Uma das questões políticas mais importantes é a evolução da consciência dos trabalhadores. Hoje, é um fato que estamos diante de um atraso muito grande na consciência de classe do proletariado. Mas nem sempre foi assim.

A consciência classista no passado
O grande levante grevista da década de 1980 teve grandes conseqüências na evolução do proletariado brasileiro. As greves provocaram um avanço na consciência por levar os trabalhadores a começar a se identificar enquanto classe, contra a burguesia, com a qual brigavam.

Surgiram desse levante a CUT e o PT, como grandes conquistas em sua organização. Quem vê o PT e a CUT hoje não pode acreditar que um dia tenham sido muito progressivos. Mas, naquele momento, a CUT era uma nova direção para as lutas, em oposição aos pelegos aliados dos patrões. E o PT era um partido dos trabalhadores, uma alternativa política aos partidos patronais que existiam.

A conseqüência das greves e do surgimento da CUT e do PT foi a generalização de uma consciência classista entre as massas dos centros operários mais importantes. Não foi por acaso que o PT teve nas primeiras eleições a palavra de ordem de “trabalhador vota em trabalhador”, posteriormente abandonada.

No entanto, a burocratização da CUT e a direitização do PT levaram a um atraso na consciência. A CUT passou a defender os interesses dos patrões, com as câmaras setoriais que estabelecem os bancos de horas e os acordos rebaixados. Não existia mais uma luta contra os patrões, mas “interesses comuns” entre trabalhadores e empresários.

O PT passou a defender a “cidadania”. Os interesses dos “cidadãos operários” e “cidadãos burgueses” eram os mesmos.

O longo refluxo das greves facilitou esse retrocesso na consciência, impulsionado conscientemente pela CUT e pelo PT. Como já não existiam os conflitos, era mais fácil impor uma ideologia de colaboração de classes.

O salto para trás
A chegada do governo Lula deu um salto para trás na consciência. Ou, falando de outra maneira, ampliou muito a confusão na cabeça dos trabalhadores. De repente, eles acreditavam que tinham chegado ao governo através de Lula. O principal dirigente da história dos trabalhadores chegava ao governo. Agora, sim, o país iria mudar.

Mas, na verdade, Lula era uma nova cara para mais um governo da burguesia. Seu plano econômico e político era o mesmo dos governos anteriores. Ou seja, os trabalhadores passaram a confundir um governo da burguesia com um falso governo dos trabalhadores, um inimigo com um aliado.

Essa não é uma mudança fácil na consciência dos trabalhadores. Não se chega à consciência de classe apenas por uma conversa, pelos argumentos de uma discussão, mas pela experiência prática com o governo Lula.

A primeira gestão de Lula não possibilitou completar essa experiência. Embalado pelo crescimento econômico, o governo petista pôde seguir enganando os trabalhadores, que terminaram atribuindo ao Lula “que veio de baixo” as pequenas conquistas do crescimento econômico, como a diminuição no desemprego, o reajuste do salário mínimo, além da Bolsa Família.

E agora, é possível mudar?
Agora, existe uma possibilidade de mudança. A crise econômica internacional está chegando ao país através do crescimento da inflação. As greves começaram a sacudir o país no primeiro semestre. Tivemos mobilizações localizadas, mas de muita importância e radicalização, como a dos operários da construção civil de várias cidades. E agora estão se preparando as campanhas salariais de setores fundamentais dos trabalhadores, como metalúrgicos, petroleiros e bancários. Vão ocorrer choques não só com os patrões, mas com o governo e com a CUT pelega de hoje.

Isso acontecerá no meio da campanha eleitoral, quando os dois grandes blocos burgueses (o bloco governista PT-PCdoB-PMDB e o da oposição burguesa PSDB-DEM) tentarão monopolizar a atenção e os votos dos trabalhadores.

O PSTU utilizará toda a sua campanha eleitoral para buscar apoiar as lutas salariais dos trabalhadores e combinar essas experiências das lutas com um avanço em sua consciência.

Vamos estar presentes nas greves, lado a lado com os piquetes. E vamos ceder nosso tempo na TV para divulgar e apoiar as lutas.

Vamos defender também a independência de classe dos trabalhadores em relação à burguesia, buscando criar um terceiro campo, oposto aos dois pólos da burguesia. Um campo dos trabalhadores contra todos os outros da burguesia.

Chamamos uma frente com o PSOL para formar esse campo. Em algumas capitais do país, isso se concretizou através de uma frente eleitoral. Em outras cidades, isso foi impossível porque o PSOL aceitou fazer parte de frentes com partidos da burguesia, como o PV em Porto Alegre ou o PSB em Macapá.

Será importante lutar para que a experiência concreta de uma luta salarial contra os patrões se amplie para uma luta política contra esses mesmos patrões e seus representantes. Trabalhador unido com trabalhador, nas campanhas salariais e nas eleições.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 348
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