As linhas de produção da Boeing, uma das mais poderosas corporações do mundo, pararam depois da meia-noite de 6 de setembro, quando uma negociação de 48 horas chegou ao fim e os membros da Associação Internacional de Mecânicos (IAM, em inglês) entraram em greve. Esta é a quarta greve da IAM nos últimos 20 anos – seguindo as paralisações anteriores em 1989, 1995 e 2005 – e a sétima na história da associação. Na quarta-feira (10), a greve entrava no quinto dia sem perspectiva de negociação.

A IAM representa 27.500 membros na Boeing – 25 mil na região de Washington Puget Sound; 1.200 em Portland, Oregon; 700 em Wichita; e 70 na base aérea de Edwards, na Califórnia. Os mecânicos representam 16% da força de trabalho da empresa.

No piquete fora da principal planta da Boeing – e agora silenciosa -, onde mais de 20 mil membros da IAM trabalham, Jun Delos Santos, empregado há um ano, trabalhando na estrutura de um 777, resumiu como os mecânicos se sentem em relação à Boeing: “Não gosto de fazer greve. Tenho duas crianças e mulher. Mas se não entrarmos em greve por isso agora, quem vai lutar por isso? Ninguém. Se eles podem acabar conosco agora, eles irão fazê-lo a cada contrato. Em todo contrato eles irão simplesmente oprimir os menores. E isso me deixa realmente furioso”.

Essa raiva ficou evidente no dia 3 de setembro quando os membros da IAM, por uma retumbante margem de 80%, votaram contra a “última, melhor e final” oferta da Boeing. Então, por uma margem ainda maior de 87%, eles votaram autorizando o líder da entidade a chamar uma greve.

Mas, em vez de chamar a paralisação, Mark Blondin, antes presidente do distrito 751 da IAM que, desde a última greve de 28 dias em 2005, foi promovido a coordenador nacional aeroespacial da IAM, anunciou que o sindicato havia concordado em retornar à mesa de negociação com um mediador federal por 48 horas.

A filial da IAM de Seattle imediatamente explodiu num coro de vaias, enquanto mecânicos furiosos gritavam para Blondin e para o atual presidente do distrito 751, Tom Wroblewski.

Enquanto os dois lados realmente se encontram num hotel da Walt Disney em Orlando, na Flórida, onde a IAM está realizando sua convenção internacional, os mecânicos poderiam ter estado em greve. Como avaliou o jornal Seattle Times em 6 de setembro, de acordo com relatos de membros da IAM, cerca de 30% dos trabalhadores ficaram em casa na quinta e na sexta-feira em vez de trabalhar durante a negociação de 48 horas.

As principais questões nessa luta são aposentadorias, salários, a alta dos planos de saúde e a terceirização.

A Boeing está oferecendo um aumento nas pensões de US$70 a US$80, o que aumentaria a aposentadoria mensal de um mecânico após 30 anos de trabalho em 14%, de US$2.100 para US$2.400. É uma melhora, mas para o sindicato não é suficiente. Os executivos top da Boeing que ganham US$3 milhões por ano recebem uma pensão anual de US$1,4 milhão, ou US$120 mil por mês – ou 50 vezes o que um mecânico ganharia.

A Boeing oferece uma soma total, com pagamento apenas no primeiro ano, mais um bônus de ratificação de US$2.500 e um aumento de salário de 11% sobre o contrato de três anos (5%, 3% e 3%). O sindicato pede 13% de aumento nos três anos.

Ao comentar a proposta de salário que não cobre a inflação em alta, Jun Delos Santos disse: “Sei bem que agora não recebemos tanto como novos rapazes, mas futuramente, à medida que progredirmos, seremos mais bem pagos. Mas ainda não é suficiente. Do jeito que as commodities estão subindo, os preços estão subindo, a gasolina está subindo, nós não podemos agüentar. Não tem como”.

Qualquer ganho de salário seria contrabalançado pelo aumento dos gastos com assistência médica. Entre vários aumentos a Boeing tentou empurrar um reajuste para uma família de três ou mais de US$4 mil para US$6 mil anuais.

O principal assunto da negociação gira em torno da terceirização. De acordo com o site TheStreet.com, cerca de 70% do trabalho de fabricação de uma aeronave na Boeing é feito por empregados de fora. Como resultado, a IAM está pressionando para garantir no acordo que nenhum membro do sindicato seja demitido por causa da subcontratação. A Boeing recusou essa interpretação.

A Boeing poderia facilmente atender às demandas da IAM. Está cheia de dinheiro. Desde que o último acordo foi ratificado, os lucros têm chegado a US$8,5 bilhões. A companhia fez US$13 bilhões desde 2002, com US$4,1 bilhões apenas no ano passado. Os lucros superaram US$2 bilhões no primeiro semestre deste ano.

Está claro que a empresa esperava usar a formação antidemocrática do sindicato em seu proveito.

A Boeing depende de uma mudança na força de trabalho para empurrar seus acordos. De acordo com o site Bloomberg.com, em 2005, quando 18.500 trabalhadores entraram em greve, havia apenas 37 mecânicos com idade abaixo de 30 anos. Agora são 2.300 porque a Boeing chamou trabalhadores demitidos e contratou novos empregados.

Enquanto a média salarial dos maquinistas é de US$54 mil por ano, mais de 4 mil maquinistas fazem menos de US$30 mil, de acordo com o sindicato.

A impressionante votação pela greve provou que a direção da empresa não pode comprar os trabalhadores mais jovens. Pessoas como Jun Delos Santos, que ganha pouco mais que US$13 por hora, mostram por que. Perguntado sobre qual seria o principal tema da greve para ele, disse: “Para mim, quero cuidar dos meus irmãos aqui do sindicato que estão se aposentando. Tenho um amigo aqui que quer se aposentar, mas não pode porque a assistência médica é muito cara”.

Tradução de Marisa Carvalho