À custa de muita exploração sobre os trabalhadores foi lançado ao mar o primeiro petroleiro da nova frota da Transpetro.Foi ao mar o primeiro navio petroleiro (Suezmax nº 1) do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef) fabricado no Estaleiro Atlântico Sul (EAS) em Suape (PE). O navio, a pedido de Lula, foi batizado de João Cândido. É o primeiro de 22 petroleiros encomendado pela Transpetro com capacidade de transportar até 1.050 mil barris de petróleo. Por traz de toda festa e propaganda organizada pelo governo e empresários para batizar o petroleiro existe um alto grau de exploração e precariedade sobre os operários do EAS.

A festa organizada pelos empresários sul coreanos, por empreiteiras, pelo governo do estado e por Lula contou ainda com a presença vergonhosa do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Estado de Pernambuco (Sindmetal-PE ligado a CUT), Carlos Alberto Alves, o “Betão”. Betão sentou-se e discursou ao lado dos empresários que explora diariamente os trabalhadores metalúrgicos.

Além dos baixos salários, alto número de acidentes de trabalho e vários casos de assédio moral praticado pela chefia do EAS. Lula desrespeita a memória de João Cândido batizando o petroleiro com seu nome. João Cândido lutou contra a exploração, os castigos físicos e o racismo na marinha brasileira.

O preço do crescimento
O governo estadual, do neto de Arraes, Eduardo Campos (PSB), faz uma propaganda nos últimos anos em cima dos números do PIB de Pernambuco. Em 2007, considerado um dos melhores anos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou um crescimento de 5,4%. Já em 2008, segundo a Agência Condepe/Fidem, o estado fechou com um crescimento maior do que 6%. Em 2009, em meio à crise econômica, o estado fechou o PIB positivo em 3,8%.

Mas os números e a propaganda dos governos de Lula e de Eduardo Campos não mostram o alto grau de exploração e precariedade a que são submetidos os trabalhadores do estado. De 2006 a 2008, foram contabilizados no estado mais de 42 mil acidentes, com 219 mortes e 944 casos de incapacidade permanente. Esses números podem ser bem maiores, já que muitas empresas não registram os acidentes que acontecem. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, em 2007 foram contabilizados em Pernambuco 14.244 acidentes de trabalho, 3.096 a mais que no ano anterior, sendo que foram registradas 81 mortes de trabalhadores em local de trabalho, 10 a mais do que em 2006.

Nos primeiros cinco meses deste ano, apenas na construção civil tivemos seis operários mortos em canteiros de obras, segundo dados do Sindicato da Construção Civil de Pernambuco (Marreta). Outra estatística que também aumentou em Pernambuco foi à média de denuncias sobre as condições de trabalho. Segundo o procurador chefe do Ministério do Trabalho, Fábio Farias “a média de denúncias era de 5%. No ano passado, passou para 20% do total de denuncias.”

Está se tornando uma ‘epidemia’ a quantidade de acidentes de trabalho em Pernambuco, muitos destes acidentes são provocado pelo aumento do ritmo de trabalho e também por causa da falta de investimento em segurança do trabalhador. No mesmo estaleiro que Lula visitou para inaugurar o primeiro petroleiro fabricado no estado, ano passado o trabalhador Lielson Ernesto da Silva, de 26 anos, morreu após ser esmagado quando um bloco de chapa de quase uma tonelada caiu sobre ele.

No EAS muitos operários trabalham até 12h diárias. Um soldador formado pelo Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural recebe em média R $ 800,00. Além de sua função, este trabalhador muitas vezes precisa executar outras funções por pressão dos seus chefes. As terceirizadas já ultrapassam 150 (tanto na fabricação dos navios quanto também nas obras do estaleiro que ainda não foi finalizado) e atuam livremente burlando direitos trabalhistas básicos como, por exemplo, o pagamento de insalubridades ou horas extras.

E é arrancando o coro do peão e expondo cada vez mais acidentes e doenças de trabalho que Pernambuco cresce. Não há nenhuma razão, portanto, para Eduardo Campos e e Lula comemorarem junto com os empresários.

Diga com quem andas…
O presidente do SINDMETAL-PE, ligado a CUT, Betão, discursou ao lado de Lula e dos patrões. O sindicalista iniciou sua intervenção com um “Bom Dilma!” (trocadilho com bom dia) arrancando sorrisos da patronal. E para não deixar nenhuma dúvida em quem vai defender nas eleições burguesas, Betão terminou dizendo: “Vamos votar em quem o senhor, presidente Lula, indicar, para continuar seu projeto”.

Essa posição do presidente do Sindmetal-PE mostra o quanto às cúpulas dos sindicatos cutistas estão atrelados e comprometidos com o governo Lula, a ponto de fazer campanha do lado dos patrões. Betão na frente de uma platéia de mais de 3.000 operários mostrou o quanto ele e a CUT estão distantes dos interesses dos trabalhadores.

Dilma Roussef também é a candidata do presidente do estaleiro atlântico sul Angelo Bellelis, do presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli e dos executivos da Samsung que são sócios do EAS.

Em nenhum momento Betão denunciou as péssimas condições que passa os trabalhadores da empresa. Da grande quantidade de terceirizadas que existe no EAS burlando direitos básicos da CLT, do aumento da jornada de trabalho com as horas extras, além do assédio moral que os operários sofrem.

No final do discurso de Betão, fica mais claro entender de que lado o Sindmetal-PE e a CUT estão, e não é do lado dos trabalhadores. Estão do lado dos empresários, do governo e dos patrões. É esse modelo de sindicalismo que a CUT defende.