Gráficos ocupam a planta da fábrica

Trabalhadores gráficos de Buenos Aires ocupam há uma semana a planta da Artes Gráficas Rioplatense (AGR). A decisão se deu de maneira espontânea logo na segunda-feira (16), quando os trabalhadores se depararam com a planta fechada e com um aviso comunicando a demissão de cerca de 380 trabalhadores.

A AGR pertence ao grupo Clarín, maior grupo midiático da Argentina e é responsável pelos jornais Diário Clarín, Todo Notícias, pela Rádio Mitre e o Canal Eltrece (o segundo maior do país). O grupo, que também atua na tv por assinatura e na internet, tem como principal acionista Hector Magnetto, além de uma pequena parcela das ações nas mãos do Goldman Sachs (grupo financeiro dos Estados Unidos) e outra controlada pelo governo argentino.

Assembleia dos trabalhadores da AGR-Clarín

Reforma trabalhista
A patronal alega a crise do setor para o fechamento da planta, que era responsável pela impressão de importantes revistas como a Viva, Directions, Geniuses, Cablevision e outras. No entanto, os trabalhadores rebatem dizendo que tudo não passa de uma manobra para aprofundar a flexibilização direitos direitos e das condições de trabalho.

No final de semana anterior à ocupação da fábrica, nos dias 14 e 15, os trabalhadores haviam decidido em assembleia por uma vigília de 48 horas nos portões da fábrica. Segundo eles, o processo de esvaziamento da planta já estava em curso, com o deslocamento de insumos para outras fábricas, incluindo 16.000 rolos de papel destinados a um depósito no exterior.

Atualmente, o governo do presidente Maurício Macri tenta aplicar em todo país um plano de ajuste fiscal que prevê, entre outras coisas, a reforma trabalhista com flexibilização de direitos e precarização das condições de trabalho. As medidas tem grande apoio da patronal e, indiretamente, de centrais sindicais pelegas e reformistas.

Cobertura escandalosa
Durante essa semana, o Diário Clarín chegou a atacar a luta dos trabalhadores gráficos em suas páginas. Em uma matéria publicada na terça-feira, sem assinatura de nenhum jornalista, o jornal destacou que um grupo de 40 manifestantes havia tomado violentamente a planta da AGR, quebrando janelas, portas e câmeras de segurança. A matéria ainda alega que todas as tentativas da empresa de negociar a situação foram rechaçadas por intransigência da comissão de trabalhadores. Em nenhum momento da matéria é mencionado o fato de a AGR pertencer ao Grupo Clarín.

Manifestação da categoria dos gráficos em apoio à ocupação da AGR-Clarín

Repressão
Uma manifestação em apoio à ocupação da planta da AGR foi convocada pela Federación Gráfica Bonaerense para essa última quinta-feira (19). Houve paralisação de toda a categoria na capital e centenas de manifestantes se reuniram no Obelisco de Buenos Aires, marco turístico da cidade, em apoio à ocupação. O ato percorreu as ruas da cidade até o Ministério do Trabalho.

Nesse mesmo dia, em frente à fabrica, houve repressão. A polícia argentina havia cercado a fábrica e chegou disparar contra os trabalhadores nos portões da fábrica e contra suas famílias, que formaram comissões de apoio à ocupação. Em vídeos que circularam nas redes sociais, é possível ver muitos trabalhadores feridos com balas de borracha, denunciando também o uso de gás de pimenta.

Diante do ocorrido, várias organizações de esquerda estão convocando manifestações para a próxima semana.

Polícia argentina reprimiu violentamente trabalhadores e seus familiares