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Elias José, Presidente do Sindicato dos Metroviários do Rio de Janeiro e militante do PSTU

Duas composições da SuperVia se chocaram na Estação São Cristóvão na manhã da quarta-feira, dia 27 de fevereiro. Rodrigo Assunção, maquinista de uma das composições, permaneceu preso às ferragens por cerca de 7 horas e faleceu a caminho do hospital, apesar dos esforços da equipe de bombeiros, que se revezaram por quase 40 minutos em procedimentos de reanimação.

Além de Rodrigo, diversos passageiros ficaram feridos e foram atendidos em hospitais da região em mais uma tragédia que abala o Rio de Janeiro neste início de ano. Mas tragédias na Supervia não são nenhuma novidade.

A empresa de trens urbanos do Rio de Janeiro já protagonizou diversos escândalos e tragédias. Em 2009, as imagens de agentes de segurança da companhia chicoteando e chutando passageiros de um trem superlotado chocaram o país. Outro momento em que a empresa estampou os noticiários nacionais foi em 2015, quando, para impedir a paralisação da via, permitiram que um trem passasse por cima do corpo de um homem que havia sido atropelado por outra composição. Segundo o El País, em 2017 foram mais de uma morte por semana por homicídio ferroviário nos trens do Rio, 66 ao todo.

A rede metropolitana de trens urbanos do Rio de Janeiro foi privatizada em 1998, constituindo assim a concessionária Supervia, que em 2011 passou para a ser controlada pela Odebrecht TransPort – em 2015 passou a fazer parte do grupo Odebrecht Mobilidade.

Inez Teresinha Stampa, em sua tese de doutorado em Serviço Social pela PUC Rio, demonstra que o processo de privatização foi acompanhado do sucateamento da rede ferroviária e o aumento do número de acidentes “cujas causas, quase sempre, estiveram ligadas a fatores como falta de manutenção da linha férrea e das composições, falhas de sinalização, entre outras”.

Após a privatização, em 4 de novembro de 1998, no ramal de Gramacho, um ônibus colide com um trem. No mesmo dia houve um descarrilamento entre as estações de Campos Elísios e Gramacho, e mais de 2.000 pessoas ficaram sem condução. No dia 5 de novembro um trem descarrila próximo à estação de Quintino e, no dia 6, outro descarrilou no ramal de Gramacho. No dia seguinte, 7 de novembro, um trem descarrila e um vagão se arrasta por 500 metros, entre as estações de Pavuna e Costa Barros. Em 9 de novembro, 2 pessoas foram encontradas mortas num vagão que saiu de Japeri para a Central. A empresa não prestou esclarecimentos.

Em 6 de dezembro, um trem da linha de Japeri descarrila na entrada do pátio na Central do Brasil. Em 10 de janeiro de 1999, dois trens colidem no trecho que liga a Central do Brasil a Belford Roxo, em Pilares: 4 mortos e 33 feridos. Foi o sexto acidente após o início das atividades da concessionária.” (página 94)

A Supervia transporta quase 600 mil pessoas todos os dias, mais de 180 milhões por ano. E a cada dia fica evidente o descaso da empresa com as vidas de passageiros e funcionários. São inúmeros casos de acidentes, atrasos e problemas nas composições. A falta de investimento e manutenção aliados à corrupção, oriundos de um processo nebuloso de privatização, se consolida em uma verdadeira tragédia humana.

Os dirigentes das companhias que negligenciam as vidas da classe trabalhadora para maximizar seus lucros, como a Vale fez em Brumadinho, devem ser punidos com prisão e confisco de bens para indenizar as famílias das vítimas e investir na manutenção e modernização das plantas e equipamentos. Segundo levantamento do jornal Brasil de Fato, as tarifas de metrô, trem e ônibus municipais subiram cerca de 1000% desde a implantação do Plano Real, bem acima da inflação no período.

Apenas de 1999 a 2003, após a privatização dos trens do Rio, o preço da passagem saltou 188%, conforme Stampa. A má qualidade do serviço e os consecutivos aumentos na tarifa, com restrições ao passe livre, foram o pivô das Jornadas de Junho em 2013, que levou milhões às ruas no país inteiro contra a violência policial e a corrupção – após a violenta repressão da PM paulistana contra um ato em protesto pelo aumento das tarifas.

Os aumentos nas tarifas de transporte público também são parte fundamental dos processos que levaram para a cadeia o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho, condenado a quase 200 anos de prisão. Entre os esquemas de Cabral estavam acordos com empresários do ramo, como Jacob Barata, envolvendo acordos para reajuste de tarifas, retenção de créditos relacionados ao bilhete único e obras superfaturadas no Metrô Rio.

Por isso é preciso reestatizar a rede de transportes de massas do Rio de Janeiro, investigar a fundo os contratos de concessão e os esquemas de corrupção e assegurar que os lucros que hoje são embolsados por corporações como o grupo Odebrecht sejam revertidos para ampliar e melhorar os sistemas de trens, barcas e metrô do Estado.

Mas não basta apenas estatizar. É preciso que o povo pobre e trabalhador e os funcionários estejam no controle das companhias que possuem um papel essencial para suas vidas. Estatização sob controle operário sem indenização, auditoria para todos os contratos de concessão e acidentes e punição para os executivos em casos de corrupção e descaso!