Boa parte do país acompanha as Olimpíadas, torcendo nas madrugadas. Espera-se uma redenção do futebol masculino brasileiro, a confirmação da superioridade no voleibol, grandes desempenhos no judô e na ginástica. Algumas vezes o esporte emociona ao mostrar exemplos de superação. Dores e alegrias vividas junto com bilhões de pessoas.

Mas o esporte serve também para mover bilhões de dólares e para tentativas de manipulação política. Os governos tentam mostrar os exemplos positivos para convencer que “todos” podem vencer desde que treinem (ou trabalhem) muito. O sucesso ou o fracasso dependeria somente da dedicação e do talento de cada um.

Lula estava na cerimônia de abertura das Olimpíadas na companhia de George Bush (presidente dos EUA), Nicolas Sarkozy (França) e do ditador chinês Hu Jintao. Cada um, a seu modo, busca capitalizar para si possíveis vitórias esportivas.

Mas o efeito político real desse tipo de manipulação é limitado. A experiência concreta das pessoas tende a superar essa ilusão passageira. O salário baixo, o ritmo de trabalho cansativo e a falta de perspectivas impõem seu preço de desesperança. O dia-a-dia de exploração e opressão não traz medalhas.

A crise que se avizinha
Não sabemos neste momento em que escrevemos os resultados mais esperados das Olimpíadas. Mas podemos prever com facilidade problemas políticos e econômicos que vão sacudir o país nos próximos meses.

A crise econômica internacional já se estendeu dos EUA para a Europa, com vários países já em recessão. A crise chegou ao Brasil sob a forma do aumento da inflação, que encarece em particular os alimentos. Agora se manifesta na queda da Bolsa, que já recuou aos níveis do início do ano.

Os capitais especulativos antes aplicados na Bolsa brasileira eram responsáveis por 35% do movimento das ações. Agora, com o início da crise nos EUA, esses capitais estão deixando o país para outros portos mais seguros.

Enganam-se os que acham que o Brasil ficará fora da crise. Os preços das matérias-primas, como o ferro, de cuja exportação o Brasil depende, já começaram a cair.

Ao contrário da visão fantasiosa de riqueza e modernidade apresentada na cerimônia de abertura das Olimpíadas, vêm por aí grandes crises. O mais provável é que essa seja uma crise de maiores proporções que a de 2000-2001. Para enfrentar isso, o capital precisa destruir forças produtivas, fechar empregos e causar demissões em massa.

A forma de combatê-la
Estamos num momento chave para que os trabalhadores se coloquem em movimento. O aumento dos preços dos alimentos começa a produzir uma insatisfação nas bases, uma radicalização política que se manifestou nos duros enfrentamentos que tivemos nas greves recentes da construção civil.

A proposta da Conlutas de unificação das campanhas salariais vai no caminho certo. É preciso que os ativistas envolvidos em cada uma das campanhas sintam que sua luta pode ser unificada com outras de igual importância.

Para conter o movimento, o governo teve de ceder uma vitória para os trabalhadores dos Correios. E contar com a colaboração da CUT pelega, mais uma vez, para evitar a greve dos petroleiros.

Essas lutas têm uma enorme importância. Cada uma das vitórias fortificará as barricadas dos trabalhadores para os enfrentamentos muito mais duros que virão com a crise econômica. Essas serão suas medalhas.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 349
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