Direção da IMBEL obriga operários a voltarem ao trabalho em meio à pandemia
Renata França, do PSTU e diretora do Sindicato dos Metalúrgicos de Itajubá-MG

Mesmo com o crescimento vertiginoso dos casos de COVID-19 no país, grande parte das fábricas segue suas atividades normalmente, ainda que produzam mercadorias que não são essenciais para o salvamento das vidas ou para subsistência das pessoas. É o caso da IMBEL, Indústria de Material Bélico do Brasil, uma empresa estatal que produz armamentos militares, como fuzil, pistolas, carabinas, facas, munições, pólvora e explosivos.

Todos os dias, as trabalhadoras e trabalhadores da IMBEL saem de seus lares carregando a incerteza de que podem se contaminar. Desde o trajeto, em ônibus lotados, na produção em si onde as peças e ferramentas passam de mão em mão, no refeitório ou no uso do banheiro que é compartilhado por dezenas, o risco de contágio é iminente.

Após 30 dias de licença remunerada, a empresa retomou o funcionamento em 22 de abril adotando um protocolo de segurança, com a medição da temperatura no início do turno, fornecimento de álcool em gel e uso obrigatório de máscara. Contudo, forneceu apenas uma máscara desde então, e mesmo tomando todas as precauções, essas medidas não garantem 100% de proteção. Prova disso é que nas duas últimas semanas 8 trabalhadores já foram afastados com sintomas da COVID-19.

Aos trabalhadores não resta escolha. Afinal, abandonar o emprego e morrer de fome ou se expor ao vírus e morrer da doença não é uma escolha, e sim uma sentença. Essa é a sentença que o capitalismo impõe à classe trabalhadora e ao povo pobre; mostrando que este sistema podre não garante sequer o nosso direito a vida!

Não somos bucha de canhão!

A IMBEL é uma empresa estatal, vinculada ao Ministério da Defesa. Neste sentido, manter uma atividade não essencial como a produção de armamentos, não se justifica pela necessidade de obter lucros ou para que a empresa não feche as portas. Sequer para garantir o pagamento dos salários dos trabalhadores, que já estão em previsão orçamentária da União. O que está por trás, então, de retornar as atividades fabris, obrigando os trabalhadores a quebrar a quarentena, é a política genocida de Bolsonaro e dos militares.

Para esses senhores, a vida dos trabalhadores e suas famílias não valem nada e por isso nos fazem de bucha de canhão.

O resultado é uma tragédia anunciada. Em Itajubá, onde fica a maior planta da IMBEL, já foram notificados mais de 740 casos suspeitos, sendo 13 confirmados e 80 descartados. Como os testes são escassos, o restante dos casos está sem confirmação, o que demonstra que há uma enorme subnotificação dos casos de COVID-19. A cidade tem apenas 30 leitos com respiradores, contando os novos leitos construídos pela Prefeitura, para atender toda a cidade e microrregião que abarca mais 13 cidades.

As empresas estatais deveriam estar a serviço de salvar vidas

Tão criminoso quanto expor a vida dos trabalhadores ao vírus, é não colocar as indústrias estatais do país a serviço das necessidades mais urgentes para vencer a pandemia: salvar vidas! Será que Bolsonaro acredita que as armas vão salvar a vida dos mais de 110 mil adoecidos pelo COVID-19 em todo país?

A IMBEL tem 5 plantas produtivas no país, com um parque industrial diversificado, especializado em diversos processos químicos e de metalurgia, que poderia produzir respiradores, máscaras, luvas, leitos de UTI e equipamentos hospitalares em geral. Nessa situação de guerra contra o Coronavírus, cada respirador a mais, pode salvar uma vida. Nada mais justo do que uma indústria estatal reconverta sua produção e a coloque a serviço das necessidades humanas.

Mas Bolsonaro, prefere salvar os lucros do que preservar a vida, forçando o relaxamento da quarentena para os operários de todo o país. Nas fábricas estatais, como a IMBEL, o governo impõe o retorno ao trabalho; nas empresas privadas, através de Medidas Provisórias, permite aos patrões reduzirem os salários e direitos trabalhistas, demitirem em massa, e ainda os isenta de pagarem seus impostos.

Se os governos não fazem, tomemos em nossas mãos a tarefa de conter a pandemia

Se depender das medidas de Bolsonaro, dos militares ou dos governantes estaduais e municipais, milhares serão assassinados! Toda essa corja está comprometida com os interesses dos ricos. Só os trabalhadores e o povo pobre organizado podem salvar as próprias vidas e a humanidade da irracionalidade deste sistema capitalista.

Por isso, os trabalhadores da IMBEL, em defesa das suas vidas, iniciaram uma campanha exigindo a licença remunerada a todos, com estabilidade no emprego e salário integral; e pela reconversão da produção industrial para equipamentos médicos, como respiradores, leitos, máscaras e equipamentos hospitalares; e aos trabalhadores que se voluntariarem a seguir trabalhando nesta nova configuração produtiva, a redução da jornada sem redução de salários.

É necessário que os trabalhadores tomem em suas mãos a tarefa de salvar a humanidade dessa pandemia catastrófica. Para colocar a riqueza e tecnologia a serviço de salvar as vidas, é urgente que empresas estatais, como a IMBEL, Petrobrás, Correios estejam sob controle dos trabalhadores, que as empresas privatizadas, como a EMBRAER, Vale, CSN, entre outras, sejam imediatamente reestatizadas sob controle dos trabalhadores e que todo o sistema de saúde privado (hospitais e indústria farmacêutica) seja estatizado! Cabe aos trabalhadores que tudo produzem, também decidirem o que produzem, como e para que.