Durante cinco dias, os 2.400 funcionários da Mina Casa de Pedra, em Congonhas (MG), enfrentaram e venceram a intransigência e a truculência de Benjamin SteinbruchEram 5h30 do dia 26 de maio, em uma manhã fria e com neblina, quando os trabalhadores da CSN começaram a chegar ao transbordo da Mina Casa de Pedra para a assembleia que decidiria os rumos do acordo coletivo 2011.
Os trabalhadores já haviam demonstrado disposição de luta, em uma paralisação de 24h ocorrida na mesma semana. Agora restava saber se aguentariam a pressão de uma greve por tempo indeterminado.

O Sindicato Metabase Inconfidentes acreditava que a greve passaria, mas precisava preparar os trabalhadores para as dificuldades que teriam que enfrentar.

O combinado
“Votada a greve, fiquem em casa, não entrem nos ônibus para trabalhar; desliguem os telefones, para que nenhum ‘chefe mala’ pressione vocês a trabalhar. Se o sindicato fizer a sua parte e vocês fizerem a de vocês, nossa greve tem tudo para ser vitoriosa”.

Com este combinado, a greve foi aprovada com 70% dos votos nas assembleias que ocorreram ao longo do dia.

O sindicato aguardou então o melhor momento para deflagrar a greve. Seria na madrugada de sexta para sábado, às 5h da manhã, “letra A” pegando serviço (a melhor turma). E assim foi. Durante todo o fim de semana os turnos foram parando um a um e aderindo à greve. Pouca gente entrava nos ônibus para trabalhar e os que entravam, desciam assim que chegavam aos piquetes. A greve começou forte no setor da produção!

Enfrentando a truculência da CSN
Na segunda-feira começaria a batalha para que o setor administrativo aderisse. Era um momento importante. A CSN começou então sua contraofensiva.
Com uma liminar obtida no final de semana em Barbacena, a CSN impôs um interdito proibitório que determinava que o sindicato não poderia fazer mais piquetes, nem parar os ônibus.

A Polícia Militar se alinhou à empresa e impôs a passagem dos ônibus pelos piquetes através da força. Uma parte do administrativo entrou. Outra parte ficou em casa.
No dia seguinte, a luta continuava. A empresa ligou para a casa de todos, dizendo que quem não entrasse nos ônibus seria demitido ou perderia benefícios. Colocou seguranças armados dentro dos ônibus. Convenceu alguns trabalhadores a dormirem dentro da mina e impediu outros de voltar para casa. Contratou 150 seguranças para intimidarem a peãozada.
Um momento dramático da greve em que era preciso apelar para a opinião pública.

Ganhando o apoio da população
Centenas de grevistas e apoiadores de todo o estado, organizados pela CSP-Conlutas, desceram para o Monteirão, que se transformaria na praça central da greve. Ali, começaram a discutir com a população que na greve estava em jogo uma parte do futuro da cidade.

As mineradoras estão destruindo Congonhas. Destroem serras, acabam com mananciais de água, poluem a cidade com poeira e rejeitos, e a riqueza extraída vai toda para os acionistas, nada para os trabalhadores e a população; a cidade não comporta mais a expansão das empresas e sofre com falta de moradia, escolas, saúde pública e saneamento.

Foi assim que toda a cidade passou a apoiar a greve e isolou a CSN. Associações de moradores, igrejas, estudantes, trabalhadores da saúde, vereadores e até a prefeitura falaram em apoio à greve. A população trazia comida e água para os piquetes, e vereadores entraram na mesa de negociação do lado dos grevistas. Foi aí que a CSN começou a perder a greve.

Uma greve histórica
Na quarta-feira saiu uma proposta de acordo. Não era o que os trabalhadores queriam, mas uma nova proposta: 8,3% de reajuste, R$ 250 de cartão alimentação, nenhuma punição aos grevistas. Tínhamos dobrado a CSN.

Foi realizada então uma grande assembleia em que os trabalhadores aprovaram o acordo e voltaram ao trabalho. Mais do que a vitória (parcial) econômica, ficou a lição da greve: é possível lutar e é possível vencer!

Desde 1988 não havia uma greve na CSN. Uma nova categoria, de jovens totalmente inexperientes, mas com muita disposição de luta, enfrentou e venceu a empresa. Por isso esta foi uma greve histórica, que poderá se espalhar como um rastilho de pólvora por toda a região.

O minério é nosso!
O PSTU participou ativamente da greve da CSN. Estivemos nas reuniões do comando, na linha de frente dos piquetes, nas manifestações.

Mas a maior vitória para o PSTU foi ter lançado a campanha “O minério tem que ser nosso” como uma discussão importante na greve. Isso ajudou a evitar o isolamento do movimento e pressionou a CSN a negociar.

Agora, o desafio é organizar um comitê da campanha na cidade, para discutir os royalties sobre a mineração; a defesa da Serra Casa de Pedra; o combate à poluição; a necessidade de investimentos em infraestrutura e agregação de valor ao minério.
A semente foi lançada, mas a luta continua!

Post author Hermano Rocha, de Belo Horizonte (MG)
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