A produção capitalista opõe os trabalhadores de um lado (que são realmente os que trabalham e que fazem tudo) e, de outro, os patrões capitalistas que se apropriam das mercadorias produzidas, as vendem e ficam com os lucros. As lutas básicas por aumentos salariais dos trabalhadores implicam em redução dos lucros dos patrões. Não existe um meio termo, uma “melhoria para todos”. Uns melhoram à custa das perdas dos outros.

Mas os trabalhadores não chegam facilmente à consciência de que são parte de uma classe antagônica à da burguesia. A burguesia é composta por um número bastante pequeno de pessoas e, para manter sua dominação, difunde ideologias que transformam seus interesses nos interesses de “todos”.

Essa é a base da defesa da “cidadania”, que considera que “somos todos cidadãos”, deixando de lado que existem cidadãos operários e cidadãos burgueses. Os reformistas querem sempre apresentar acordos com setores “progressivos” da burguesia como “fundamentais”, “óbvios”.

Essas definições nos vêm à cabeça em função de fatos recentes: o reajuste do salário mínimo e a crise entre Colômbia, Equador e Venezuela.

Meia colherzinha de água a mais…
O governo do PT é a maior expressão na história brasileira dessa farsa, por juntar representantes dos trabalhadores com os da grande burguesia nacional e internacional. O “novo” salário mínimo é a mais nova peça de propaganda desta enrolação.

O governo do PT, ao aplicar pequenos reajustes ao salário mínimo, em essência, mantém um patamar baixíssimo para o mínimo. O arrocho salarial garante altíssimos lucros para as grandes empresas. Mas Lula se apresenta como o “presidente que investe no social por ter vindo do povo”.

Talvez uma comparação clarifique essa discussão. Necessitamos de cerca de dois litros de água para beber por dia para viver. Imaginem que nos estejam torturando e mantendo com metade de um copo por dia. Expulsamos o torturador que estava nos impondo isso e elegemos um outro que afinal nos entrega… uma colherzinha de água a mais por dia a cada ano. Morreremos de sede antes que cheguemos a receber os dois litros de água por dia. Mas o novo torturador ainda faz uma grande propaganda de como está muito preocupado com nossa saúde.

Essa é a conseqüência inevitável da “aliança” com setores “progressivos” da burguesia: os trabalhadores acabam apoiando a aplicação do programa que interessa a esse setor da burguesia, na medida em que não existe “uma melhoria real para todos”.

O tapinha nas costas…
A mesma coisa acontece com Hugo Chávez. A maioria da esquerda apóia Chávez (um governo de um setor da burguesia venezuelana) e Rafael Correa do Equador. O governo Uribe, cão de guarda do imperialismo norte-americano, invadiu o Equador para atacar um acampamento das Farc. Em suma, uma ação gravíssima que exigia uma resposta à altura do conjunto da esquerda latino-americana.

E existiu realmente uma condenação ampla dessa provocação militar, mas muito aquém do necessário, porque a maioria parou no apoio e expectativa do que iam fazer Chávez e Correa. E os governos venezuelano e equatoriano terminaram em abraços e tapinhas nas costas com o governo Uribe.

Os trabalhadores venezuelanos, colombianos e equatorianos não estavam interessados numa guerra, mas numa mobilização conjunta com o imperialismo, que não aconteceu.

Correa não estava interessado em enfrentar realmente o imperialismo. Caso estivesse, reocuparia a base aérea de Manta, no Equador (cedida ao governo dos EUA e que foi usada nos ataques contra o próprio Equador). Chávez não queria, tampouco, atacar o governo dos EUA, ou suspenderia o envio de petróleo venezuelano para o mercado norte-americano. Eles também não estavam interessados em ganhar o apoio dos trabalhadores colombianos para uma luta comum.

Ficaram nos discursos, na mobilização de algumas unidades militares (muito mais para propaganda do que para uma real preparação de guerra). E depois os acordos com discursos e tapinhas nas costas.

Os trabalhadores devem buscar a unidade de suas lutas, tanto a nível nacional quanto internacional. E devem também desconfiar dos representantes dos reformistas e das burguesias “progressistas”, que só querem usar os trabalhadores como base de apoio para projetos burgueses próprios. De um lado estão os trabalhadores, de outro os patrões.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 331
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