Na Venezuela prossegue a paralisação parcial levada a cabo pelos golpistas que têm como principais objetivos: a derrubada de Chavez, o fim da República Bolivariana e o estrangulamento do processo revolucionário.

Envolve uma aliança conspiradora com os setores mais reacionários da sociedade: Que vão desde a federação patronal FEDECAMARAS até a burocracia corrupta da Central dos Trabalhadores de Venezuela, passando pela oligarquia decadente, a alta burocracia da estatal Petroleos de Venezuela (PDVSA); militares ligados a antigas oligarquias; burocratas adecos e copeianos (partidos da burguesia – AD e Copei) varridos dos aparatos do estado nas ultimas eleições; a alta hierarquia de direita da igreja católica (da Conferencia Episcopal da Venezuela) e os donos dos grandes meios de comunicação, todos coordenados pelo imperialismo norte-americano.

Em meio da preparação da Guerra contra o Iraque o Imperialismo necessitaria de um porto seguro para a produção de petróleo, para o caso de um eventual prolongamento da guerra.

Nós do PSTU chamamos o repúdio a esta tentativa golpista, e uma campanha de solidariedade por parte de todos os trabalhadores do campo e da cidade de nosso país a este processo revolucionário, que apesar da política conciliadora de seu presidente, Hugo Chavez, resiste com todas as suas forças.

LOCKAUT E BOICOTE PATRONAL COM APOIO DO IMPÉRIO

Esta é a quarta “greve geral” convocada pelos golpistas. Uma delas levou ao golpe carmonista de 11 de Abril, as outras resumiram-se em rotundos fracassos.

A diferença desta paralisação é que incidiu no funcionamento de PDVSA (a Petrobrás deles) e na produção e distribuição de combustível. De início paralisou o refino, o que foi barrado pela ação dos petroleiros com a ocupação das refinarias. Mas agora estão, com o apoio dos oficiais da marinha mercante (que recusam a levar seus navios para carrega-los) e com a sabotagem no transporte, impedindo o transporte e criando um clima de caos. Todos os informes apontam de que há petróleo nas refinarias e nos tanques, os problemas ocorrem com a distribuição.

A intervenção imperialista no processo fica claro quando os navios que deveriam carregar o óleo para os EEUU somam-se ao boicote. Se recusam a transportá-lo, prejudicando ainda mais a saída do produto.

A não ser por este fato político e noticioso de maneira geral a greve segue o mesmo caminho das anteriores, o comercio em Caracas só está parcialmente parado, nos bairros populares e operários funciona normalmente, o transporte também corre, assim como as demais atividades.

No entanto, não é isso que é transmitido pela televisão. A mídia é claramente golpista, divulga uma paralisação de mais de 80% e propagandiza o boicote e a sabotagem, enervando o humor do povo venezuelano, que vê claramente a mentira nas telas das televisões e nas manchetes dos jornais.

A RESISTÊNCIA OPERÁRIA E POPULAR SE ENFRENTA COM OS GOLPISTAS

O governo tem reagido de maneira tímida e parcial para com os golpistas, até mesmo para tirar de seus cargos os gerentes de PDVSA que atuaram na sabotagem.
O principal medo de Chavez é que qualquer atitude do governo reforce o processo revolucionário e se aprofunde a revolução. Não mobiliza os setores mais populares para a luta, e mesmo assim muitos dos mais explorados se movem.

Os trabalhadores da Zona Industrial de Valência decidiram tomar o depósito de gasolina de Yagua (os golpistas correram de medo ao virem os operários chegando) e começaram a garantir a distribuição de gasolina que estava escasso na região.
Os petroleiros tomaram o Complexo Jose em Puerto La Cruz (são 60 mil trabalhadores no total) colocaram para fora a gerência de PDVSA e estabeleceram o controle operário da produção. Foram apoiados pelos metalúrgicos de Guayana que viajaram cerca de oito horas de ônibus, do Orinoco a Anzoategui, para rechaçar o golpe e apoiar seus companheiros.

Em Caracas, a população e os pequenos comerciantes realizam os “megamercados“ vendendo alimentos pela metade do preço, prestando serviços sociais (como de saúde) e realizando shows e comícios.

Indignada, a população vem cercando e atacando as redes de televisão que mentem descaradamente e trabalham pela contra-revolução.

Os militares em sua maioria estão com o processo revolucionário. Os destaques valem para os pára-quedistas da base “Libertador“, de Maracay, os soldados do Forte Tiuna em Caracas, os infantes da Marinha de Cátia La Mar e os policiais grevistas da Policia Metropolitana de Caracas e do Município Libertador. Mas há militares com os golpistas, como os de Plaza Altamira e policias, como a de Baruta, Chacao e Carabobo a serviço dos golpistas.

O GOVERNO CHAVEZ BUSCA UM ACORDO COM O IMPERIALISMO

O governo busca uma saída negociada via novas eleições, colocando como exigência: que se faça isso dentro do marco da legalidade vigente e que se propicie o clima para sua execução.

A estratégia dos golpistas é derrubar ou conseguir a renúncia de Chavez. Mas para substitui-lo necessitam de novas condições institucionais para garantir sua vitória. Todas as pesquisas afirmam que ele tem pelo menos 35% do eleitorado do pais.
Por isso além das eleições querem: mudanças na lei eleitoral (por exemplo um 2O turno a estilo do Brasil) e o maior controle do Conselho Nacional Eleitoral. Já tem o controle do Tribunal Supremo de Justiça, que absolveu todos os militares golpistas, com a justifica de que não houve golpe e sim vazio de poder em 11 de Abril.

