Seminário reuniu cerca de 240 pessoas na capital paulista para construir um programa de luta, classista e socialista a ser defendido pelos candidatos do PSTUNa manhã do dia 16 de agosto, mais de 200 ativistas dos movimentos sindical, popular e estudantil se reuniram em São Paulo (SP) para discutir propostas e alternativas de combate à exploração e à opressão que possam ser defendidas pelos candidatos do PSTU durante o processo eleitoral.

Os participantes se dividiram em grupos (Educação, Transportes, Saúde, Moradia, Opressões e Cultura) que, durante toda a manhã, debateram propostas que possam servir para esclarecer e organizar a população contra os ataques dos patrões e dos governos que representam os grandes empresários, banqueiros e latifundiários.

Gente que, como já sabemos, recheia seus candidatos com dinheiro para que eles possam, durante a campanha eleitoral, despejar um monte de promessas falsas e, quando eleitos, continuarem o ciclo de corrupção e roubalheira que se encontra por trás dos muitos problemas que os trabalhadores enfrentam nos seus dia-a-dia.

Propostas de luta
Como destacou Dirceu Travesso, candidato a vereador pelo PSTU na capital paulista, “a idéia é que os ativistas levem para os grupos as propostas e medidas que eles construíram a partir de suas próprias experiências, nas muitas lutas que cada um deles se envolveu nos últimos anos. Para nós do PSTU é assim que deve ser construído um programa classista e socialista: ele deve sintetizar as novas alternativas de organização social que estão sendo criadas pelos próprios trabalhadores, pela juventude e por todos aqueles que lutam contra a opressão”.

Dirceu, que também é bancário (em luta pela sua readmissão pela Caixa) e dirigente da Conlutas, também lembrou que este é um processo fundamental para o tipo de mandato que defendemos: “Vamos lutar voto a voto para sermos eleitos, queremos uma vaga na Câmara, mas não para enganar os trabalhadores, mas sim para organizar suas lutas”.

E foi, de fato, com esta disposição que os grupos foram instalados e os ativistas entregaram-se a animados debates que se estenderam até quase 13 horas. O ânimo e a seriedade da discussão foi expressa por Carolina Rodrigues, da Secretaria de Mulheres do PSTU, na saída do grupo que debateu o combate ao machismo, à homofobia e ao racismo: “Começamos o debate partindo de um importante ponto em comum, a certeza de que, ao contrário do que se diz por aí, sobre os oprimidos serem ‘minorias’, nós somos maioria entre os trabalhadores, principalmente os mais explorados. Por isso, o programa que um candidato socialista irá apresentar nas eleições tem que discutir a luta de negros, mulheres e homossexuais”.

No retorno do almoço, os relatores de cada grupo apresentaram uma síntese dos debates realizados e das propostas. Conheça, abaixo, algumas delas.

Educação
Lourdes Quadros falou em nome do grupo, que reuniu cerca de 100 professores, estudantes e trabalhadores de outras categorias: “O centro de nossa discussão foi a necessidade de organizar os trabalhadores para que se pare de pagar a dívida do município e que os recursos sejam voltados para as necessidades dos trabalhadores, dentre as quais a Educação é uma das mais deficientes. Também discutimos a defesa de que os recursos públicos só sejam destinados para a escola pública, e não para os tubarões do ensino privado, como ocorre hoje”. Além disso, foram apresentadas propostas como a instalação de creches nas escolas, defesa do ensino de qualidade, dentre várias outras.

Transporte
Falando em nome do grupo, o metroviário Alexandre Lemes fez uma assustadora radiografia do setor. “Todo trabalhador sabe que São Paulo é um inferno para quem depende de qualquer tipo de transporte. O que muitos não conhece são os únicos que a própria burguesia têm sobre a profundidade deste inferno”. E os números que o companheiro passou a ler, de fato, são assustadores. Por exemplo, 34% da população anda até quilômetros a pé para ir ao trabalho; quem pega ônibus (geralmente mais de um) chega a gastar 5 horas por dia no trânsito; o metrô de São Paulo já ganhou o lamentável título do sistema mais congestionado do mundo. Um detalhe: para os padrões mundiais, um vagão onde circulem 6 (seis) pessoas por metro quadrado é considerado insuportavelmente lotado; em São Paulo, na linha da Zona Leste, no horário do “rush” circulam 9 (nove) pessoas por metro quadrado. Ou seja, 50% a mais do que o insuportável. Quem já esteve num destes vagões sabe do que estamos falando.

E mais: Como lembrou Alexandre, “na Cidade do México, capital de um país que, para nada, é exemplo de políticas sociais, o metrô tem 210 quilômetros, a tarifa custa o equivalente a R$ 0,20; aqui, só temos míseros 61 quilômetros, pelos quais temos que pagar absurdos R$ 2,40”. Diante deste quadro catastrófico, o grupo discutiu a necessidade de estatização ou reestatização de todo sistema de transporte (a começar pela reconstrução da CMTC); adoção de “tarifa zero”, financiada por fundos bancados pela burguesia; colocar em circulação 5 mil ônibus, investimento em transporte público em geral, recuperação da rede ferroviária. Tudo sobre o controle dos trabalhadores, como lembrou Alexandre, “os únicos realmente interessados e necessitados em transporte público de qualidade”.

