Luiz Marinho com o presidente Lula e a primeira-dama
Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil

Em meio a campanhas salariais de peso, como as de bancários, metalúrgicos, petroleiros e outras, o presidente da CUT, Luiz Marinho, anunciou pela imprensa a proposta de um “pacto social” no qual “cada agente econômico teria de ceder” para “evitar queSegundo Luiz Marinho, a proposta do “pacto social” teria o objetivo de evitar que uma alta da inflação obrigue o Banco Central a aumentar os juros. Na verdade, a Central governista, e amiga da Fiesp, mais uma vez oferece na bandeja a cabeça dos trabalhadores em benefício da patronal.

Na proposta da CUT, em três anos de pacto “pelo crescimento sustentado e contra o aumento dos juros”, o governo reduziria ou abriria mão de impostos para o setor industrial e também “aliviaria” os bancos baixando impostos sobre operações financeiras e reduzindo o compulsório (dinheiro que os bancos precisam deixar no Banco Central). Os empresários se comprometeriam a evitar aumentos de preços e a investir, e os banqueiros, a diminuir o spread bancário.

Os trabalhadores “reduziriam a pressão por recomposição salarial”, segundo Marinho, justo no momento em que, pelo crescimento da economia, existem melhores condições para mobilizações por melhores salários.

O pacto idealizado pela CUT teve o aval de Lula, de empresários de peso e, no dia 3 de setembro, foi levado oficialmente ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que saudou entusiasmado a proposta.

Outro que não poupou elogios à CUT foi o atual deputado do PP e ex-ministro da ditadura, Delfim Neto. Para ele, “o fato de a proposta não ter sido feita por algum economista phD ingênuo, e sim por um metalúrgico inteligente, mostra que o país está mesmo mudando”. Não é de se estranhar o entusiasmo de Delfim com a CUT atual; afinal, quando ministro, ele ficou famoso por ter fraudado os índices de inflação e, assim, confiscado os reajustes devidos aos trabalhadores e por defender que era preciso primeiro fazer crescer o bolo para depois dividir. Não é preciso dizer que a classe trabalhadora nunca recebeu nem um pedacinho desse bolo.

Tem coisa ainda pior nesse pacto

Mas não seria só o arrocho salarial que um pacto dessa natureza reservaria para os trabalhadores. Esse “entendimento nacional” em “favor do crescimento sustentado”, como não esconde o presidente da Fiesp, embute apoio e conivência à pauta de reivindicações do empresariado contra os trabalhadores. O próprio Skaf anuncia que definiu com a CUT a seguinte pauta: necessidade de investimento em infra-estrutura, apoio à votação das PPPs (Parcerias Público-Privadas – o maior assalto do empresariado e das multinacionais aos cofres públicos depois das privatizações) e contenção dos juros.

Num “pacto” dessa natureza os trabalhadores engolirão, além do arrocho, as reformas Sindical e Trabalhista com ampla flexibilização de direitos, como a perda das férias e do décimo-terceiro salário. Enfim, todo aumento da exploração que a patronal reclama para “ganhar competitividade”.

É por essas e por outras que a CUT, enquanto entidade de luta, morreu.

*com Fábio Bosco, de São Paulo

SAIBA MAIS

o Pacto de la Moncloa foi inspirador dessa proposta

Sempre que aparece a proposta de “pacto social”, é lembrado o exemplo do Pacto de la Moncloa, realizado na Espanha em 1977.

A ditadura franquista, após 40 anos de domínio, começou a ruir em 1975, depois que a classe trabalhadora promoveu inúmeras lutas e greves.

A burguesia para não perder o controle do país, firmou um pacto, no Palácio de la Moncloa em Madri, com os partidos e organizações sindicais reformistas – como o Partido Comunista (PCE) e o Partido Socialista (PSOE) – para uma “transição democrática” e a posterior convocação de eleições.

O capítulo mais importante do pacto era um acordo de limitação dos aumentos salariais a um teto inferior à inflação e de restrição das greves de trabalhadores.

Em 1982, o PSOE venceu as eleições e Felipe González, o chefe de governo socialista, dedicou seu mandato a implantar o receituário neoliberal na Espanha. O pacto de la Moncloa amarrou os trabalhadores e permitiu ao PSOE impor uma dura política de “ajustes” e de privatizações das estatais.

Nesse período, houve forte aumento do desemprego, redução dos salários reais da classe operária e precarização das relações de trabalho.
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