Isso não quer dizer que não possa ocorrer uma ditadura sangrenta, o problema é que sabem que isso lhes custaria caro, por causa da capacidade de resistência do povo venezuelano e das péssimas repercussões internacionais, ainda mais as vésperas de uma Guerra no Oriente Médio. Mas não é uma hipótese totalmente descartada pelos setores mais fascistas da burguesia e do imperialismo.

O mediador desta negociação é o secretário geral da OEA e carniceiro político César Gaviria, que foi presidente da Colômbia, que com a trama da Constituinte de 91 destroçou os movimentos guerrilheiros do M-19 e EPL além de dar a cobertura para o assassinato de dezenas de dirigentes das FRCs e ELN.

Este “agente conciliador“ do imperialismo tem como sua tarefa central a tenaz pressão sobre o governo Chávez pela sua capitulação completa, o que por exemplo poderia se dar através da produção de uma Emenda Constitucional que viabiliza-se as proposta da oposição golpista.

OITO MESES DE CONCILIAÇÃO PERMITIRAM AOS GOLPISTAS ESTE ATAQUE

O golpe de 11 de Abril foi derrotado por uma insurreição popular de massas que paralisou e dividiu as FFAA e obrigou os golpistas a recuarem.

No entanto a partir daí Chavez vem pregando a reconciliação nacional com os golpistas burgueses. Não deu nenhum passo no sentido de realizar mudanças econômicas ou sociais que favorecessem os mais explorados. Não deixou de pagar um centavo da dívida. Continuou a fornecer regularmente o petróleo aos EEUU. Não prendeu os golpistas. Não destituiu das FFAA os militares conspiradores. Nem mesmo demitiu os membros da direção de PDVSA que conspiravam e que hoje sabotam a produção.

Desta maneira – com esta política de conciliação – a oposição além de manter suas posições avançou em alguns setores, resguardada pela impunidade.

OS VENEZUELANOS NÃO PODEM COLOCAR SEU DESTINO NAS MÃOS DE CHAVEZ

Esta política de Chavez levará a revolução à derrota, e à vitória dos golpistas. O povo venezuelano começa a ver isso e se pergunta “Até quando“.

É necessária uma mudança brusca de política e de combate aos conspiradores. Já existem setores das massas que começam a se radicalizar e observar as organizações políticas e sociais de base e de vanguarda que defendem uma saída revolucionária sem conciliação.

Estas organizações se expressam por meio de panfletos, discursos, programas de rádio, Internet, a qual lhes dá uma cobertura respeitável, mas atomizada e não coordenada.

Este é um momento chave para a coordenação da organização de ações ofensivas que permitam manter a população mobilizada e ir construindo o poder popular alternativo.

É necessário:
1- Prisão imediata dos golpistas, sabotadores e conspiradores, dando um fim à impunidade. Confisco de todos os seus bens
2- Expropriação dos grandes meios de comunicação que apoiaram o golpe e sua estatização sob controle dos trabalhadores. (Venevisión, Rádio Caracas e RCTV, Televen entre outros).
3- Expropriação dos meios de produção dos empresários golpistas e que participam do Paro Nacional, assumindo a palavra de ordem de “Fabrica cerrada, fabrica ocupada“ sob controle dos trabalhadores.
4- Se os bancos não reabrirem, expropriação.
5- Dissolução da Fedecamaras e da CTV. Que os trabalhadores construam sua organização sindical independente.
6- Destituição de toda direção de PDVSA e que esta fique sob controle dos trabalhadores. Demissão de todos os altos funcionários que participaram do golpe. Por uma PDVSA democrática a serviço de todos os venezuelanos.
7- Fechamento da embaixada dos inspiradores do golpe, Estados Unidos e Espanha
8- Dissolver e “refundar“ os corpos policiais implicados na repressão golpista como a Policia Metropolitana de Caracas, as Policias de Baruta, Chacao e Carabobo.
9- E para consolidar o apoio popular é fundamental avançar em medidas transicionais que combatam a miséria da maioria da população com um Plano Econômico de Emergência que: suspenda imediatamente o pagamento da Divida Externa; congele os preços dos produtos de primeira necessidade; aumente salários; pague um bônus de emergência para toda a população pobre e dê estabilidade no emprego por tempo indeterminado.

Para isso estas organizações reivindicam:

1 – Assembléia Nacional das Organizações Revolucionárias
2 – Controle de energia, transporte e alimentos, frente a ameaça de novas sabotagens
3 – Não a saída eleitoral. Não confiemos e nem confiaremos no Conselho Nacional Eleitoral, nem nos meios de comunicação encarregados de difundir a campanha dos candidatos.
4 – A exigência por treinamento militar e entrega de armas as milícias populares que ajudem as Forças Armadas Nacionais (FAN) a defender o processo revolucionário. Estas milícias devem estar subordinadas as organizações populares.
5 – Controle Operário da produção, distribuição e das comunicações. Basta de sabotagem.

Nós do PSTU nos juntamos ao chamado destas organizações e defendemos e reiteramos a necessidade de desenvolver uma campanha de solidariedade com o povo venezuelano em apoio ao processo revolucionário e contra os golpistas burgueses e imperialistas.