Chega às telonas o quinto filme da série Super-Homem. Este é o primeiro desde a morte do antigo protagonista, Cristopher Reeve. O estúdio Warner apostou no jovem e desconhecido ator Brandon Routh para tentar “levantar a poeira” deixada pelos mal-sucedidos Super-Homem 3 e 4, além de encerrar um longo jejum desde o quarto filme, lançado em 1987.

O quarto filme foi um fiasco de crítica e de público tão estrondoso que muita expectativa foi criada para este que deveria ser “o retorno“ triunfal do homem de aço. Afinal, a marca Superman já se mostrou lucrativa em outras oportunidades, com uma infinidade de desenhos, séries para TV fechada e produtos licenciados.

Mais uma vez, fez-se muita espuma para pouca substância. O filme não passa de uma colcha de retalhos de alguns bons aspectos perdidos no mar de tédio de quase duas horas da película.

Poucos aspectos positivos dignos de nota nos restam, entre eles a participação de Kevin Spacey, ganhador de dois merecidos prêmios Oscar por seus papéis em “Os Suspeitos” e “Beleza Americana”, na pele do arqui-rival Lex Luthor e mais uma meia dúzia de cenas de sucesso copiadas das versões anteriores. Ainda assim, há que se ressaltar a falta que faz Gene Hackman, o Lex Luthor original. Luthor é um personagem ao qual o grande Gene emprestou força e traços marcantes e ao qual, não por acaso, Spacey acaba imitando dada à falta de espaço que restou para desenvolver a personagem. O lado cômico, meio sádico, meio atrapalhado do antigo Lex Luthor marcou época como caracterização do mal moderno e egocêntrico, que não se cansava de ressaltar “sua capacidade mental brilhante”.

Contudo, o principal destaque fica por conta das aparições em flash-back de um dos maiores atores de todos os tempos, Marlon Brando, infelizmente já falecido, no papel de Jor-El, o pai do Super-Homem. Esta aparição extra de Brando só foi possível com o uso de muita tecnologia para mixar imagens e sons antigos em novas falas. De fato, os recursos especiais, como o usado nas primeiras cenas, são uma atração a parte.

Quase todos os lugares-comuns do Super-Homem dos outros filmes voltam com força e sem pudor nesse novo filme. “É um pássaro? Um avião? Não… É o Super-Homem!” Várias cenas com a mocinha Lois Lane em apuros incríveis e tantantancham! Lá vem o salvador na hora H! Personagens inteiros decalcados em todos os mínimos detalhes, tais como o simpático/desastrado repórter Jimmy e o bonachão/exigente chefe do Planeta Diário onde trabalha Clark Kent, identidade (alter-ego?) do Super-Homem como homem comum. E a lista continua…

Porque o mundo precisa do Super-Homem?
Não restou praticamente nada inédito que fosse digno de nota. A significativa exceção fica para o artigo intitulado “Porque o Mundo não precisa do Super-Homem?“ escrito por Lois Lane para o Planeta Diário depois que o Super-Homem desapareceu da Terra por seis anos. Façamos vistas grossas para o forçoso Prêmio Pulitzer que o fraco roteiro atribui a esse artigo. O fato é que essa pergunta-título é uma questão muito mais interessante do que os pouco criativos produtores poderiam imaginar.

O mundo (capitalista) precisa, e muito, não só de um Super-Homem, mas também de muitos Batmans, X-Mens e de todos os heróis que a mente de uma grande massa de pessoas carentes de uma imagem heróica possa suportar. Tudo isso sem fazer nenhuma contestação a nada que cria e mantém o sistema de pé. Nada. Heróis sem sal em intermináveis histórias bandido-mocinho-mocinha-final feliz-continuações, num ciclo vicioso altamente lucrativo e pouco difícil de se alcançar.

Perder esses ícones está fora de cogitação, daí a expectativa criada. No caso de Super-Homem – O Retorno esqueceram de avisar aos roteiristas, produtores, e diretor do filme para que eles, ao menos, caprichassem um pouco mais.

Rodrigo Baldin, do PSTU de Salvador, é professor, bancário e amante da sétima arte