Estação do metrô em horário de 'pico'

Falha no metrô de São Paulo revela, mais uma vez, o sufoco ao qual a população é submetida todos os dias

Mais uma vez, a população trabalhadora de São Paulo foi lançada ao caos do transporte público. No último dia 4, terça-feira, uma pane nas portas de um trem na Linha 3-Vermelha (Palmeiras-Barra Funda/ Corinthians-Itaquera), provocou enormes transtornos e paralisou o funcionamento do sistema por mais de seis horas e o fechamento de 10 estações. Os trens envolvidos tiveram o ar condicionado desligado junto com o sistema elétrico. Nestes trens, não há janelas e com o calor desses dias gerou uma situação insuportável para quem estava preso nos vagões. A pane levou o acionamento de botões de emergência dos trens, o desembarque de passageiros nos trilhos e a revolta tomou conta das estações.  

De quem é a culpa?
O governador Geraldo Alckmin e seu secretário de Estado de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, na maior “cara de pau”, culpam a população pelo caos instalado. Seria cômico se não fosse trágico. Em inúmeras declarações, Alckmin afirmou que “não acredita que essa reação (calor, aperto, indignação, revolta) tenha sido uma geração espontânea”, chamando os milhares que andaram pelas vias de vândalos.

O Sindicato dos Metroviários de São Paulo comprova as várias denúncias ao Ministério Público e alertas feitos à Empresa sobre a saturação do sistema, a má qualidade dos trens reformados, as várias falhas que especialmente a frota K apresenta (o trem K07 é o mesmo que descarrilou no ano passado), entre outras. O Sindicato tem alertado que a população e os trabalhadores do metrô estão expostos a um sistema inseguro e que, a qualquer momento, pode ocasionar um acidente mais grave. É uma tragédia anunciada.

O grande culpado por toda essa situação é o governo do PSDB. Ao longo de 20 anos de governo tucano no Estado de São Paulo, se operou um grande esquema de corrupção e desvio de dinheiro público para as multinacionais envolvidas no cartel, como Siemens, Alston e CAF. Esta última foi a responsável pela reforma dos trens da frota K, os mesmos que tiveram a pane e, pasmem, a reforma de um trem chega a custar até 85% do valor de um novo! 

Na CPTM não é diferente. A famosa “modernização” da frota de trens também é feita por empresas envolvidas nesse mesmo esquema de corrupção, o famoso “propinoduto”. E, diga-se de passagem, na CPTM tem pane todos os dias, talvez não tão noticiadas.

A verdade é que o dinheiro público que deveria ser investido na melhoria e ampliação das linhas de metrô e trens da CPTM está indo parar no bolso da alta cúpula dos sucessivos governos do PSDB e de megaempresários internacionais. Muito diferente do que Geraldo Alckmin diz, os verdadeiros sabotadores do metrô é o próprio governo do PSDB! 

Para Alckmin, caos no metrô também é caso de polícia
Depois de reprimir violentamente as mobilizações de junho passado, reprimir os “rolêzinhos”, atirar com arma de fogo em Fabrício, jovem trabalhador que andava sozinho na rua após manifestação do último dia 25 de janeiro, a polícia de Alckmin entrou novamente em ação, dessa vez dentro das estações de metrô. Mas não para ajudar a resolver o problema da população que não tinha como voltar para casa e sim para jogar gás de pimenta sobre a multidão de trabalhadores, contribuindo em muito para a sensação de sufocamento.

Como se não bastasse a violência e desrespeito com que é tratado o trabalhador todo dia no transporte público, em especial as mulheres que sofrem com assédio sexual nos trens lotados, como se não bastasse chamar os usuários de vândalos, o governo ainda criminaliza a população. Foi aberto um inquérito na Polícia Civil de São Paulo para investigar o comportamento das pessoas dentro dos trens e estações do metrô no último dia 4. Jurandir Fernandez também declarou que já existe uma Comissão de Segurança “em contato com organizações internacionais” para planejar como impedir a entrada de “possíveis vândalos” no metrô.

Provavelmente, essa “Comissão de Segurança” deve começar a agir na Copa do Mundo, totalmente em consonância com as Leis da Copa do governo federal do PT que visam enquadrar como terroristas ativistas e movimentos sociais. A ironia é que isso ocorre no mesmo ano que se completam 50 anos do Golpe Cívico – Militar no Brasil.

PPP tucana: Propinoduto, Polícia e Privatização!
O governo do PSDB em São Paulo foi o primeiro a implementar o projeto de PPP (Parceria Público Privada), criado no mandato de Lula/PT. Foi na Linha 4 – Amarela do metrô, onde no mesmo dia 4 também ocorreu uma pane elétrica motivada pelo “apagão” que atingiu todo o país. Várias estações ficaram fechadas e pararam de funcionar por mais de uma hora, causando da mesma maneira grandes transtornos à população. A linha privatizada é a campeã em falhas. É a mesma linha onde os trens funcionam sem operador, fundamentais para evitar maiores acidentes. É a linha mais insegura do metrô de São Paulo. Se o sistema falha, não existe funcionários para atuarem.

Na Linha 5 – Lilás, o governo privatizou a obra de expansão da linha para se conectar com as demais, e o resultado é um atraso de anos. Até agora, o governo não conseguiu inaugurar nenhuma estação!

Além de gerar um serviço de pior qualidade para a população, é através da privatização que corre solta a corrupção e o desvio de dinheiro público para empresas privadas. Quem investe é o governo e quem lucra é o empresário.

