Na manhã do dia 3 de novembro, a programação do Encontro Nacional de Negros e Negras da Conlutas começou após uma apresentação musical e a declamação de uma poesia de Bertolt Brecht, Vosso tanque general. Houve uma segunda mesa com a apresentação das teses, desta vez debatendo o movimento negro e o plano de lutas. A primeira apresentação de teses, com tema de conjuntura, ocorrera no dia anterior à tarde.

Dayse Oliveira apresentou a tese “Uma luta de raça e classe”, iniciando sua fala com a importância do debate sobre reparações. “O Estado tem uma dívida com o povo negro. Todos os trabalhadores são explorados, mas trabalhadores negros são mais explorados ainda. A educação para os trabalhadores é ruim, mas para trabalhadores negros é pior. Por isso a importância da bandeira das reparações para o movimento negro”, disse. Ela ressaltou ainda que “o Bolsa Família, o Fome Zero, nada disso é reparação, isso é submissão. Reparação tem a ver com cotas e que cotas queremos. Queremos a negrada nas universidades públicas, não queremos a negrada na privada. Por isso combatemos o Prouni”.

Além de apresentar este e outros pontos da tese, Dayse finalizou propondo a criação de um movimento: “o congresso de negros e negras do Brasil tem a proposta de fundir todos os movimentos numa nova entidade, sob uma linha governista. Aqui neste encontro, vamos votar um programa de luta, mas como botar isso em prática? É fundamental construir um movimento negro, uma alternativa, que seja socialista, anticapitalista, de oposição ao governo Lula, classista. Queremos construir um movimento para que possamos incidir na luta e dar uma resposta aos trabalhadores negros deste país”.

A tese “Hora de Lutar”, do Coletivo Comunista Internacionalista, foi apresentada por Edmilson. Ele também falou sobre as reparações, afirmando que “o mito da igualdade racial serve para dizer que não tem que ter reparação nenhuma. Além de cotas, é preciso discutir o fim do vestibular. Esta é a melhor forma de lutar por reparações nas universidades. Dizem que não dá para fazer isso, mas é só parar de pagar a dívida que dá”.

Edmilson também defendeu “o armamento e a autodefesa do povo negro. Eu não quero confiar a minha segurança à mão da burguesia”. Com base nisso, defendeu também que a Conlutas envie armas à resistência haitiana à ocupação liderada pelo Brasil no país. “Não estamos dizendo que eles devem construir um movimento armado. Eles é que têm que escolher suas formas de luta. Se eles escolheram, eu tenho que apoiar”. Esta questão foi polêmica no encontro, pois há diferenças na avaliação das condições objetivas, do que existe de resistência no Haiti hoje. Edmilson também defendeu a criação do movimento negro e disse que é preciso realizar um grande ato no dia 20 de novembro deste ano.

A tese “Construindo a Conlutas como uma ferramenta de luta revolucionária para o povo negro”, do MTL-RJ, foi apresentada por Julinho e Sebastião, que dividiram o tempo disponível para uma apresentação.

Sebastião também ressaltou o tema da autodefesa, dizendo que “se fala muito em autodefesa, mas é preciso aprovar esta autodefesa e ver como aplicar. Queremos que a Conlutas vá para dentro da favela, pra levar este projeto”.

Julinho desenvolveu o tema da violência: “a Conlutas também tem que repudiar a lei da redução da maioridade penal. Ela serve para cada vez mais excluir e prender menores que estão por aí sem uma política pública, em especial as crianças negras”.

Após as explanações, os participantes foram para o almoço. À tarde, dividiram-se nos grupos de discussão temáticos.