Saúde
Débora Manzano, estudante de Fonoaudiologia da USP e que acabou de ingressar no PSTU, juntamente com uma dezena de outros companheiros, falou em nome do grupo, apresentando uma série de propostas que “têm como principal objetivo a luta contra a privatização e a precarização dos serviços de saúde. Por isso, as propostas que iremos levar durante a campanha tem todas algo em comum: a luta por um sistema de saúde público, gratuito e estatal, que seja controlado pelos trabalhadores, pois são eles, principalmente os das regiões mais periféricas, que sabem o que precisa ser feito para que seus familiares e amigos não morram mais devido a ganância de alguns e a corrupção do sistema”.

Moradia
Raimundo, o companheiro que representou o grupo, lembrou que, na cidade de São Paulo, há mais de 250 mil unidades de moradia abandonada (40 mil delas, no Centro), “o que seria suficiente para abrigar muitos daqueles que vivem nas ruas e em perigosas e inumanas condições de moradia”. Além disso, o grupo também debateu a necessidade de, durante a campanha, “denunciar todos os candidatos (a enorme maioria deles, é obvio) que recebem gordas ‘contribuições’ de empreiteiras que, depois, recebem em troco todo tipo de favorecimento para levantar prédios e projetos voltados apenas para a classe média”. Por isso, o grupo discutiu a proposta de defender um IPTU progressivo para terrenos vazios e prédios de luxo e subsídios para que os trabalhadores possam construir suas casas próprias. Além disso, também foi proposto um Plano de Obras Públicas, controlado por Conselhos Populares deliberativos que se oponham aos projetos da Câmara.

Cultura
O relatório foi apresentado por Bárbara Kanashiro, ativista do “Coletivo de Artistas Socialista”, um grupo que há tempos discuti alternativas anti-capitalistas para a arte e a cultura. Bárbara resumiu a proposta do grupo em cinco tópicos: 1. A defesa intransigente da total liberdade para todas as manifestações artísticas; 2. A democratização da arte e do acesso a ela, “em contraposição a medidas populistas e assistencialistas que, de vez em quando e sem o mínimo de discussão com as comunidades, são patrocinadas e financiadas pela prefeitura”; 3. Combate à hegemonia e ao controle burguês sobre os meios de produção, distribuição e exibição de manifestações artísticas; 4. A defesa de que “arte não é mercadoria”, o que “também significa a luta pelo combate às atuais leis de incentivo e fomento que, na verdade, só patrocinam o que o mercado quer, e a construção de um projeto de distribuição de verbas por parte de artistas, técnicos e a comunidade”; 5. A defesa de uma arte internacionalista e revolucionária “que recoloque na ordem do dia os ensinamentos que o revolucionário russo Leon Trotksy e o surrealista francês Andre Breton deixaram no manifesto da Federação Internacional por uma Arte Revolucionária e Independente: a independência da arte para a revolução, a revolução para a libertação definitiva da arte”.

E mostrando que a campanha é muito mais do que a busca de votos, o grupo já convidou todos para um de seus saraus, que será realizado nesta segunda, 18 de agosto, no “Teatro X”, no centro da cidade.

Opressões
A mesa foi formada pelo professor José Geraldo, o Geraldinho (negros), Carolina Rodrigues (mulheres) e Elder Sano, o “Folha” (GLBT). Carol lembrou que a luta contra o machismo é, obrigatoriamente, uma luta contra o sistema que tanto tem se beneficiado dele, destacando que “é preciso organizar as mulheres para conquistar salário igual para trabalho igual, direito à creche, a legalização do aborto e o acesso a ele em toda rede pública de saúde e a tomada de medidas efetivas contra a violência machista”.

Folha começou lembrando que estamos na cidade onde existe a maior Parada do Orgulho GLBT do mundo, “a mesma Parada da qual nós, militantes do PSTU e da Conlutas fomos expulsos exatamente por querermos colocar na Paulista um carro de som a serviço dos homossexuais, trabalhadores e jovens que estavam na ocupação da USP, que há anos garantem dignidade e moradia no Pinheirinho, em São José dos Campos, que estão construindo a Conlutas e, hoje, estão aqui para discutir um programa para um mandato socialista na Câmara de São Paulo”. Neste sentido, o grupo apresentou propostas contra a “privatização” da organização da Parada (hoje monopolizada por uma ONG, a Prefeitura e seus aliados do setor privado), em defesa da parceria civil, com todos os direitos concedidos aos casais héteros, inclusive o de adoção, atendimento que respeite as especificidades dos homossexuais, sem preconceitos, nos serviços de saúde, na educação.

Geraldinho lembrou que “para aqueles que entendem que o racismo é uma questão de ‘raça e classe’, pensar num projeto para a prefeitura de São Paulo significa também apresentar propostas contra os patrões, o governo federal e todos aqueles que lucram, e muito, com o racismo”. Depois de dar vários exemplos da violência (psíquica, moral e física, muitas vezes fatal) e humilhações que um jovem negro pode enfrentar no dia-a-dia numa cidade como São Paulo, o dirigente da Oposição Alternativa da Apeoesp destacou os principais pontos discutidos pelo grupo: “uma campanha contra a violência racista e a exigência de punição exemplar de todos que se envolvam nestes episódios, executores e mandantes, a defesa de ‘reparações’ para o povo negro, em forma, por exemplo, de cotas para a educação e serviço público (inclusive para as empresas prestem serviços para a prefeitura) e colocar a candidatura e o mandato a serviço da luta pela retirada das tropas de ocupação do Haiti”.