Manifestação na Avenida Paulista
Foto: Sérgio Koei

O verde-amarelo tomou conta das ruas nos protestos brasileiros. Em todas as passeatas, os gritos de “sou brasileiro, com muito orgulho e muito amor”, o canto exaltado do Hino Nacional e o rosto pintado com as cores da bandeira marcaram forte presença, lembrando o magnífico movimento do “Fora Collor” do início da década de 90.

Esse sentimento de identidade e unidade, de um povo que sofre junto à roubalheira dos políticos, o aumento das passagens de ônibus, a inflação, a educação e a saúde precárias, que está endividado e não aguenta mais a demagogia do governo. É a expressão de que estamos unidos, que esse governo não representa nossos valores porque somos trabalhadores honestos e ganhamos a vida com suor, que defendemos nosso país contra tudo que está aí: os governos, a corrupção, a polícia, a inflação, a pobreza e a Copa. 

O governo do PT, a direita e seus partidos tradicionais como o PSDB e o PMDB, por meio da Rede Globo e outros canais de comunicação, querem transformar o verde-amarelo da indignação numa festa do futebol e da paz, dissolvendo a unidade dos protestos na unidade da torcida pela seleção de futebol, encobrindo a repressão da polícia e chamando os manifestantes de “vândalos”.

Para isso, utilizam o patriotismo como ideologia a serviço de seus interesses, aproveitando o repúdio do povo aos políticos e às instituições, obra da qual eles são os verdadeiros responsáveis. Fazem isso defendendo que o povo deve levantar apenas a bandeira do Brasil e cantar o Hino Nacional, apregoando um nacionalismo difuso e sem objetivos claros. Assim, esvaziam o conteúdo e as reivindicações do povo para depois afirmarem que as manifestações não tem objetividade.

Mas afinal, o que é ser nacionalista ou patriota hoje?
Levantar a bandeira do Brasil nas passeatas e cantar o Hino Nacional pode ser uma demonstração de indignação, mas também pode fazer o jogo dos políticos corruptos e da mídia corrompida.  A pergunta crucial é: defender a pátria contra quem? Nós temos a opinião que os principais inimigos do país são os governos e as empresas imperialistas que financiam suas campanhas eleitorais e mandam na política do Brasil. São os banqueiros e empresários, principalmente das multinacionais estrangeiras, os governos europeus, japonês e norte-americano e uma parcela menor de burgueses brasileiros, como Eike Batista, quem são os reais inimigos da nação.

Devemos levantar faixas e bandeiras contra os “yankees”, contra Obama e a chanceler alemã Angela Merkel, contra o McDonald’s e a Coca-Cola, contra os leilões da Petrobrás e a privatização dos aeroportos, pela reestatização da Vale, da Embraer e de outras empresas privatizadas a preço de banana na época do governo de FHC.

Federação das Indústrias de São Paulo estilizada com bandeira do Brasil durante os protestos na Avenida Paulista

O patriotismo pode ser perigoso se cair nas mãos da direita
Sem levantar as bandeiras de soberania nacional, o patriotismo só pode servir à direita política e seus partidos tradicionais. Se o povo brasileiro marcha nas ruas contra o imperialismo e por direitos, consegue atingir todos os governos e partidos que defendem o sistema, pois todos são financiados por este mesmo imperialismo. Mesmo o PT, que durante muitos anos se posicionou contra ele. Obama disse recentemente, num encontro entre os dois presidentes, que Lula é “O cara” e temos certeza que diria que Dilma é “A” mulher.  

Agora, se os protestos vão perdendo seu caráter contestatório e plural, e o verde-amarelo engole as reivindicações, só serve para desgastar este governo e substituí-lo por outro semelhante, além de fazer o jogo da Globo com a Copa. Isso só serviria à direita, que quer retomar a presidência nas próximas eleições com Aécio Neves, Marina Silva, Joaquim Barbosa ou Eduardo Campos. Na verdade, o que temos assistido nas últimas passeatas é essa mesma direita insuflando o nacionalismo do povo para esconder as reivindicações reais da luta. Como sempre, buscam aproveitar-se dos brasileiros para seus objetivos sujos.

Na onda do nacionalismo e por meio de um movimento que somente nega o governo do PT, a direita se aproveita indiretamente dos protestos porque acredita que, nas próximas eleições, vai usar deste desgaste para voltar ao poder. Deste modo, a direita não levanta suas bandeiras nos protestos, de maneira oportunista, porque sabe que serão rasgadas pelo ódio da população. Ela está aguardando para levantá-la nas próximas eleições, esperando que o povo desista das ruas e volte para a televisão. É quando o patriotismo ou nacionalismo servem a seu interesse.

A saída é verde, amarela e vermelha
O PT confundiu a cabeça do povo difundindo a imagem de que a esquerda é corrupta e capitalista. Por isso é comum ouvir nos protestos que esquerda e direita é tudo igual, que temos que levantar a bandeira do Brasil e esquecer a dos partidos. 

É um passo importante do povo a conclusão de que o PT e a direita (PSDB, PMDB, DEM, etc) sejam farinha do mesmo saco. Nós, do PSTU, passamos os dez anos do governo petista dizendo isso, mas alijados dos grandes meios de comunicação, enfrentando um boicote consciente da mídia e uma legislação eleitoral injusta, só conseguimos atingir uma pequena parcela da população.

Essa confusão de achar que todo partido, ou mesmo que todo político é igual, mesmo que seja de esquerda, acontece porque o povo não conhece a esquerda revolucionária. O PSTU é desse tipo de esquerda que defende uma revolução social do povo, diferente do PT, que defende os banqueiros e empresários contra o povo. 

Defendemos o verde-amarelo sim, mas achamos que, por trás dessas cores, devem estar as reivindicações da classe trabalhadora do país, e estas reivindicações somente a esquerda revolucionária defende bem. Nós não somos o PT, somos da esquerda revolucionária, dos mais radicais defensores dos direitos da população. Queremos o fim do sistema capitalista e sua substituição pelo socialismo.

Achamos que a bandeira do Brasil sendo hasteada sozinha, sem outras bandeiras, representa apenas a frase que os políticos corruptos sempre repetiram desde o período da escravidão: “Ordem e Progresso”. Isso sempre significou ordem para os pobres e progresso para os ricos. 

Para que essa bandeira signifique transporte, educação e saúde gratuitos e de qualidade, fim da roubalheira, fim da repressão policial e soberania nacional, precisamos acrescentar o vermelho revolucionário ao verde-amarelo. O Brasil precisa de uma saída e ela está à esquerda, com reivindicações objetivas que comecem na revogação do aumento das passagens de ônibus até a soberania do nosso país, com os trabalhadores nas ruas junto aos estudantes e rumo ao socialismo.