para reestruturação e modernização da empresa. Nos planos do ministro, também está a criação de uma subsidiária para os serviços de logística, ou seja, uma terceirização.

Reivindicações
Os trabalhadores dos Correios rejeitaram a proposta da empresa de reajuste de 3,74% e abono de R$ 400 em duas parcelas. Eles lutam por 47,77% de reposição salarial. O índice se refere à soma das perdas acumuladas no período de 1994 a 2006, de 40,85%, e a estimativa de inflação entre agosto do ano passado até julho deste ano, de 4,91%. Os percentuais foram calculados pelo Dieese.

Os funcionários também reivindicam aumento real único de R$ 200 para todos. Além disso, fazem parte da campanha salarial a luta por periculosidade, implantação do PCCS (Plano de Cargos, Carreira e Salários), abertura de novas contratações e melhores condições de trabalho, segurança nas agências e licença-maternidade de seis meses.

Radicalização atropela governistas
A indignação provocada pela proposta da direção da empresa, assim como os salários defasados e as péssimas condições de trabalho, radicalizaram o movimento. Isso impediu que até mesmo as direções governistas (Articulação, do PT e CSC, do PCdoB) defendessem a proposta da empresa. Tais direções não conseguiram nem mesmo controlar suas bases, a exemplo do dia 23 de agosto, dia nacional de paralisação da categoria.

O desgaste do governo Lula na categoria também aprofunda o desgaste dessas direções no movimento, impedindo o bloqueio das lutas. Foi desta forma que, no último dia 5, as assembléias que antecederam a deflagração da greve fossem bem representativas, apontando para a paralisação.

O PCO, partido com discurso ultra-esquerdista, mas prática da direita, está se desmascarando nessa campanha salarial. Além de defender a CUT, o partido é contra a greve, taxando os trabalhadores de irresponsáveis e dizendo que essa é uma “greve suicida”.

Greve pela base
Os trabalhadores dos Correios realizam atividades e piquetes nos locais de trabalho para buscar a maior adesão possível à greve. Além disso, também estão sendo organizadas atividades públicas, para ganhar apoio e solidariedade ao movimento.

A Conlutas está na linha de frente das mobilizações, chamando a unidade dos setores de luta na organização da greve nacional. Os sindicatos e ativistas da Coordenação Nacional de Lutas defendem a criação de um Comando eleito na base, a fim de impor a negociação à empresa.