Presidente entrega Ministério da Saúde por mais alguns votos no Congresso Nacional

Dilma foi às compras. E do que ela precisa? De votos e apoio no Congresso Nacional, tanto para aprovar o ajuste fiscal e barrar medidas como o reajuste dos servidores do Judiciário quanto para brecar os pedidos de impeachment que estão na mesa do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E o que ela tem para oferecer? Ministérios e cargos que envolvem dinheiro. Muito dinheiro.

Para ter o apoio do PMDB, se manter no cargo e, ao mesmo tempo, aprovar o ajuste fiscal para os banqueiros, Dilma entregou os principais ministérios para o partido de Cunha, incluindo o Ministério da Saúde. Setor esse que, mesmo com todos os cortes, conta com o maior orçamento de todos. São R$ 121 bilhões para os políticos do PMDB se esbaldarem. Ou seja, em troca de apoio no Congresso, Dilma entregou a Saúde e outras pastas para notórios corruptos.

Repartindo o pão
Esse foi o sentido da tal reforma ministerial feita pela presidente. O PMDB é um grande partido de aluguel que reúne vários grupos que são verdadeiras máfias. Assim, nessa ida à feira de Dilma, ela negociou com todo mundo e loteou o governo. Saúde fica com Marcelo Castro (PMDB-PI), do grupo de Leonardo Piciani (PMDB-RJ), o cara que comanda o chamado baixo clero do partido, formado por aqueles deputados que ficam na surdina só esperando cair alguma migalha para devorarem.

Já Eduardo Cunha, que acabou de ser denunciado pela Justiça suíça por ter contas naquele país (veja ao lado), ganhou de presente mais um ministério. A presidente indicou para a Ciência e Tecnologia o nome de Celso Pansera (PMDB-RJ), chamado pela própria imprensa de pau mandado de Cunha. Sabe o que ele fez para merecer o apelido? Quando Cunha foi denunciado pelo doleiro Alberto Youssef, Pansera pediu para a Justiça investigar a família de Youssef e sua advogada! O deputado foi acusado ainda de ameaçar aqueles que denunciassem Cunha. É ou não é coisa de bandido e mafioso?

Papel de Lula
Com o desmoronamento da gestão de Dilma, Lula tenta, em frente às câmeras, se descolar do governo. Criticou o ajuste fiscal e os cortes com o objetivo de se cacifar para a disputa eleitoral de 2018 ou até antes se for o caso. No entanto, o ex-presidente costurou o balcão de negócios dessa reforma ministerial e trabalha para salvar o governo Dilma. Tudo isso para que o governo continue impondo o ajuste fiscal e atacando nossos direitos.

Ficha corrida

Mais sujo que pau de galinheiro

O presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já estava enrolado na Operação Lava-Jato. Nada menos que seis delatores denunciaram o envolvimento de Cunha no esquema de corrupção que desviou bilhões da Petrobras. O deputado foi acusado de, entre outras coisas, ter recebido US$ 5 milhões de dólares em propina.

Um empresário preso na Operação Lava-Jato relatou ter depositado a grana da propina numa conta da Suíça. E, surpresa! O Ministério Público da Suíça repassou ao Ministério Público daqui a informação de que Cunha tem quatro contas em seu nome e de familiares. Isso porque o deputado, em depoimento à CPI da Petrobras, disse que não possuía nenhuma conta no exterior. Uma história que já cansamos muito de ouvir.

Agora, Eduardo Cunha fica calado e finge que não é com ele. Só por mentir à CPI, ele já deveria perder o mandato de deputado. Mas segue lá como presidente da Câmara e ainda ganha ministérios de presente do governo Dilma.

Paparicos
O PSDB, por sua vez, comprova que é tão hipócrita quanto o governo do PT. O líder dos tucanos na Câmara, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), reafirmou o apoio de seu partido a Cunha. Segundo ele, “enquanto não houver informações adequadas que comprovem o envolvimento de Cunha, o PSDB vai manter sua posição de apoio ao presidente da Casa”.

A acusação de seis delatores na Lava-Jato e uma investigação do Ministério Público suíço por lavagem de dinheiro e corrupção, além de quatro contas documentadas naquele país, para os tucanos, não é suficiente. Talvez seja preciso que o próprio dinheiro falasse para que o PSDB rompesse com Cunha. Talvez,  nem assim.

Eduardo Cunha, que assume a Presidência caso a chapa Dilma e Temer caia por ação do Tribunal Superior Eleitoral, é bem a cara desse Congresso Nacional corrupto. Discursa pela redução da maioridade penal, manobrou em favor do financiamento das campanhas eleitorais por empresas privadas, defende as terceirizações e tudo o que tira direitos das mulheres e LGBTs. Ao mesmo tempo, tem uma folha corrida mais suja que pau de galinheiro.

Terceiro campo

Construir na luta uma alternativa classista

O governo Dilma traiu os trabalhadores, atacou direitos e impõe um ajuste fiscal sem precedentes. Agora, acuada por uma crise política causada pelo desgaste de suas próprias escolhas, como a de jogar o custo da crise nas costas dos trabalhadores e da maioria da população, rifa ministérios importantes ao setor mais corrupto do Congresso.

A única saída para a classe trabalhadora é ir às ruas para enfrentar e por abaixo esse governo. E, junto com isso, derrotar também as alternativas da burguesia que se candidatam a tomar o lugar de Dilma, como o corrupto Eduardo Cunha e o também corrupto Aécio Neves.

É hora de sair às ruas e, a exemplo do que foi o ato do dia 18 de setembro em São Paulo, fortalecer uma alternativa dos trabalhadores à crise contra esse governo e, também, contra Cunha, PMDB e PSDB. É esse o sentido do Outubro de Lutas, aprovado no Encontro dos Trabalhadores e Trabalhadoras, no dia 19 de setembro, que reuniu 1.200 pessoas, além de 140 entidades sindicais e dos movimentos sociais.

O objetivo é dar sequência à marcha do dia 18, fazendo grandes manifestações nos estados. Plenárias estão acontecendo em várias regiões. Quando fechávamos essa edição, já estavam marcados protestos no Rio de Janeiro, no Ceará, no Pará, em Minas Gerais, no Rio Grande do Norte e no Piauí.

“No dia 15 de outubro, vai haver uma grande mobilização nacional dos estudantes em defesa da educação e contra os cortes do governo, e o Movimento de Mulheres em Luta também vai se mobilizar por creches”, informou Sebastião Carlos, o Cacau, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas.

Próximos protestos

22 de outubro
Ato em Fortaleza e em Teresina

23 de outubro
Ato no Rio e em Natal

28 de outubro
Ato em Belo Horizonte

27 ou 29 de outubro
Ato em Belém

Publicado originalmente no Opinião Socialista nº 506