E a Copa nessa história toda?
Na coletiva de imprensa realizada pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo no dia seguinte do ocorrido, uma jornalista perguntou: “Mas e a Copa, está ameaçada?”.

Pois é! A tão falada Linha 3 Vermelha é a que liga ao estádio “Itaquerão”. Os governos estão tão preocupados em agradar a FIFA e as empreiteiras, construindo estádios super luxuosos, que se esqueceram de pensar como anda o transporte, a saúde, a educação e a moradia. Além disso, o dinheiro público que está indo pra copa, ao contrário do que os governos falam, não é para investir na infraestrutura das cidades e nem para melhorar as condições do transporte por exemplo,  mas  para construir “estádios padrão FIFA”. E, mais uma vez, por responsabilidade do governo, São Paulo pode parar! 

Será que o PT faz diferente?
Além de ano de Copa, é ano de eleições. O PT dirige o país hoje e é oposição ao PSDB no estado de São Paulo, mas, infelizmente, não vem fazendo muito diferente. Para garantir a copa que a FIFA quer, privatizou portos, aeroportos e também está privatizando os metrôs da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), em Belo Horizonte e Fortaleza. Recentemente, fez a maior entrega de Petróleo “da história desse país”, através do Leilão de Libra, vendendo a “preço de banana” uma das maiores riquezas nacionais. Também é o governo do PT, no poder há 12 anos, que escolheu cortar investimentos em transporte, saúde e educação, e que já enterrou na preparação da copa R$ 8 bilhões até dezembro de 2013.

O PSTU faz oposição sistemática ao PSDB, partido representante direto dos patrões, defendemos o Fora Alckmin em São Paulo. No entanto, não achamos que o PT seja alternativa ao projeto privatista do PSDB simplesmente pelo fato de que, infelizmente, no governo federal faz o mesmo. Neste momento, o PT também dirige a prefeitura da capital do estado e, depois de ter se aliado à Maluf para vencer as eleições, tentou aumentar a passagem e não atende às reivindicações das ruas como passe-livre, educação, moradia, creches públicas, saúde e tantas outras. A prefeitura também teve sua parcela de responsabilidade no caos que ficou a cidade nesse dia 4. O PAESE (Plano de apoio entre empresas em situação de emergência) não foi ativado pela prefeitura, o que poderia ter ajudado uma parcela grande da população a voltar para casa. Sem alternativa, milhares de trabalhadores se dirigiram até o terminal de ônibus Parque Dom Pedro que igualmente se transformou em um caos. Diante dessa situação, é difícil esquecer do recente corte de linhas de ônibus feito por Haddad.

Nessas eleições, frente a polarização PT x PSDB, o PSTU vai apresentar uma alternativa e, através da pré-candidatura de Zé Maria à Presidência, faz um chamado aos companheiros do PSOL, do PCB, aos movimentos sociais e ativistas para construirmos uma Frente de Esquerda Socialista e apresentarmos uma alternativa dos trabalhadores também nas eleições.

A tarifa não aumentou, mas o sufoco continua! Qual a saída?
O povo foi à luta em junho e derrotou o aumento da tarifa. Mas, como dizíamos nas ruas, não é só por 20 centavos. Na verdade, a passagem continua cara, o aperto e o tempo que gastamos pegando condução só aumenta, a saúde continua um caos, as pessoas continuam morrendo sem atendimento, a educação continua ruim, continuamos sem creche para nossos filhos, o povo continua sem ter casa, o ritmo de trabalho continua estafante, os trabalhadores terceirizados continuam sem direitos mínimos, a juventude pobre e negra continua sendo morta pela polícia nas periferias e o Feliciano continua onde está!

Temos muitos motivos para continuar lutando, fazendo greves e passeatas. O Sindicato dos Metroviários e a CSP-Conlutas chamam um ato para o próximo dia 13, quinta-feira. Nos somamos a este ato e vamos trabalhar para que seja um primeiro passo para os trabalhadores retomarem as ruas! Vamos dar uma resposta a este governo que quer jogar o trabalhador do metrô contra a população e vice-versa. A luta da população e do metroviário é uma só, em defesa do transporte público  e de todos os serviços públicos de qualidade!

A vitória ao derrubar o aumento da tarifa trouxe outra ainda mais importante. O povo aprendeu o caminho da luta. Para o PSTU é preciso organizar a classe trabalhadora e sua juventude para voltar às ruas. A Copa vai acontecer, mas não vai ser a grande festa que os governos querem. Na copa vai ter muita luta, aliás, antes da copa já tem luta. É preciso unificar a população e os metroviários, todas as categorias que estão preparando suas campanhas salariais, os trabalhadores das ocupações urbanas, os sem-teto, os sem-terra, a juventude da periferia, a juventude que luta pela educação pública pra todos, as mulheres, negros e lgbt´s que lutam contra toda forma de opressão. Enfim, toda a nossa classe que estará de fora dos estádios para construir uma grande arquibancada na rua que torça de fato pelo Brasil, lutando por seus direitos, serviços públicos de qualidade e para acabar com todas as injustiças dessa sociedade capitalista baseada na exploração de muitos e no lucro de poucos. Para nós do PSTU, essa luta aponta a estratégia de construir outra sociedade, justa e igualitária, uma sociedade socialista!

*Altino Prazeres é presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo e da direção nacional da CSP-Conlutas. Marisa Santos é da Secretaria de Mulheres do Sindicatos do Metroviários e candidata à vereadora nas últimas eleições pelo PSTU.