Foto: Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas
PSTU-SP

Camilo Martin e Narcisio Soares

A situação da pandemia é gravíssima em São Paulo. Chegamos a 3000 mortos no estado e a curva de contágio e de mortos segue ascendente ao mesmo tempo em que o sistema de saúde está próximo de colapsar. Na grande São Paulo já são mais de 90% dos leitos de UTI ocupados. Mesmo considerando a brutal subnotificação, o governo estadual publicou estudo que prevê até 11 mil mortos ao final deste mês. Infelizmente, a situação que vivemos já era prevista. O próprio prefeito Bruno Covas (PSDB) disse em abril que “o pior ainda estava por vir”. Apesar disso, as medidas de Dória e Covas não estiveram à altura de evitar esta situação.

Diante deste triste espectro de mortes que atinge a cidade, a prefeitura combina medidas equivocadas e insuficientes – como os bloqueios de rua que foram revogados porque contribuíram para as aglomerações – com o desenvolvimento de uma campanha publicitária que responsabiliza a população pela situação atual e, desta forma, busca se isentar de qualquer culpa por esta situação.

Roberto Parizotti/FotosPublicas

Novo rodízio de Covas é equivocada, não garante segurança e estimula aglomerações!

Após revogar a medida frustrada de fechamento de vias que acabaram por gerar mais aglomerações, no último dia 7 de maio, o prefeito anunciou o início de um novo sistema de rodízio que passa a vigorar no dia 11, onde estariam autorizados a circular nos dias pares somente carros com placas pares e nos dias ímpares, carros com placas ímpares.

Esta medida da forma como foi apresentada é equivocada porque não vem acompanhada de outras que garantam a possibilidade de que as pessoas se protejam e fiquem em casa, como por exemplo a suspensão de todas as atividades não essenciais, garantia de renda e estabilidade no emprego, suspensão de reintegração de posses e concessão de novas moradias para as 360 mil famílias desabrigadas a partir da ocupação de imóveis vazios para especulação imobiliária, entre outras.

Somente se o rodízio fosse combinado com estas outras medidas, ele poderia contribuir para o fortalecimento do isolamento social já que o que tem centralmente obrigado as pessoas se movimentarem é a manutenção de várias atividades não essenciais, exigindo que sigam trabalhando, assim como o alto número de desempregados ou subempregados que, no jargão popular, “comem de noite o que ganham de dia”. Na prática, o rodízio ataca o efeito e não a causa e a prefeitura fica “enxugando gelo” enquanto os números de mortos batem novos recordes a cada dia.

Mais do que insuficiente, o rodízio como medida isolada é um erro temerário porque, ao não garantir condições para que as pessoas fiquem em casa, acaba por canalizar as pessoas para o transporte público, impulsionando novas aglomerações e contribuindo, na verdade, para ampliar a capacidade de disseminação do vírus entre o conjunto da população e os trabalhadores e trabalhadoras do setor de transporte.

Dória e Covas: medidas insuficientes e continuidade de ataques para garantir os lucros!

A realidade é que Dória e Covas têm se apresentado como parte de uma oposição responsável e preocupada com a vida na frente das câmeras, tentando se mostrar diferentes de Bolsonaro. No entanto, se é verdade que este apresenta de maneira muito clara a face perversa do capitalismo, nosso prefeito e governador aqui em São Paulo vão cada vez mais demonstrando os limites de suas medidas e mostrando que a pose nas câmeras não passa de marketing eleitoral mirando as eleições de 2022. Pior, se apoiam na crise para atacar direitos de diversas categorias como metroviários, eletricitários e outros serviços públicos fundamentais.

Já atingimos patamares inaceitáveis desta crise. Hoje, os novos dados deixam evidente que o principal fator de risco é a classe social a qual os contaminados pertencem. Se é verdade que o vírus não escolhe quem vai matar, o capitalismo escolhe quem vai morrer, pois são os trabalhadores e o povo pobre que vive amontoado, com condições de saneamento básico precárias, incapazes de realizar o isolamento social e com pouca retaguarda na saúde. Para se ter uma ideia, na Região Metropolitana de São Paulo 2 milhões de habitantes não têm coleta de esgoto e 283 mil pessoas sequer têm acesso a água encanada.

São Paulo precisa parar! É preciso paralisar os serviços não essenciais e garantir emprego e renda! Garantir condições de trabalho segura para os trabalhadores essenciais!

Não há mais tempo a perder. A cada hora que passa se amplia a quantidade de possíveis infectados e futuras mortes. O limite das medidas de Dória e Covas é função também dos interesses de afetar o mínimo possível os lucros dos grande capitalistas. Existe um cálculo frio nessa equação em que vidas são contabilizadas como números e colocado na mesma balança do “perde-ganha” dos lucros.

Os grandes capitalistas e seus governos colocam na ponta do lápis quanto podem perder de lucros com o aprofundamento de medidas sérias de garantia do isolamento de nossa classe e do povo pobre, enquanto isso vamos perdendo nossos familiares e amigos. Esse raciocínio que Bolsonaro deixa explícito, também rege, de maneira mais sutil e polida, os governo Dória e Covas e isso mostra o quão equivocado foram as grandes organizações de trabalhadores terem construído um ato de 1º de maio com figuras como FHC, por exemplo, do mesmo PSDB dos nossos governantes.

Precisamos imediatamente parar tudo em São Paulo. Paralisar todos os serviços não essenciais para garantia da saúde das pessoas e garantir estabilidade no emprego e renda para que as pessoas possam ficar em casa e auxílio aos micro empresários para que não vão à falência. Combinar estas medidas com planos de emergência para habitação, garantindo ocupação dos imóveis desocupados e hotéis pela população desabrigada ou que habitam locais com condições sanitárias inadequadas; plano de emergência no transporte, com suspensão da tarifas, rodízio do quadro de funcionários e transporte apenas de trabalhadores dos serviços essenciais e, por fim; plano de emergência na Saúde com estatização do sistema privado e unificação das filas dos leitos de UTI controlado pelo SUS, supervisionado pelos trabalhadores, e colocando a indústria paulista a serviço da produção de insumos e equipamentos necessários para ampliar o atendimento.