A Sabesp está prestes a impor à população um racionamento draconiano. Fala-se de um rodízio de cinco dias sem água por semana. Como viver praticamente a semana toda sem água, um bem essencial à vida?

O absurdo é que embora o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e seus secretários neguem, já há um forte racionamento sendo imposto à população. Sob uma suposta “redução de pressão”, vários bairros, a maioria da periferia, sofrem com falta de água há meses. Há casos de até 18h por dia sem água, em bairros como Vila Brasilândia, Aricanduva, Cidade Tiradentes, Sacomã, etc.

Na TV se multiplicam as matérias “ensinando” a população a economizar água. Desde como tomar banho e lavar louça a maneiras criativas de tentar garantir o fornecimento de água em casa, com engenhocas inventadas pelo povo a partir da dura necessidade com a falta d´agua.

Em resumo, mais uma vez, a população é chamada ao sacrifício. Como se o banho diário fosse o vilão, depois de São Pedro, de uma das maiores crises hídricas do estado. Como se fosse resolver a grave crise.

Ora, primeiramente, não há dúvidas sobre os responsáveis pela crise no estado mais rico do país. O avanço da privatização da Sabesp e o descaso com que o governo do PSDB tratou o tema do abastecimento de água nos últimos anos é que impediram que estivéssemos preparados para enfrentar o atual período de estiagem. Ambientalistas e técnicos têm denunciado exaustivamente esse fato. Já falamos sobre isso.

Em segundo lugar, é claro que, diante da atual situação, economizar e evitar o desperdício são medidas emergenciais de curto prazo óbvias. A questão, contudo, é quem e como deve se economizar e o que fazer estrategicamente para garantir água para o povo.

A campanha do governo coloca a responsabilidade quase que exclusivamente na população. Só não explica que o uso doméstico, na verdade, é responsável por apenas 10% do consumo de água no país, segundo dados da própria Agência Nacional de Águas (conjuntura de recursos hídricos no Brasil 2013). O agronegócio (em geral para a irrigação de monocultura de soja e milho para exportação) e a indústria são os maiores consumidores.

Sem contar, que por problemas na rede da Sabesp, cerca de 40% da água tratada é desperdiçada com vazamentos e tubulações podres.

Portanto, com o racionamento, é preciso definir quais são as prioridades no fornecimento.  Nesse sentido falta novamente transparência por parte da Sabesp e do governo Alckmin. A empresa se nega, por exemplo, a informar sobre os chamados “contratos de privilégio” com cerca de 500 empresas que recebem altos volumes de água. Juntas, elas consomem, em média, 1,9 milhão de m³/mês e têm desconto de até 40% como benefício pelo contrato.

Segundo um estudo do professor da USP e presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, grandes empresas pagam pelo metro cúbico de água, em média, apenas R$ 0,02. Isso mesmo, dois centavos! Um preço pra lá de irrisório! Isso acontece especialmente nas regiões do estado dominadas pelo agronegócio (grandes usinas de álcool e fazendas).

Para nós o consumo humano deve ser prioritário. Todos sabem o caos sanitário e humanitário que uma brutal crise no abastecimento pode causar. Hospitais, escolas, creches também devem ter água garantida.

Acima de tudo nossa proposta é por fim ao processo de privatização da Sabesp, reestatizando o que já foi vendido a acionistas privados, para acabar com a lógica que trata um bem essencial como a água como mercadoria e simples fonte de lucro.

Defendemos também sobretaxar as grandes empresas e o agronegócio que mais consomem água. São eles que devem pagar mais caro pela captação deste recurso natural, e não o povo, que hoje é quem paga mais caro e sofre com a falta d´água.

Só a luta vai garantir que os governos atendam as necessidades da população, principalmente dos mais pobres que já estão sendo afetados e estão tendo de andar com a lata d´água na cabeça.

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Toninho Ferreira é presidente do PSTU de São José dos Campos e suplente de deputado federal