Os bombeiros do estado do Rio de Janeiro vivem hoje uma situação absurda. Apesar de serem trabalhadores muito respeitados pela população, recebem um dos menores salários do país, R$ 986. Há meses eles vêm tentando negociar com o governo, reivindicando um piso salarial de R$ 2 mil, vale-transporte, fim da política de gratificações e melhores condições de trabalho, mas só vinham recebendo negativas. Por isso, desde abril, decidiram dar visibilidade à sua luta, realizando manifestações pela cidade com a participação de milhares de bombeiros. Num desses atos, no dia 17 de maio, em que os oficiais médios começaram a aderir ao movimento, seis líderes foram presos, inclusive um dos principais, o cabo Benevenuto Dacciolo.

Negociações e passeata
Vendo o crescimento da mobilização da categoria, o governo soltou os presos e marcou uma reunião de negociação. No encontro, ocorrido em 25 de maio, foi elaborado um cronograma de negociação, que tinha como prazo limite o dia 2 de junho. No dia 1º, uma representação dos bombeiros, juntamente com Cyro Garcia, da CSP-Conlutas e presidente do PSTU no estado, compareceu a uma audiência com a Secretaria Geral da Presidência da República, em que foram colocadas as reivindicações desses profissionais.

Na sexta-feira, 3 de junho, sem qualquer resposta do governo em relação às reivindicações, os bombeiros e seus familiares realizaram uma manifestação em frente à Assembleia Legislativa com cerca de seis mil pessoas e seguiram em passeata até o quartel central, onde fizeram uma assembleia. Decidiram então ocupar o quartel para forçar uma negociação com o comandante da corporação.

Repressão
O que se seguiu foi um show de covardia. O comandante do Corpo de Bombeiros se negou a negociar. Os bombeiros, por sua vez, disseram que não negociariam com a PM, e sim com o comando de sua corporação. O governo, na figura do comandante da PM, Mário Sérgio Duarte, ordenou a invasão no quartel pelo Bope (já que um setor da polícia tinha se recusado a fazê-lo), que entrou atirando com arma de fogo, jogando bombas de gás lacrimogêneo e usando spray de pimenta, sem se importar com os civis e crianças que lá estavam. Após longa negociação, os bombeiros aprovaram a rendição como tropa (ou seja, uma rendição coletiva), e então 439 deles foram presos. Uma esposa perdeu o filho (aborto indesejado), e os policiais que comandavam a operação se negaram a providenciar uma ambulância. Os presos foram para o quartel central da PM, depois para a Corregedoria, onde ficaram por mais de 16 horas sem alimentação, sem roupa de frio e sem a menor condição de higiene.

Até o fechamento desta edição, os profissionais do Corpo de Bombeiros estavam em greve, acampados na porta da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), exigindo, além de reivindicações salariais e melhores condições de trabalho, a libertação imediata dos 439 companheiros, sem nenhuma punição.

Solidariedade entre os trabalhadores
Desde o início do movimento, a CSP-Conlutas tem apoiado a luta dos bombeiros, fazendo cartas à população, convocatórias nos quartéis, adesivos, cartas de apoio, além de assistência jurídica aos presos, até a visita de Cyro Garcia ao quartel do Humaitá. Entendendo que a luta dos trabalhadores é a mesma, os bombeiros levaram sua solidariedade aos 13 perseguidos políticos que foram presos no ato contra Obama, por meio da presença do cabo Fausto de Paula, no ato realizado na ABI (Associação Brasileira de Imprensa) em 19 de maio.

Não é a primeira vez que Sérgio Cabral trata como criminosos aqueles que lutam pelos seus direitos. Foi assim com os profissionais de educação em 2009, que receberam bombas em sua manifestação; foi assim com as vítimas do Morro do Bumba, onde até crianças foram alvo do spray de pimenta; foi assim com os manifestantes contra a visita de Obama, em que a polícia prendeu 13 pessoas, em sua maioria militantes do PSTU, e as manteve em presídios.

A luta dos bombeiros continua, com cada vez mais apoio da população. Basta ver a pesquisa da Folha de S. Paulo que afirma que 85% da população apoia essa luta. Por isso, hoje a população carioca foi chamada a demonstrar seu apoio, usando roupas vermelhas e colocando bandeiras vermelhas em suas janelas como sinal de protesto.
Somos todos bombeiros!

-Libertação imediata dos 439 presos!
-Negociação já, com atendimento de todas as reivindicações!
-Nenhuma punição aos bombeiros!

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