Existe uma enorme distância entre o que se passa nas ruas, no chão das fábricas, nas salas de aula e as discussões que acontecem no Congresso Nacional. Os grandes partidos não expressam a enorme desconfiança da população em relação aos “políticos”. O repúdio a Severino Cavalcanti estende-se a todos os deputados e senadores, do PT ao PSDB, vistos, corretamente, como parte de “tudo que está aí”.

Qualquer um que converse com um desses parlamentares, perceberá, porém, que eles vivem em outra realidade, parece, até mesmo, que em outro país. Giram ao redor das pequenas e grandes negociatas do Parlamento, das manobras do dia-a-dia para aumentar seus salários enquanto vai aumentando a distância em relação ao povo. Severino Cavalcanti, depois de ser vaiado pela multidão no ato de 1º de Maio da Força Sindical, disse que foi “muito aplaudido”.

Com a maioria dos dirigentes sindicais da CUT e Força Sindical acontece o mesmo. Na base desses novos pelegos, vai crescendo uma desconfiança enorme por seus acordos com os patrões, por sua cumplicidade com o governo e por suas manobras para se perpetuar nos sindicatos. Agora, por exemplo, pouco a pouco vai se esclarecendo o conteúdo da reforma Sindical preparada por esses superpelegos com o governo e a patronal, que pretende acabar com toda voz discordante nos sindicatos e com direitos históricos dos trabalhadores.

O clima na base é, cada vez mais, de desconfiança com esses pelegos, assim como com deputados e senadores. Mas eles também vivem em outro mundo, falam outra língua. Luís Marinho, por exemplo, ao falar no 1o de Maio da CUT para centenas de milhares de pessoas que tinham ido ouvir os artistas pagos por empresários e banqueiros, disse que “ali estavam os que queriam lutar”.

No mesmo discurso, Marinho fez um ataque desequilibrado à Conlutas e ao PSTU, em função dos resultados da eleição dos metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem. Para Marinho, o resultado demonstra que a Conlutas não tem futuro.

Como se sabe, duas chapas concorreram: uma que aglutinava várias correntes do PT e o PCdoB, apoiada pela CUT, pelos patrões metalúrgicos e pelo governo federal e municipal do PT, que venceu com 57% dos votos; e outra formada por dirigentes sindicais ligados à Conlutas, que compuseram uma chapa de oposição ao governo e à maioria da diretoria, e em uma campanha pela base, enfrentando a nada santa aliança de patrões, pelegos e governo, conseguiu 47% dos votos. Ou seja, mesmo contra tudo e contra todos conseguiu um importante peso na base da categoria. Só quem não quer ver isso tiraria conclusões como a de Marinho.

Parlamentares e pelegos sabem o que se passa na base. Severino sabe que foi vaiado e Marinho sabe que a CUT promoveu no 1o de Maio uma festa paga por capitalistas. Mentem para disfarçar o repúdio que vai crescendo contra eles.

A esquerda da CUT e do PT não deveria fazer o mesmo jogo de disfarces. Os grupos de esquerda, que vão ao Encontro Nacional do PT “disputar” a presidência deste partido, sabem que estão indo a uma batalha perdida, num encontro completamente burocratizado. Terminam por legitimar o controle da Articulação sobre o aparato petista. A explicação é simples: esses grupos também estão presos ao Parlamento, com seus deputados e vereadores, e também se distanciam cada vez mais do dia-a-dia dos trabalhadores.

Os grupos da esquerda da CUT estão fazendo a mesma coisa; estão indo à Plenária Nacional da CUT, nos dias 10 e 11 de maio, para “lutar” contra a reforma Sindical. Vendem à sua base a ilusão de que essa plenária pode rejeitar o projeto de reforma Sindical do governo e da direção da CUT, mesmo sabendo que isto não vai ocorrer. O motivo é o mesmo da esquerda petista: também são parte da burocracia da CUT, e se recusam a romper com a central governista. A conseqüência é que esses grupos também vão se distanciando cada vez mais das bases.

A CUT, quando nasceu, na década de 80, expressava o setor mais combativo dos trabalhadores, enfrentado os pelegos da época. Por vezes, as chapas da CUT perdiam as eleições sindicais, mas iam se construindo na base. O sentido é o mesmo hoje, mas ainda em um período preparatório, sem as grandes greves da década de 80.
A Conlutas vai crescendo pela base, nas lutas e nas eleições sindicais. Do outro lado, ficam os pelegos, os parlamentares e suas pequenas e grandes mentiras.

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 217
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