Pesquisa da Fiesp revela que as empresas querem aumentar a produtividade explorando ainda mais os trabalhadoresA crise econômica pegou o Brasil em cheio no final de 2008, causando um baque na indústria, derrubando a produção e causando uma onda de demissões e férias coletivas. Em 2009, sustentado por uma política de pesadas isenções e subsídios, o setor foi retomando a produção e os lucros sem, no entanto, repor os empregos. Menos trabalhadores tinham que produzir mais, ganhando menos.

Para 2010, a tendência é que a superexploração se aprofunde ainda mais. Tanto o governo Lula quanto a grande imprensa pintam um cenário perfeito de retomada do crescimento econômico para este ano. Só não dizem que ele se dará à custa do aumento do ritmo de trabalho, horas extras e do rebaixamento salarial.

Mais produção, menos empregos
Os empresários da indústria paulista andam confiantes e estudam aumentar a produção em 2010. O problema é que esse incremento na produtividade não vem acompanhado da intenção de abrir novas contratações. É o que revela uma pesquisa realizada pela própria Federação das Indústrias de São Paulo, a Fiesp, sobre as tendências para o setor no próximo período.

A pesquisa, que envolveu 365 empresas e foi realizada no final do ano passado, tentou captar o desempenho da indústria paulista no segundo semestre de 2009, tal como as expectativas para este ano. De acordo com o levantamento, 63% das empresas declararam planejar um aumento na produção nesse primeiro semestre de 2010. No entanto, contraditoriamente, apenas 51% delas demonstraram a necessidade de contratar novos trabalhadores.

Esse índice se torna ainda mais contraditório ao se levar em conta que 81% das empresas paulistas esperam aumentar os investimentos neste semestre. Caso isso se concretize, a capacidade produtiva da indústria paulista aumentará 15%. O emprego, por outro lado, caso se confirmem as expectativas do empresariado, crescerá apenas 3,9% no período.

Isso confirma a tendência da propalada “recuperação” do setor industrial após a fase mais aguda da crise econômica. Se por um lado, as empresas estão produzindo mais, impulsionadas por isenções fiscais e linhas de crédito subsidiado, por outro essa suposta retomada não vem acompanhada pela recuperação nos empregos. Isso indica que a retomada da produção se dá através de horas extras ou do aumento no ritmo de trabalho. Em todo o caso, é o aumento na exploração dos trabalhadores que está permitindo a recuperação da produção.

A crise não terminou na indústria
Exemplo claro dessa tendência se observou na indústria automobilística em 2009. Maior beneficiada pela política do governo Lula de isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o setor cravou um recorde na venda de automóveis no ano passado, com mais de 3,1 milhões de unidades vendidas, um aumento de mais de 11% em relação ao ano anterior. Já o estoque de empregos no setor praticamente se manteve o mesmo, com um aumento de insignificantes 0,3%.

Não é o caso em todo o setor industrial, onde as demissões predominaram. Conforme divulgou o IBGE, a indústria em 2009 teve seu pior resultado nos últimos oito anos. O emprego no setor recuou 5,3% e a folha de pagamento caiu 2,8%.

A retomada no final do ano se deu através do absurdo aumento na produtividade. No último trimestre do ano, a produção aumentou 5,8%, mas as horas pagas no setor foram 3,7% menores que no mesmo período de 2008. Ou seja, a crise foi o pretexto para os empresários rebaixarem os salários, exigindo que se produzisse mais por muito menos.

  • Leia a pesquisa realizada pela Fiesp