Detalhe de página no site da TAM
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O primeiro mandamento da principal empresa aérea do país resume a filosofia das companhias de aviação no Brasil. A frase, idealizada pelo fundador da empresa, faz parte dos “7 mandamentos” da TAM e consta no próprio site da companhia. Serve para lembrar que, mesmo com as investigações sobre as razões do acidente do vôo JJ 3054 inconclusas, é unânime que um dos principais fatores que contribuíram para a morte das 200 pessoas em Congonhas foi a ganância das grandes empresas aéreas e a conivência criminosa do governo.

Como afirma o 4º mandamento, “a maneira mais fácil de ganhar dinheiro é parar de perder”. E para a TAM perder dinheiro parece significar a precarização do maquinário e a terceirização dos serviços, abrindo mão da segurança em troca do “insubstituível” lucro. Em mensagem aos seus acionistas, a TAM se orgulha de ter, a partir de 2003, implementado um drástico plano de redução de custos aliado à uma maior utilização de suas aeronaves.

Como afirma trecho da mensagem aos acionistas: “A TAM entende que o sucesso da implementação de sua estratégia está intimamente ligado à redução de custos e ao melhor aproveitamento do capital empregado. Pretende atingir esse objetivo por meio de:

– manutenção de uma frota padronizada, eficiente e flexível: a TAM continuará a manter o tamanho da sua frota otimizada (…), de maneira a manter um baixo custo para sua manutenção e operação, e uma alta utilização de suas aeronaves”.

Mais adiante, seguindo sua estratégia de lucro a qualquer custo, a própria companhia exemplifica sua política de utilizar ao máximo cada avião:

“Em 31 de dezembro de 2005, a taxa de ocupação média de suas aeronaves era de 71%, e a média de horas voadas por aeronave era de 12,2 horas, ao passo que, em 31 de dezembro de 2004, a taxa de ocupação média de suas aeronaves era de 66% e a média de horas voadas por aeronave era de 10,3 horas”.

No entanto, não são apenas as aeronaves que sofrem o desgaste da “estratégia” da empresa, mas sobretudo os funcionários da TAM, que são submetidos à pressão e sobrecarga de trabalho. No último dia 24 funcionários da empresa se reuniram com o presidente da Companhia, Marco Bologna. Ao fim da reunião, prometeram entrar com processos na Anac contra a sobrecarga de tarefas que desgastam os trabalhadores. Nesse caso específico, torna-se ainda pior a super-exploração, dado que o setor envolve atividades de alto risco. No acidente de Congonhas, 31 funcionários morreram enquanto trabalhavam.

Aplicando essa “estratégia”, a TAM faturou, só em 2006, R$ 555,9 milhões, tendo crescimento de 174% em relação ao ano anterior.

Pressão e conivência criminosa
A lógica da TAM é seguida pelas demais empresas de aviação e encontram, pelo lado do governo, a conivência da Anac e da Infraero. A pressão das companhias aéreas fez a estatal responsável pelo controle dos aeroportos liberar a pista principal de Congonhas, mesmo sem os términos da reforma pelo qual passava. Reforma esta aliás, contratada sem licitação e levada a cabo por duas empreiteiras, a Queiroz Galvão e a OAS, envolvidas no desabamento das obras da linha 4 do metrô, também em São Paulo.

Tal pressão não se dá por nada. Reportagem publicada no jornal Folha de S. Paulo revela que o aeroporto responde por 30% a 35% de todo o lucro da TAM e da GOL. Funcionando como apêndice das grandes empresas, a Anac e a Infraero recusaram apelo feito pelos pilotos e controladores de vôo para interditar a pista, liberando sua utilização antes do fim das obras.

Mais uma vez, quem paga é o povo
Para coroar de vez a atuação vergonhosa dos órgãos oficiais na tragédia, o governo já anunciou o aumento das tarifas como forma de melhorar a segurança dos vôos e aeroportos. Desta forma, além de mais recursos, diminuiria-se o números de passageiros e, portanto, o risco de desastres.

Ou seja, como se tudo isso não bastasse, a punição recai sobre a população pobre, que vê ainda mais restrito ao seu direito de transporte de qualidade.