É necessário e possível disputar a classe trabalhadora para outro projeto

O ano 2013 começou com uma importante luta de resistência às demissões na GM de São José dos Campos (SP). A tendência ao aumento da polarização social cresce, ainda que no marco do apoio majoritário ao governo e com reflexos ainda limitados da crise econômica em nosso país. A resposta do governo tem sido mais incentivo aos capitalistas, desoneração da produção e incentivo ao consumo e ao crédito para os trabalhadores. Empurra a crise com a barriga, sabendo que o Brasil já sente os primeiros reflexos.
Embora não seja um fenômeno generalizado, a desaceleração em setores da indústria está levando à ameaça de fechamento de fábricas, pela patronal, como a Novellis e Liasa, em Minas Gerais. No apagar das luzes de 2012, a Vulcabrás\Azaleia fechou várias fábricas na Bahia. Já a companhia aérea Gol demitiu centenas de trabalhadores oriundos da Web-Jet, e bancos, como o Itaú e Santander, promoveram milhares de demissões. Há, portanto, uma importante reorganização em setores da economia, com consequências negativas para os trabalhadores.

Lutas
Lutas seguem ocorrendo nesse início de ano, com destaque para a vitoriosa greve dos operários do Comperj que ultrapassou a burocracia sindical; a luta dos servidores públicos municipais de Teresina, dirigida pelo Sindserm e a greve no porto de Santos. E tanto o governo quanto os patrões seguem com uma política de ataques aos trabalhadores e criminalização das lutas.  
Junto com isso, há uma antecipação do debate eleitoral com a defesa de um segundo mandato para Dilma, enquanto o PSDB responde com a candidatura de Aécio Neves. Outros setores burgueses também se movimentam, como o PSB. E a ex-Senadora Marina Silva acaba de lançar seu partido, junto com Heloísa Helena, que rompeu com o PSOL, e outros políticos de partidos burgueses.
As alternativas da frente popular e da direita são iguais no que diz respeito ao enfrentamento da crise. Nesse aspecto, há uma unidade programática quanto ao que fazer para enfrentar a crise e garantir os lucros dos capitalistas.
É necessário construir, sem desconsiderar as mediações da realidade e o peso social ainda reduzido da esquerda socialista, outro campo por fora das alternativas burguesas e da frente popular.

Novos ataques podem vir por aí
A agenda do governo para esse ano está recheada de ataques direto a nossa classe. Além da proposta do ACE, há pelo menos outros cinco projetos de lei tramitando no Congresso, com o objetivo de desbloquear o caminho para a flexibilização dos direitos trabalhistas.
A desoneração da folha de tributos das empresas, da contribuição previdenciária e outras medidas de desoneração fiscal que o governo vem adotando será compensada por um ataque brutal ao direito à aposentadoria, o fator 95/105 (leia ao lado).
Essas são exigências das grandes empresas em todo o mundo. É o que fomenta a crise e a luta nos países da Europa. É o que leva a GM a ameaçar fechar suas portas em São José dos Campos. Para responder à crise, os capitalistas precisam manter, recuperar e ampliar suas margens de lucro.
Construir a resistência a esses processos é o único caminho para evitar que os ataques em curso se transformem em derrota de nossa classe e imponham um retrocesso aos trabalhadores no Brasil.

A importância da jornada de lutas
A jornada que a CSP-Conlutas e outras entidades vem construindo é imprescindível para que os trabalhadores se coloquem em campo, enfrentem as medidas do governo e dos patrões e incidam sobre os setores majoritários do sindicalismo, atrelados aos projetos do governo.
A jornada pode se converter numa importante ação de setores da classe, fortalecendo a unidade e coordenando as lutas.
Para isso é necessário ir à base e fazer uma intensa agitação política das reivindicações levantadas na jornada, denunciando as medidas do governo e dos patrões e apontando outra saída, de nossa classe, para a crise. Essa ação é fundamental para formar a massa crítica necessária para os enfrentamentos que seguramente virão, com a intensificação da crise e consequentes ataques aos direitos dos trabalhadores.

Avançar no processo de reorganização da classe
A CSP-Conlutas segue se afirmando como principal pólo organizado, ainda que minoritário, de resistência às políticas de governo. A jornada deve servir para avançar na unidade com outras organizações que, rompendo a disciplina imposta pela CUT e demais centrais governistas, estão conosco na defesa dos interesses dos trabalhadores. Não haverá um desenlace positivo no enfrentamento ao governo sem a construção de organizações de massa, que possam mobilizar a classe em defesa dos seus direitos imediatos e históricos.
Um bom exemplo é o que ocorre no campo hoje. O governo Dilma tem os índices mais baixos, desde o governo Sarney, de assentamentos e distribuição de terra. Ao mesmo tempo, o agronegócio tem sido um dos setores mais beneficiados pela política do governo. É um setor da economia que tem segurado os índices de crescimento e está em estreita relação com o governo Dilma. A Feraesp (Federação de Assalariados Rurais de São Paulo) e o MST do Pontal do Paranapanema (SP), ao lançarem uma campanha de mobilização contra o agronegócio, se colocam como alternativas aos ataques que vem sofrendo os trabalhadores do campo.
Entre os servidores federais, um dos setores mais atacados desde o governo Lula e que, em 2012, realizou a mais longa greve da história, num processo de unificação no qual a CSP-Conlutas teve papel decisivo, ocorre o mesmo, com a Condsef e outras entidades se colocando à frente da mobilização em defesa do funcionalismo.

Construir na base a jornada e a marcha a Brasília
Os ativistas do movimento sindical, dos movimentos populares e da juventude estão chamados a construir a jornada e a marcha a Brasília no dia 24 de abril, o que exigirá um grande esforço de toda a militância.
A marcha  é chamada pela  CSP-Conlutas e diversas organizações, como a CUT Pode Mais, CNTA, Cobap, Condsef, CPERS e entidades nacionais e sindicatos locais. O objetivo é defender os direitos sociais e trabalhistas e denunciar a política econômica do governo federal que resulta nesses ataques.
Em cada luta que ocorrer ou campanha salarial que se inicia, a realização da marcha deve ser uma referência no calendário. A jornada busca unificar e dar um sentido comum às lutas em curso. Não se trata de agitar apenas um discurso politizado nas categorias e movimentos sociais, mas construir a unidade na luta em torno a um programa de enfrentamento aos patrões e aos governos.
Com esse desafio, estamos convocados a ir às bases e organizar uma ampla agitação no próximo período, combinada com a mobilização de setores da classe, com iniciativa e política junto aos trabalhadores.
 

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