A luta dos operários das obras do PAC tem chamado a atenção nas últimas semanas. Mas péssimas condições de trabalho, superexploração e extensas jornadas de trabalho também afligem os operários das fábricas, como é o caso da Embraer
O grau de exploração aumentou nas fábricas metalúrgicas após a crise mundial que se abateu em 2008. A resposta dos patrões foram demissões e a retirada de direitos. Quem ficou na fábrica acabou sofrendo de uma bruta superexploração.

A Embraer simbolizou muito bem essa situação. Em 19 de fevereiro de 2009 demitiu mais de 4.270 trabalhadores, e continuou esse processo nos últimos anos chegando a demitir mais de seis mil.

Quem vê de fora pode imaginar que a produção da empresa está devagar. Mas é exatamente o contrário. A produção não para, e dentro da fábrica há inúmeras reclamações sobre o aumento do trabalho. As horas-extras foram comuns nesses últimos meses. Em novembro e dezembro de 2010, período em que a empresa acelera a produção para garantir a entrega anual de aeronaves, os trabalhadores fizeram muitas horas extras.

Reestruturação
“Se Santos Dumont inventou o avião, quem inventou o Kaizen foi o Capeta”.
Essa frase pode ser lida em diversos banheiros da fábrica e representa a atual situação de exploração. O Kaizen é um sistema de produção de inspiração toyotista que busca fazer os trabalhadores produzirem mais com menos pessoas.

Grande parte das demissões ocorridas até agora não foram por conta da crise econômica, com o diz a direção da empresa, mas provocadas pela reestruturação produtiva que necessitava eliminar postos de trabalho e aumentar a exploração dos trabalhadores. Um exemplo pode ser o Setor da Asa dos aviões EMB-170 e EMB-190. Onde antes trabalhavam cerca de 200 operários em dois turnos, hoje trabalham 110 em um único turno.

Doenças e lesões
O departamento de Saúde e Segurança do Trabalho do sindicato é um dos mais procurados pelos trabalhadores. O número de operários lesionados aumento significativamente nos últimos anos. E a empresa em vez de buscar sanar esses problemas faz o contrário, intensifica cada vez mais o ritmo de trabalho.
Em muitas áreas como a selagem e pintura os operários estão expostos a produtos químicos cancerígenos e causadores inclusive de problemas psíquicos quando inalados, como o Rhodiasolv.

Resposta do sindicato
Na campanha salarial de 2010, o sindicato teve como principal reivindicação da categoria a estabilidade no emprego até a aposentadoria para todo trabalhador que tenha sofrido acidente de trabalho ou que tenha adquirido doença ocupacional.
A empresa se mostrou intransigente. Mas graças a muita pressão os trabalhadores, a Embraer foi forçada a assinar um acordo salarial que tem uma clausula de estabilidade ao lesionado. Das fábricas do setor aeronáutico, só a Embraer não tinha ainda está clausula assinada.

Sindicato defende redução da jornada
A Embraer voltou a ser notícia na última semana, com a ida de Dilma à China. A missão era garantir a manutenção das operações e vendas da Embraer naquele país.
O governo brasileiro foi ajudar a direção da empresa a negociar a transformação da fábrica da Embraer na China, para que ela possa montar no país o jato executivo Legacy 600. A unidade está ameaçada de fechamento, por causa da decisão dos chineses de não comprar mais os jatos EMB- 145 fabricados lá pela associação entre a chinesa Avic e a Embraer. Os contratos com a Embraer na China fazem parte de um pacote de cerca de 20 acordos e memorandos de entendimento, que foram assinados durante a visita de Dilma.

A expansão da empresa para outros países está ocorrendo em razão da exploração e demissão de trabalhadores brasileiros. O governo vem tomando medidas que beneficiam apenas a empresa: todas as vendas realizadas pela fábrica são financiadas pelo BNDES, inúmeras encomendas governamentais para o setor de defesa da Embraer e a garantia de compra do novo avião cargueiro (KC390). Além disso, o governo realiza um trabalho internacional para facilitar contratos da Embraer, sendo garoto propaganda da empresa.

O esforço do governo acaba se revertendo em lucro para os acionistas, em boa parte compostos por grandes fundos de investimentos internacionais.

Campanha
No último dia 15, o sindicato esteve presente em Brasília e protocolou o pedido de abertura imediata de discussão sobre a situação dos trabalhadores da Embraer, principalmente sobre a redução da jornada para garantia de emprego e novas contratações e solicitando agendamento de uma reunião.

Os trabalhadores reivindicam a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, seguindo modelo adotado há anos pelo setor aeronáutico no resto do mundo. Essa medida simples se reverteria tanto na geração de emprego como na redução significativa dos acidentes e doenças do trabalho. Em dezembro do ano passado, em grande assembléia no pátio da empresa, os trabalhadores aprovaram por unanimidade a intensificação da campanha. Campanha pela redução da jornada para 40 horas semanais rumo a 36 horas, sem redução de salário e direitos.

Acreditamos que os investimentos governamentais na Embraer devem ser revertidos para a reestatização da empresa. Só assim será possível desenvolver o setor de defesa do país como garantir direitos e condições dignas de trabalho aos operários da Embraer.

Avanços na organização no local de trabalho
A eleição da CIPA foi mais uma prova da importância da unidade dos trabalhadores. O sindicato apresentou sete candidatos, sendo destes cinco eleitos. Os trabalhadores começam a entender o processo de exploração ao qual estão expostos e começam a mudar esta situação votando nos candidatos do sindicato para a CIPA.

Atendendo a reivindicação dos trabalhadores, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos também disputou a vaga de representante dos trabalhadores no Conselho Administrativo da Embraer. Este conselho existe desde a privatização da empresa e deveria servir como uma forma de fiscalizar as operações da empresa. Mas esta vaga na verdade tem sido usado para cooptar sindicalistas.
A Chapa 4, do sindicato, venceu as eleições em São José dos Campos, mas graças a manobras da empresa e o completo apoio a chapa 8, da CUT, acabou ficando em segundo lugar com uma diferença de apenas 400 votos num total de 10.700 votos.

Com esta situação o sindicato contesta o resultado e entrou com pedido de segundo turno das eleições na justiça, considerando que a diferença entre as duas chapas foi de apenas de 4%.

*Militante do PSTU, funcionário da Embraer e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos.
Post author Hebert Claros, de São José dos Campos (SP)
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