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Fora todos eles: Fora Dilma, Temer, Cunha e esse Congresso Nacional

No último dia 24, enquanto boa parte dos trabalhadores recebia a família para o tradicional almoço de domingo, em Brasília o vice-presidente Michel Temer tinha uma visita especial no Palácio do Jaburu. O dia fora reservado para um longo encontro com o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Paulo Skaf. No cardápio, no lugar daquela farta macarronada e frango de padaria, algo bem mais indigesto.

O encontro durou seis horas, segundo relatos da imprensa. Oficialmente, serviu para debater a “situação fiscal da União” e, segundo Skaf, Temer teria assegurado que, assumindo a presidência, não aumentaria os impostos. Ainda segundo o presidente da Fiesp, eles não chegaram a discutir a composição de um eventual governo Temer. O que é mentira, evidentemente. Em seis horas de reunião Temer e Skaf puderam debater até a escalação do XV de Piracicaba.

Mas o que de fato foi discutido entre as quatro paredes do Jaburu? Muito provavelmente, um conjunto de medidas que está se desenhando para ser uma espécie de plataforma de um futuro governo Temer e que tem como centro aquilo o que o governo Dilma implementava mas que, com o aprofundamento da crise, não conseguiu mais: jogar a crise nas costas dos trabalhadores e da grande maioria da população.


Skaf visitou Temer no domingo. E não foi para assistir Domingão do Faustão

Um programa dos banqueiros, empresários e latifundiários
O ponto reforçado por Skaf, a resolução da crise fiscal sem o aumento dos impostos, é a principal bandeira da Fiesp, simbolizado pelo esdrúxulo pato inflável. E o seu significado é simples: manter a desigual e injusta estrutura tributária do país, em que os ricos sonegam e não pagam quase nenhum imposto, enquanto os trabalhadores e a população arcam com todos os custos. Arcam com os próprios lucros dos empresários e com os gastos do Estado.

O tão alardeado ajuste fiscal, assim, significa aumentar o repasse da renda aos ricos. Você mantém esse sistema tributário, mas corta ainda mais do pouco que escorrega para as áreas sociais, como Saúde e Educação.

Mas essa é apenas a ponta do iceberg. As propostas que estão na mão de Temer vão muito além. Entre elas está a desvinculação dos benefícios sociais com o reajuste do salário mínimo. Benefícios sociais, para quem não sabe, não é apenas Bolsa Família, mas os próprios benefícios previdenciários. A medida representaria um grande ataque à Previdência pública e aos mais de 21 milhões de aposentados e pensionistas que já sobrevivem precariamente com um salário mínimo de fome.

Desvincular parece ser a palavra de ordem. Dentro disso, prevê-se ainda a desvinculação dos chamados “gastos obrigatórios” do Orçamento. Mas não aqueles destinados ao pagamento da dívida pública e que consomem quase metade de tudo o que é arrecadado todos os anos. Mas sim gastos como Saúde e Educação, principalmente, abrindo o caminho para cortes ainda mais profundos nessas áreas para irrigar os cofres dos banqueiros através da dívida.

Parece muito? Ainda tem mais. Parlamentares da Frente Parlamentar Agropecuária se reuniram nesta terça, 26, e preparam um documento em que pedem a Temer o uso das Forças Armadas para mediar conflitos por terras. Em bom português: recrudescer a repressão e os assassinatos de sem-terras e indígenas cujo aumento já vinha ocorrendo sob os governos do PT.

E quem vai fazer isso?
Os nomes cogitados por Temer e sua camarilha para formar um novo governo não são motivos de espanto. Não por coincidência, os primeiros a serem sondados para dirigir a política econômica do novo governo são velhos conhecidos do PT. Henrique Meirelles, ex-diretor do Bank of Boston, foi presidente do Banco Central do governo Lula. Outro nome que circulou na lista de Temer foi Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica de Lula. Mostram que o que se pretende não é uma guinada de 180 graus na política econômica do governo do PT, mas uma sequência no que já vinha se fazendo. A reunião entre Delfim Neto e Temer comprova isso claramente. Até mesmo o grilo falante de Lula para a economia continua o mesmo.

O fato novo é que ninguém quer encarar a tarefa. Meirelles, Lisboa e Armínio Fraga, outro convidado a integrar o governo, demoveram gentilmente do pedido e se dispuseram a “ajudar” no que for possível Temer. De longe, é claro. Tirando o afoito José Serra, nem mesmo o PSDB está convencido em embarcar com os dois pés na canoa de Temer.

Isso acontece porque eles sabem que um eventual governo Temer não será um passeio em águas tranqüilas. Recente pesquisa Ibope revela que nada menos que 62% dos brasileiros querem que tanto Dilma quanto Temer saiam. Entre os mais jovens, na faixa de 16 a 24 anos, o percentual atinge 70%. A popularidade do vice de Dilma anda tão baixa que ele mal consegue andar duas quadras sem ser xingado.


Meirelles para Temer: vai indo que eu não vou

Mais que isso, analistas de mercado consideram praticamente impossível os tais “ajustes estruturais” exigidos pela burguesia dada a ilegitimidade desse governo. Você tem o seguinte cenário: um governo impopular apoiado por menos de 30% das pessoas, com uma base parlamentar que, ainda que pareça grande agora, é extremamente instável e que vai ser impossível Temer domesticar atendendo todas as promessas de cargos e dinheiro realizadas para a aprovação do impeachment, e uma crise econômica e social que só tende a se aprofundar mais num contexto de lutas como a que vemos hoje no Rio de Janeiro.

Não é por menos que a burguesia segue extremamente dividida, já que não vê por hora uma saída segura no horizonte.

Fora todos eles
O governo Dilma está caindo. Temer negocia com os banqueiros e empresários a conformação de um novo governo que aplique o programa que o PT não mais consegue. Dilma, Temer, e o Congresso Nacional se desgastam rapidamente na proporção em que a crise econômica e social se aprofunda.

A saída, do ponto de vista da classe operária e dos trabalhadores não é apoiar Dilma, ou lutar para que volte caso passe o impeachment no Senado, como quer a CUT. Tampouco é apoiar Temer como fazem a Força Sindical, a UGT, entre outras centrais. Mas impor uma greve geral para que, através da mobilização, todos caiam. O PSTU defende um governo socialista dos trabalhadores, apoiado em conselhos populares. Enquanto não temos conselhos construídos nas lutas, defende eleições gerais já, para que povo escolha quem deve entrar no lugar de Dilma ou Temer.