Metalúrgicos não votaram na proposta do sindicato
Foto: Adonis Guerra / Sindmetal ABC

Empresa pretendia demitir 2.100 trabalhadores de São Bernardo e preparava outros ataques

 
Os trabalhadores da fábrica da Volkswagen de São Bernardo do Campo rejeitaram, na tarde desta terça-feira, dia 2, um acordo com medidas para “reduzir custos trabalhistas” e cortar 2.100 postos de trabalho considerados excedentes na unidade.
 
Cerca de 9 mil metalúrgicos participaram da assembleia, realizada no pátio da empresa. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a assembleia foi dividida. No entanto, a maioria dos trabalhadores atropelou a direção sindical pelega e votou pela rejeição do acordo.
 
Foi uma clara demonstração da disposição de luta dos metalúrgicos, que não aceitam mais ataques. Enquanto as montadoras receberam bilhões em incentivos fiscais e desonerações do governo, para os trabalhadores sobraram apenas retirada de direitos, arrocho salarial e demissões.
 
Os operários da VW seguem o exemplo de milhares de metalúrgicos da GM de São José dos Campos, que lutam contra a ganância da empresa em aumentar seus lucros e jogar a conta nas costas dos trabalhadores.
 
A união dos funcionários foi essencial para impor essa derrota aos planos do Sindicato do ABC e da VW, que negociaram por meses um acordo rebaixado e que retirava direitos. O plano que tentaram aprovar é um retrocesso até em relação ao acordo assinado em 2012, cuja vigência acabaria somente em 2017.
 
O acordo de 2012 impede qualquer tipo de corte na empresa até 2017, apesar disso, o Sindicato aceitou rebaixar os termos e implantar medidas para permitir a demissão desses 2.100 trabalhadores. O que não esperava, era a resistência dos metalúrgicos que barraram os ataques.
 
Pacote de maldades
A empresa e o Sindicato tinham preparado um verdadeiro pacote de maldades, alegando a necessidade de reduzir custos trabalhistas. Entre as medidas, haveria um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para cortar até 2.100 metalúrgicos, 16% das 13 mil pessoas que formam o efetivo atual da unidade de São Bernardo.
 
O PDV faz parte de um acordo ainda mais amplo, que envolvia outros ataques. Caso aprovado, os trabalhadores teriam “reajuste zero” nos salários em março de 2015. Em 2016, o valor do reajuste seria abaixo da inflação, ou seja, não haveria aumento real.
 
Mesmo com todos esses ataques, a Volks ainda poderia afastar trabalhadores da produção através de medidas como o lay-off. A empresa já utilizou esse mecanismo entre maio e outubro deste ano, quando afastou cerca de 800 operários.
 
Em contrapartida ao pacote de ataques, a VW avaliaria investimentos para a produção de novos modelos na unidade. Hoje a unidade produz os veículos Saveiro e Gol.
 
Ataques não param
A proposta de acordo acontece no mesmo momento em que cinco centrais sindicais pelegas – entre elas a CUT, à qual o Sindicato do ABC é filiado – apresentam um programa para reduzir os salários dos trabalhadores quando as empresas alegarem crise.
 
A medida prevê um corte de 30% nos salários por até dois anos. No entanto, o próprio presidente do Sindicato do ABC, Rafael Marques, defendeu, em entrevista recente, o modelo alemão, que prevê corte de até metade dos salários.
 
Além de livrar os patrões de pagar parte dos salários, o governo abriria mão de vários impostos e ainda usaria dinheiro público para completar parte dos vencimentos dos trabalhadores. Um verdadeiro absurdo!
 
“Os trabalhadores estão mobilizados e deixam cada dia mais claro que não vão aceitar ataques e acordos rebaixados. A união dos trabalhadores é importante para derrotar o governo, os patrões, os sindicatos e centrais sindicais pelegas e barrar os ataques que eles planejam. Os sindicatos combativos devem se unir nessa luta para conquistar avanços”, afirma o diretor do Sindicato Renato Junio de Almeida.

*Com atualização da redação em 4/12/2014, às 17h55